O mundo globalizado enfrenta uma grave crise de refugiados. De acordo com o Acnur (alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), 65,3 milhões de pessoas foram deslocadas por guerras e conflitos até o final de 2015. O jornalista e doutor em história social José Arbex Jr. acredita que grande parte da culpa por esse cenário trágico está nas mãos dos 28 maiores gigantes financeiros do mundo — grupos como Goldman Sachs, HSBC e Santander, que, somados, tiveram lucro de mais de 50 trilhões de dólares em 2012, enquanto o PIB mundial do mesmo ano foi de US$ 73 trilhões.
— Nós estamos hoje enfrentando o governo das grandes corporações, que eu prefiro chamar de superimperialismo.
Para Arbex, os interesses econômicos das grandes corporações nos minérios de países africanos é parte da causa dos conflitos que afligem a região, fazendo com que milhares de pessoas tenham que abandonar suas casas e migrar.
Ele lembra ainda que acordos transnacionais como o TPP (Acordo de Associação Transpacífico, na sigla em inglês) — que, de acordo com dados vazados pelo Wikileaks, possui uma cláusula que permite que empresas estrangeiras processem governos e revoguem leis que possam diminuir seus lucros nos países onde atuam — mostram que “o governo mundial já está acontecendo”.
— Essas condições criaram a crise de refugiados. Enquanto essa lógica permanecer, a crise vai aumentar.
Economia agressiva
Arbex deu as declarações nesta segunda-feira (17) durante palestra sobre a economia da Europa e sua relação com a crise de refugiados, que aconteceu no Campus Monte Alegre da PUC-SP. Também professor da instituição, o economista Ladislau Dowbor ponderou que o predomínio econômico das grandes corporações representa “a perda de controle” do sistema econômico.
— É um sistema sabonete. Você aperta uma corporação aqui, ela escapa para lá.
Dowbor lembra ainda que, de acordo com dados divulgados pela ONG de proteção ambiental WWF (World Wildlife Fund), a Terra perdeu metade de sua vida selvagem nos últimos 40 anos, em decorrência da intervenção humana. Para ele, “o vale-tudo econômico está destruindo o planeta”.
— Isso vai se refletir na qualidade da água, na desertificação, no drama ambiental e também no social. Estamos matando o planeta em função de uma minoria.
De acordo com um estudo recente do FMI (Fundo Monetário Internacional), o fluxo de refugiados que saem de seus países no norte da África e Oriente Médio e chegam à Europa vai gerar ganhos para a economia da região. A massa de deslocados deverá renovar força de trabalho e gerar um aumento no PIB (Produto Interno Bruto) do continente no curto prazo.
Esse efeito será ainda mais perceptível nos países que receberam os maiores contingentes de refugiados, como é o caso da Alemanha. Ainda assim, a política de acolhimento enfrenta resistência de parte da sociedade europeia. Nos últimos meses, a premiê alemã Angela Merkel tem enfrentado uma aguda perda de popularidade por sua posição favorável à entrada de imigrantes no país.
Para o jornalista José Arbex Jr., as medidas restritivas adotadas por países como a Hungria — que construiu uma cerca em suas fronteiras para impedir os refugiados de chegarem ao país —fez com que a Europa se tornasse “um continente entrecortado por arame farpado”.
Ele lembra ainda que as potências da região, como França e Reino Unido, foram responsáveis por medidas que fomentaram a desestabilização do Oriente Médio e do norte da África, com suas políticas colonizadoras e sua participação em conflitos como a Guerra do Iraque.
— O grande problema é a xenofobia. Colocar o estrangeiro como se ele fosse o culpado pela atual crise. Você vê gente na França aplaudindo a lei que proíbe o uso do véu islâmico na rua, mas não proíbe as freiras de usarem seus véus.
Também professor da PUC- SP, o doutor em ciências sociais Reginaldo Nasser lembra que, apesar de a situação dos refugiados na Europa receber a maior parte da atenção da mídia internacional, o maior fluxo de deslocados se localiza nos países vizinhos às nações em guerra.
— Atualmente, 25% da população do Líbano é composta por refugiados. O impacto da crise é muito mais significativo nesses locais.
Para o especialista, a questão do preconceito com os refugiados não se deve à sua religião, mas sim às condições de estrangeiros.
— Não tem islamofobia com xeiques árabes donos de mansões em Paris.
R7