O Brasil receberá uma nova remessa com 5,4 mil litros de insumo da CoronaVac na noite da próxima quarta-feira (3). Trata-se da matéria-prima usada para preparar a vacina, isto é, a sua substância fundamental, que é chamada de IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo).
“O IFA é responsável pelo efeito terapêutico da vacina ou do medicamento em questão. Sem ele você não tem vacina, você tem o placebo”, explica Luiz Carlos Dias, professor titular do Instituto de Química e membro da força-tarefa no combate à covid-19 da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Ele acrescenta que as vacinas contra a covid-19 possuem matérias-primas diferentes, como é o caso das duas que estão sendo usadas no Brasil. A CoronaVac tem como substância essencial o novo coronavírus inativado, ou seja, morto. Já o insumo do imunizante de Oxford é o adenovírus de chimpanzé recombinante, um vírus que foi enfraquecido e modificado com partes específicas do novo coronavírus.
Dias observa que o desenvolvimento de vacinas inativadas exigem laboratórios com alto nível de segurança para que o vírus não escape durante o processo de cultivo e inativação. Essa infraestrutura o Instituto Butantan, que assumirá a produção completa da CoronaVac no Brasil, já possui, segundo ele.
“Eles [produtores] cultivam o vírus nas células de rins de macaco, já disponíveis no mundo inteiro, ninguém mata o animal. Depois, é preciso matar o vírus, com calor ou algum reagente químico. Na CoronaVac, é usado o reagente beta-propiolactona”, descreve.
Ainda de acordo com o professor, além do IFA, toda vacina tem em sua composição água esterelizada – para dissolver todos os componentes utilizados – e adjuvantes, substâncias que aceleram e potencializam o efeito dos imunizantes. Outros ingredientes comuns são os conservantes, estabilizantes e antibióticos.
A CoronaVac, por exemplo, usa o hidróxido de alumínio como adjuvante e não contém antibióticos ou conservantes. Ela possui apenas estabilizantes: sais que servem para ajustar seu PH, impedindo que fique ácida, segundo Dias.
O acordo entre o Instituto Butantan e a biofarmacêutica chinesa Sinovac prevê a transferência de tecnologia para que o IFA possa ser produzido no Brasil, fator fundamental para que o país consiga imunizar sua população contra a covid-19 sem depender de outros países, como Índia e China.
O professor da Unicamp destaca, entretanto, que existe uma dependência estrutural no país em relação a matérias-primas compradas do exterior. “Hoje, apenas 5% dos insumos são produzidos aqui. A maior parte vem da China, cerca de 42%, e Índia, entre 27% e 30%”, afirma.
“Mas na década de 80 o Brasil produzia cerca de metade dos insumos que utilizava. E isso é uma questão de soberania nacional. Mas com a abertura de mercado no governo Collor ficou mais barato importar do que produzir. Falta uma política de Estado que incentive a pesquisa para a produção de insumos, se nós não mudarmos isso, vamos continuar totalmente dependentes”, finaliza.
R7