Cerca de 1 milhão de pessoas sofrem queimaduras todo ano no Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde. As principais vítimas são crianças e pessoas de baixa renda. Queimadura é toda lesão provocada pelo contato direto com alguma fonte de calor ou frio, produtos químicos, corrente elétrica, radiação ou mesmo alguns animais e plantas, como larvas, água-viva ou urtiga. No caso das crianças, se a queimadura atingir 10% do corpo, há risco de morte. Já em adultos, o risco existe se a área atingida for superior a 15%.
Segundo dados publicados na Revista Brasileira de Queimaduras, a maioria dos acidentes com crianças que ocorrem em ambientes domésticos são provocados por líquidos superaquecidos, principalmente água quente. Esse tipo de acidente é mais comum com crianças entre 1 e 2 anos. De acordo com o Corpo de Bombeiros, a melhor forma de evitar acidentes com fogão é dar preferência para o uso das bocas de trás. Caso seja necessário usar as da frente, é importante manter os cabos da panelas para trás, fora dos alcance das crianças.
O cirurgião plástico Luiz Philipe Molina, do Centro de Trauma do Hospital 9 de Julho, explica que, caso a queimadura aconteça, deve-se lavar a região machucada com água corrente em temperatura ambiente por vários minutos, até que a área seja resfriada. Depois, cobrir com um pano limpo, como uma toalha, e procurar um pronto-socorro. “Uma dica também é retirar o relógio, pulseiras e anéis, pois a região pode inchar e ficará difícil retirar depois”, destaca.
O especialista também alerta para o caso das queimaduras que criam bolhas. Furar essas bolhas em casa com uma agulha ou qualquer outro objeto é errado. O correto é procurar um profissional que vai avaliar e decidir o que fazer. “Tudo depende da extensão da área queimada e do tamanho das bolhas. Mas, no geral, elas são removidas por completo para evitar que infeccionem”, explica o cirurgião plástico.
Outra causa comum de queimaduras no ambiente doméstico são os produtos de limpeza. A dica é manter todos os potes fora do alcance das crianças. Esses produtos podem causar as chamadas queimaduras químicas. De acordo com Luiz Philipe Molina, estas queimaduras são diferentes, porque se o produto não for totalmente removido da pele, ele pode continuar queimando por muito tempo. “Quando acontece o contato da pele com este tipo de produto, é preciso, em primeiro lugar, lavar a região com muita água para retirar todo produto e depois procurar o pronto-socorro”, explica Molina.
O choque elétrico também pode causar queimaduras. Neste caso, o mais urgente é interromper o contato da pessoa com a fonte de energia, sem encostar nela – o ideal é desligar a chave geral. As instruções de primeiros socorros são as mesmas dos outros tipos de queimadura: resfriar a área e procurar uma emergência. Mas o especialista alerta que o choque elétrico exige um cuidado a mais. “Todo choque pode causar dano no coração tanto de adultos quanto de crianças e, por isso, requer cuidado. É fundamental ir ao pronto-socorro, mesmo que a situação não pareça grave”.
Para evitar choque elétrico, a primeira dica é o uso de protetores de tomadas e passa-fios. Eles impedem que fios elétricos fiquem expostos, ao alcance das mãos. Também é importante evitar manutenções caseiras no quadro de força da casa, isso é tarefa para um eletricista profissional. Queimaduras em fios de alta tensão também são muito graves e podem levar até mesmo a amputação de membros, por isso, não se deve tentar recuperar algo pendurado em postes.
Em qualquer tipo de queimadura, é importante não seguir as crenças populares que dizem para colocar pasta de dentes, manteiga, pó de café, clara de ovo, folha de bananeira, açúcar ou outros tipos de produto. “Além de piorar o local da lesão, estas substâncias podem agravar o quadro clínico do paciente, retardando o tratamento e a cicatrização”, explica o médico.
Quanto à gravidade, existem três tipos de queimadura. As de primeiro grau atingem somente a camada superficial da pele e podem ser identificadas por uma vermelhidão na área atingida. As de segundo grau são mais profundas, causam muita dor e apresentam bolhas de água sob a pele. As de terceiro grau atingem todas as camadas da pele, mas não causam muita dor, pois as terminações nervosas são destruídas, o que acaba com a sensibilidade da área atingida – a pele fica dura e seca e pode ficar tanto escurecida quanto esbranquiçada.
Em todos estes casos, é importante levar a vítima até um pronto-socorro, no atendimento especializado em traumas e queimaduras, onde as equipes poderão verificar a gravidade. “Mesmo pequenas lesões, podem ser graves, por exemplo, em palma de mão, pode levar a deformidade grave e permanente, ou ainda a inalação do calor ou fumaça, que pode queimar as vias aéreas e isso é muito grave”, alerta Luiz Philipe Molina.
R7