Dez países, apenas, são responsáveis por 74% do aumento de casos de sarampo no mundo. Com mais de 10 mil casos registrados, o Brasil está entre os três primeiros, atrás das Filipinas e da Ucrânia, líder com 30 mil casos no ano passado.
Os dados fazem parte de um estudo divulgado nesta quinta-feira (28) pela Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância).
Os demais países são Iêmen (6.641), Venezuela (4.916), Sérvia (4.355), Madagascar (4.307), Sudão (3.496), Tailândia (2.758) e França (2.269).
A agência da ONU ressalta que os “níveis alarmantes de sarampo no mundo estão sendo puxados por vários países que haviam sido declarados livres da doença”. Nesse quesito, o Brasil é o principal deles, com o maior número de casos, 10.262. O país havia recebido, em 2016, a certificação de eliminação da circulação do vírus da OMS (Organização Mundial da Saúde), que declarou a região das Américas livre do sarampo.
“Não importa como e por onde o vírus entrou no Brasil. Se começaram a haver casos no país, é porque a cobertura vacinal, principalmente das crianças, não estava boa”, afirma Cristina Albuquerque, Chefe de Saúde e HIV do Unicef no Brasil.
A reintrodução do vírus é atribuída ao surto da doença na Venezuela, que faz fronteira com o país, segundo a Ministério da Saúde.
Cobertura vacinal baixa em crianças é preocupação
Devido ao retorno da doença ao Brasil, o ministério fez, de agosto a setembro do ano passado, a Campanha Nacional de Vacinação contra o sarampo e a poliomielite. O público-alvo eram crianças entre 1 e 5 anos incompletos.
A campanha alcançou 98% da cobertura vacinal do público-alvo, no entanto, no grupo de 1 ano, a meta não foi atingida, ficando em 92% — o recomendado pela OMS é de no mínimo 95%.
A principal preocupação, segundo a Unicef, são ainda as crianças abaixo de 1 ano de idade que não são vacinadas — a não ser em casos de surto em que a idade para vacinação é reduzida para os 6 meses de idade, como ocorre em Roraima e no Amazonas. “Esses bebês são os mais vulneráveis, pois apresentam risco de desenvolver a doença em sua forma mais grave”, explica Cristina.
“De toda forma, o sarampo não é bom em nenhuma idade. Às vezes, passada a fase aguda da febre podem aparecer complicações muito graves, como pneumonia e encefalite”, completa.
A chefe de Saúde do Unicef ressalta que, além de bater a meta da cobertura vacinal na campanha, é preciso alcançar também a meta da cobertura vacinal de rotina. “Essa é a mais importante”, diz ela. “A campanha só acontece quando as coisas não estão indo bem na rotina, é como um recall. Tanto que em 2016, quando não haviam casos, não teve campanha”.
Segundo o Ministério da Saúde, os dados da cobertura de rotina referentes a 2018 ainda não foram fechados. Em 2017, essa cobertura foi de 85%, apenas. “Esse dado de 2017 já demonstra a fragilidade a que a população estava submetida”, diz.
Entre as causas da volta e do crescimento do sarampo no Brasil, Cristina assinala como hipóteses a percepção de pouco risco, inclusive por profissionais de saúde, devido à eficácia do programa nacional de imunização, o horário de funcionamento dos postos de saúde que coincide com o período em que as pessoas estão trabalhando, e às fake news em relação a vacinas, de maneira geral.
“O Brasil sempre teve um programa nacional de imunização muito forte, com um calendário de 19 vacinas gratuitas. É preciso fazer um estudo dos determinantes sociais e culturais dessa queda na procura por vacinas para que se possa entender melhor esse fenômeno”, afirma.
Brasil é líder na volta do sarampo
O número de casos em países que registraram a volta do sarampo no ano passado é bem inferior ao do Brasil, que ultrapassou os 10 mil, sendo 321 na Moldávia, 203 em Montenegro, 188 na Colômbia, 59 no Timor Leste, 38 no Peru, 23 no Chile e 17 no Uzbequistão.
De acordo com o levantamento, 98 países reportaram mais casos de sarampo em 2018 do que em 2017, o que impediu, segundo a Unicef, avanços contra uma doença de fácil prevenção – já que conta com a vacina tríplice viral, que também protege contra caxumba e rubéola –, mas com grande potencial de morte.
Os Estados Unidos estão entre esses países, onde o número de casos aumentou seis vezes nesse período, chegando a 791 registros. “Os surtos no mundo não estão ligados à pobreza. Houve surto, por exemplo, em Nova York e no Estado de Washington”, diz.
A Unicef descreve o sarampo como uma doença mais contagiosa que o ebola, a tuberculose e a gripe. “O vírus pode ser contraído até duas horas depois de a pessoa infectada ter saído do local. Ele é transmitido pelo ar e infecta o trato respiratório, podendo matar crianças malnutridas e bebês que ainda são muito novos para serem vacinados. Uma vez infectado, não há um tratamento específico para o sarampo, por isso a vacinação é uma ferramenta para salvar a vida das crianças”, afirmou por meio de nota.
Apenas três Estados brasileiros apresentam transmissão ativa do sarampo, segundo o último boletim epidemiológico da doença do Ministério da Saúde, de 14 de fevereiro: Amazonas, Roraima e Pará. No ano passado, haviam casos em todas as regiões do país.
R7