Embora vários estudos indiquem que o uso de maconha pode causar prejuízos à memória, à atenção e ao tempo de reação, cientistas têm encontrado dificuldades para avaliar esses danos a partir da observação direta de usuários. Para contornar o problema, um grupo de cientistas da Universidade de Chicago (Estados Unidos) desenvolveu o protótipo de um aplicativo que poderá ajudar os usuários a compreenderem, a partir de uma série de tarefas pelo celular, como o uso da droga os afeta. O protótipo do aplicativo, batizado de “Am I Stoned” (“Estou chapado?”, em tradução livre) foi apresentado nesta terça-feira (24), no encontro anual da Sociedade Americana de Farmacologia e Terapias Experimentais, em San Diego, nos Estados Unidos. De acordo com o grupo de cientistas, liderado pela doutoranda Elisa Pabon, da Universidade de Chicago, a iniciativa tem um duplo objetivo: esclarecer aos usuários os danos causados pela maconha e reunir uma grande quantidade de dados científicos sobre os impactos da erva. “Um dos objetivos de longo prazo do aplicativo é aumentar a segurança do uso de maconha, fazendo com que os usuários fiquem mais conscientes de seus danos. Coletando dados diretamente a partir dos usuários, o aplicativo também contribuirá para aumentar o conhecimento científico sobre os impactos da cannabis nos usuários”, disse Elisa. Os cientistas pediram a 24 usuários saudáveis de cannabis que eles tomassem uma cápsula contendo um placebo ou contendo de 7,5 a 15 miligramas de tetrahidrocanabinol (THC), que é o princípio ativo da maconha. Inicialmente, nem os participantes nem os cientistas sabiam quem havia recebido o placebo ou o THC. Em seguida, os participantes do estudo executaram diversas tarefas padronizadas baseadas em computador que já eram utilizadas para avaliar danos, além de outras tarefas com base em smartphones, que podiam ser utilizadas para avaliações fora do laboratório. Em uma das tarefas, por exemplo, dois botões aparecem na tela do celular por 20 segundos e o usuário deve utilizar dois dedos da mesma mão para apertá-los alternadamente o mais rápido possível. Em outra das tarefas, uma sequência de nove florzinhas se acendem em ordem aleatória e o usuário deve tocar nelas na ordem em que se acenderam. Em um teste de tempo de reação, o usuário deve sacudir o celular no momento em que um ponto azul aparece no meio da tela. Os pesquisadores conseguiram detectar com sucesso os danos causados pelo THC com o uso de três das quatro tarefas realizadas em computador e com uma das tarefas realizadas no celular. Segundo Elisa, as tarefas agora serão adaptadas para que o aplicativo possa ser utilizado integralmente no celular. O estudo também mostrou que os usuários, em geral, estavam conscientes dos danos. “Os efeitos do THC no desempenho podem ser sutis e, por isso, precisávamos de tarefas com sensibilidade suficiente para detectar os danos. É provável que as tarefas em computador, cuja execução levava de 15 a 20 minutos, tenham sido mais sensíveis aos danos do THC, porque elas forneciam mais oportunidades para detectar o efeito da droga”, disse Elisa. Embora o protótipo não tenha o objetivo de avaliar a capacidade de uma pessoa para dirigir ou realizar atividades que podem causar ferimentos, os cientistas planejam utilizar os resultados obtidos a partir dos testes para desenvolver um aplicativo que permita ao usuário avaliar seu próprio desempenho. Para isso, a pessoa deverá antes completar as tarefas sem ter feito uso de drogas, a fim de fornecer uma informação personalizada que possa ser utilizada depois para avaliar os danos do uso da maconha. Os pesquisadores planejam utilizar os dados obtidos por esse estudo para melhorar a sensibilidade das tarefas com base no celular na detecção dos danos induzidos pelo THC, para que o aplicativo possa ser desenvolvido com um ajuste mais adequado às situações reais.
Bahia Notícias