O ex-integrante da Banda New Hit, condenado por estupro coletivo, tocou no trio de Igor Kannario, ma Barra, na sexta-feira (24)
A vereadora Marta Rodrigues (PT) repudia o fato de que, em pleno século XXI, quando a luta contra a cultura de estupro aumenta sistematicamente, um músico condenado pelo crime de estupro tenha desfilado, sido enaltecido e tido visibilidade positiva no Carnaval de Salvador em um trio elétrico com o apoio de um órgão público, no caso a Saltur, ligada a Prefeitura.
O condenado em questão é ex-integrante da banda New Hit e tocou, na última sexta-feira (24), no trio do músico e vereador Igor Kannario. Ele e mais nove ex-integrantes da banda foram condenados pela Justiça em 2015 a onze anos e oito meses de prisão pelo crime de estupro coletivo cometido em 2012 no interior do Estado. As vítimas, duas adolescentes, hoje vivem sob clausura no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes e precisaram mudar de estado.
“Soou como uma ofensa a todas nós mulheres. Vivenciamos no Brasil uma constante luta contra a cultura do estupro e o machismo estabelecidos na sociedade. A Saltur, ainda que não seja responsável pela contratação de músicos da banda do cantor Igor Kannário, não pode se eximir dessas questões. Órgãos públicos precisam reforçar a responsabilidade social, estarem atentos e fortalecer o respeito às causas dos coletivos sociais que prezem pelos direitos humanos”, afirma Marta.
Marta defende que toda pessoa condenada por um crime tenha direito de se reintegrar à sociedade, mas vê na presença do músico no carnaval de Salvador uma tentativa de naturalizar o crime de estupro. “Continuo sendo a favor de que condenados tenham direito a trabalhar se assim a Justiça permitir. Mas o destaque e a visibilidade positiva dado ao músico, que não se redimiu com a sociedade e com as vítimas em nenhum momento, parece querer naturalizar o estupro e vai de encontro a tudo que defendemos durante anos na construção de uma pauta contra o machismo que insiste em permanecer na sociedade”,reforça.
Para ela, houve um desrespeito com os coletivos sociais e feministas, responsáveis pela pressão popular para que os ex-integrantes da Banda New Hit fossem condenados pela Justiça em 2015. “O carnaval de Salvador atrai milhares de pessoas, há uma forte cultura do machismo impregnada na festa, muitos casos de violência contra as mulheres. É preciso ter bom senso. Inclusive, a campanha da Secretaria Estadual de Políticas para as Mulheres tem o lema “Respeite as Mina” e é toda voltada a combater o machismo e a cultura de estupro na sociedade”, pontua.