Frustração! Foi uma decepção imensa ouvir da boca do papa Francisco que nunca, jamais e nem pensar (reiterando palavras de João Paulo II), as mulheres poderão vir a exercer as mesmas funções dos padres e ousarem almejar a evolução hierárquica dentro da Igreja Católica. Justamente ele, que vinha adotando uma postura, digamos, mais evolutiva, um tantinho liberal em relação aos seus pares, quedou-se, bateu na mureta e ali se encontra. Muro da intolerância e do machismo que rege a Igreja Católica. E assim fica difícil acreditar em seus dogmas, que fazem parecer, à luz da sabedoria, que são falácias.
Por atitudes assim retrógradas é que a Igreja Católica vem perdendo espaço para outras religiões ou mesmo sendo trocada por filosofias no mundo inteiro. Aqui no Brasil, um censo feito no final da década passada, já mostrava que a Igreja apresentava uma perda no número de católicos sem precedentes na História. A população católica ainda vem caindo e encolhe em números absolutos. O Censo mostrava em 2010 que mudaram de religião quase dois milhões de católicos. A Igreja estava perdendo àquele tempo mais de 460 fiéis por dia no Brasil.
O total de católicos diminuiu quase 1,5%, enquanto a população brasileira aumentou 12,3%. Se no ano 2000 tínhamos 125 milhões de católicos, em 2010 o Censo registrou 123 milhões. Se o ritmo foi mantido, dentro de 14 anos os católicos serão abaixo da metade da população. A religião católica já foi preferida por absolutos 95% da população.
Perde o catolicismo e ganham pujança os evangélicos e aumenta o número de brasileiros ateus, budistas e espíritas. O crescimento dos evangélicos é a maior causa da queda dos católicos, embora também tenham crescido os brasileiros que se declaram sem religião e os de religiões minoritárias, como o espiritismo. Os evangélicos já chegaram aos 50 milhões de fiéis mesmo com a pulverização das igrejas. E os evangélicos que são conservadores – com algumas igrejas cheirando a xiita – estão dando uma lição na velha, sisuda e engessada Santa Madre Igreja ao permitir que as mulheres sejam pastoras (o que seria semelhante ao padre). Em algumas igrejas, quase metade do corpo pastoral é feminina. É justamente este viés que vem ajudando no crescimento evangélico.
Interessante a posição do papa Francisco, pois dá parecer que ele realmente começou com um libertário e aos poucos foi cansando e assumindo as posições conservadoras dos seus pares, gradualmente. Em janeiro passado, ele disse numa publicação do jornal La Civiltà Cattolica, de Roma, que era imprescindível ampliar cada vez mais os espaços para a presença das mulheres no seio da Igreja Católica, por considerar que o chamado gênio feminino é essencial para tomada de decisões importantes. Pelo jeito, o que a Igreja Católica espera das mulheres é que continuem a separar e distribuir hóstias e cuidar dos seus bens materiais, lustrando breviários e turíbulos, lavando e passando os paramentos como se fossem donas de casa. Uma pena que Francisco – em suas entrevistas nos aviões – perde o bonde da História.
* Jolivaldo Freitas é jornalista e escritor
Publicado originalmente no Correio*