Reeleita para o segundo mandato na Câmara Municipal de Salvador (com mais de 8 mil votos), a vereadora Ana Rita Tavares, que é advogada e auditora do Tribuna de Contas do Estado (licenciada), presidente da Frente Parlamentar em Defesa dos Animais, tem no currículo também uma luta incansável em defesa dos animais. Ela já invadiu circo, derrubou portas, invadiu casas, tirou os jegues da Lavagem do Bonfim e da Mudança do Garcia, e agora é uma das mais fiéis defensoras do fim das vaquejadas. Voz ativa da causa, ela tem colecionado adversários dentro do próprio movimento e é lembrada pela população sempre que um cachorro sofre maus-tratos. Foi autora do projeto que criou o Castramóvel e luta por uma Delegacia de proteção Animal, criação de um Hospital Veterinário Público e campanhas de vacinação antiviral em massa para os animais.
Nessa entrevista ela conta um pouco sobre sua participação no legislativo municipal e suas aventuras como protetora dos animais. (Chico Araújo)
Você foi uma das pioneiras da luta em defesa dos animais na Bahia, como vê hoje o movimento? O que avançou? Quais os principais avanços?
R: O Movimento humanitário pró-animal na Bahia está bastante fortalecido com nosso ingresso na política local, que, sem dúvida, repercute em todo o estado da Bahia e até no Brasil. O tema “Direitos dos Animais” passou a ter status institucional. O primeiro grande avanço foi trazer a questão da defesa dos animais para o debate político e social. A nossa representação no parlamento municipal provocou isso. O acolhimento das nossas proposições pelo Prefeito ACM Neto significou avanços importantes para o nosso Movimento: CASTRAMÓVEL (nosso projeto, o 001/2013, o primeiro apresentado na Casa, e por nosso mandato); as KOMBICHOS para uso das ONGs protetoras de animais; a inclusão das ongs ambientalistas e de proteção animal no Programa Nota Salvador; dentre outros tantos.
– Como ativista, você invadiu circo, proibiu jegues na lavagem, derrubou portões para salvar cachorros, abrigou centenas de animais… O que faz a pessoa se apegar tanto assim aos animais e qual seu objetivo nessa luta politicamente?
R: Rsrsrs. O coração de mãos dadas com a consciência! O coração provoca a consciência, e esta me convoca para agir em defesa deles, os animais, que considero dignos e merecedores de toda a proteção. Meu objetivo, politicamente falando, é o objetivo de todos os protetores que me elegeram: ver uma cidade mais sensível e proativa em defesa dos animais, com políticas públicas implantadas, no intuito de diminuir o sofrimento deles diante de melhores condições de vida que venham a ser criadas pelos Poderes Públicos e pela sociedade.
– Você é um a ativista da proteção a animais domésticos. Com relação aos animais selvagens e silvestres, você tem desenvolvido algum tipo de ação?
Defendo todos os animais. O que está dentro da competência do município é alvo dos projetos de lei e de indicação para o Executivo Municipal e autoridades da administração. O que está fora da competência legiferante de Salvador, apresento projetos de indicação (estado e União).
– Como vereadora, seu alcance de ação é restrito ao município, mas você é uma pessoa que tem ultrapassado fronteiras quando o assunto é a causa animal. O que pretende politicamente daqui para a frente?
R: Sim. Vou em defesa dos animais onde quer que exista agressão e injustiça sendo praticada contra eles. Sempre acho um tempo para encaixar um pedido de ajuda fora de Salvador, como ocorreu recentemente com a matança de jegues em Miguel Calmon; e em 2014, no município de Cansanção (extermínio criminoso de cães pela prefeitura); Cruz das Almas, onde o canil municipal deixou dezenas de cães apodrecendo vivos, sem assistência veterinária, alimentos e bem estar; em 2015, a ida à Brasília para enfrentar na CPI dos maus-tratos o oficial da PM que matou o cãozinho Apollo em Teixeira de Freitas…. São vários casos emblemáticos.
– Quais são as principais lideranças hoje da causa animal? Sabe-se que você tem um desafeto nessa área, como é a relação com os adversários políticos e como vai ser a convivência com a vereadora Marcelle Moraes, também representante da causa animal?
R: É um assunto que não quero mais tratar em debates na imprensa. Já estou processando ambos, para que eles se abstenham de falar do meu trabalho honrado e reconhecido pela população de Salvador, que me deu mais uma vitória, com a nossa reeleição recente (8.351 votos), sem comprar o eleitor, mas apenas com o histórico de cumprimento das promessas de campanha e muito trabalho em respeito à confiança dos meus eleitores.
– E o Hospital Público Veterinário, sai ou não sai?
R: Sai sim. Essa realização foi um dos nossos pedidos ao prefeito ACM Neto desde o nosso primeiro dia de mandato. Naquela ocasião, a Prefeitura estava sem recursos, exauridos pela administração anterior. Agora, com as contas em dia, acreditamos que o sonho de protetoras e protetores se tornará realidade. O nosso projeto de indicação, nº 03/13, foi aprovado pela Câmara logo no primeiro mês do nosso mandato, em janeiro de 2013.
Ter um Hospital Público Veterinário em Salvador não significa somente o bem estar dos animais, mas também a prevenção de zoonoses; cuidados com a saúde humana. Um Hospital prevê atendimento diário de 40 animais (1.120 animais/mês; 14.600 animais/ano), entre pequenos e de grande porte. O funcionamento estaria previsto para as segundas-feiras e aos domingo, contemplando todos os atendimentos clínicos gerais, especialidades, exames, tratamentos e intervenções cirúrgicas.
Além disso, o Hospital Público Veterinário funcionaria em regime 24 horas para internações, UTIs e casos de emergência. O hospital também contaria com uma unidade de resgate móvel (ambulância) tanto para os animais de pequeno quanto de grande porte.
– Recentemente, o STF declarou a inconstitucionalidade das vaquejadas. Mas sabemos que no Brasil, o desrespeito às leis e à Constituição é grande, sobretudo pela prática ser uma tradição no Nordeste e prefeitos e empresários do ramo vir a realizá-las às margens da lei. Como advogada, o que a senhora acha disso?
R: Deixo aqui um alerta aos prefeitos de cidades do interior que pretendem realizar vaquejadas em seus municípios. No dia 13 de novembro, a União de Entidades Protetoras dos Animais da Bahia (Unimais) vai realizar o 1º Fórum da proteção Animal Contra a vaquejada na Bahia. Estarei apoiando o evento que servirá para esclarecer quais os efeitos práticos da decisão tomada pelo STF, suas causas e efeitos, punições e inconstitucionalidades cometidas, tanto por organizadores do evento, quanto gestores públicos.
Na ocasião, serão reunidos representantes de 72 ONGs de proteção animal, que integram a Unimais, criada por mim em 2011, antes mesmo de me tornar vereadora. O objetivo é fazer um grande evento para fortalecer o nosso movimento de combate à realização de vaquejadas, alertando também os prefeitos para as consequências jurídicas que advirão para eles caso apoiem e fomentem essa coisa primitiva proibida pelo STF