A empresária Nívea Sutter, dona da Animatutti, que atua com recreação para festas e eventos, viu 30 contratos de trabalho serem cancelados após a epidemia do coronavírus.
“Alguns clientes pediram o dinheiro de volta e, por ser uma empresa pequena, quase quebrei”, desabafa a empresária.
Empreendedora nata, Nívea decidiu inovar e criar sessões on-line de recreação infantil.
A atração virou um sucesso e Nívea vem mantendo a agenda da semana lotada. As sessões duram de 30 minutos, para crianças com até 4 anos, a 40 minutos, para crianças acima de 5 anos. A média paga por cliente é de R$ 20 a R$ 60 por sessão.
Em uma única vídeoconferência, é possível unir várias crianças em locais diferentes para participar. “Uma família pode reunir primos e amigos e todos participarem das brincadeiras.”
As sessões são feitas pela plataforma zoom e podem ser acessadas via computador, tablet ou celular. “Durante as atividades, eu crio desafios e promovo diversas brincadeiras com as crianças. É uma forma de transformar esse caos em boas lembranças e gastar a energia da criançada.”
Bruno Shibata, gerente de gestão estratégica do Sebrae-SP (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), afirma que a maioria dos micros e pequenos empresários está adaptando o negócio para manter suas atividades durante a crise.
“Eles estão investindo mais em canais de relacionamento com o cliente, principalmente nas redes sociais Whatsapp, Telegram, Facebook e Instagram, para conseguirem estar presente, mesmo a distância”, diz Shibata.
O gerente cita como exemplo o caso de uma ótica.
“Ela começou a aceitar o envio de receitas pelo WhatsApp ou e-mail. Assim, o cliente pode fazer o pedido dos seus óculos normalmente. A empresa também destaca que o produto é entregue totalmente higienizado. Ou seja, ela conseguiu manter sua atividade com uma mudança bem simples.”
Christopher Spikes, CEO da Authen, marca de roupas de corrida para mulheres, criou uma série de conteúdos educativos, como guias e aulas on-line, para manter suas clientes ativas durante a quarentena, já que elas não podem praticar o seu esporte preferido neste período: a corrida.
“Já tínhamos a plataforma para auxiliar os treinos de corrida de rua, que é o foco das nossas clientes. Adaptamos todo o conteúdo e apresentamos treinos para elas realizarem dentro de casa por conta do confinamento.”
Spikes destaca que o resultando vem sendo bastante positivo. As vendas on-line cresceram 100% em março em relação ao mesmo mês no ano passado. A iniciativa também está aproximando as clientes com a marca, segundo ele.
O empresário afirma que a pandemia do coronavírus, porém, vem afetando as vendas no varejo. “A Authen fornece roupas também para lojas esportivas e essas vendas estão paralisadas. Ainda bem que a comércio on-line está compensando essas perdas.”
O empresário Daniel Sanches, CEO da Qualylife, precisou mudar de forma rápida e radical a execução dos treinamentos que oferece para grandes companhias e, assim, manter a maioria dos seus contratos. Ele transformou os cursos presenciais em webinar.
“Já usávamos o webinar como complemento aos cursos que administramos para mantermos contato com os participantes e distribuirmos tarefas para a equipe. Com a crise, a plataforma virou nossa principal ferramenta e estratégia didática.”
Sanches diz que optou pelo webinar por ter semelhança com os treinamentos presenciais ao vivo. “Tem chat, vídeo e áudio e permite que os alunos façam perguntas e participem das aulas.”
O empresário ressalta que o momento exige empatia e as empresas precisam estar dispostas a permitir a flexibilização nos seus contratos para manter a atividade econômica.
Muitos clientes, segundo ele, aceitaram as adaptações por entenderem que o momento não permitia mantermos os treinamentos.
Para Sanches, as empresas precisam estar abertas e discutir alternativas para a execução dos contratos com seus fornecedores e não quebrar toda a cadeia. Flexibilizar contratos, negociar prazos, permitir a execução do trabalho no futuro são algumas formas de manter as empresas funcionando.”
Momento exige estratégia e criatividade
Dados divulgados pelo Sebrae-SP apontam que 98% das empresas do Brasil estão classificadas na categoria de micro e pequenos empreendimentos. Juntas, elas são responsáveis por 55% dos empregos do país. Em 2019, as micro e pequenas empresas foram as que mais geraram novas vagas de empregos.
Para Shibata, ainda é cedo para falar sobre o real impacto que o coronavírus trará aos pequenos negócios.
“O objetivo do governo e das entidades de fomento ao empreendedorismo, agora, é minimizar os danos.”
As primeiras medidas que os micro e pequenos empreendedores devem tomar, segundo Shibata, são:
– Fazer uma avaliação cuidadosa sobre seus gastos;
– Reduzir todos os gastos que são possíveis;
– Eliminar o desperdício;
– Tentar negociar todos os prazos;
– Negociar os preços com seus fornecedores;
– Apesar dos incentivos do governo e bancos de reduzir os juros do microcrédito, só recorrer a isso se realmente precisar e tiver condições de pagar no futuro;
– Negociar férias coletivas, redução de jornada e salário dos funcionários, caso seja necessário;
– Fazer compras mais fracionadas e manter um estoque menor;
– Buscar alternativas para manter o negócio funcionando. Seu negócio permite atendimento online? Se sim, invista.
– No ambiente online, encontrar uma plataforma segura para vender e investir na divulgação nas redes sociais;
– Pode incluir o delivery na sua operação? Se sim, intensifique a oferta de entregar o produto ou serviço em casa; e
– Divulgue para a população a importância de comprar dos pequenos negócios;
R7