Capacitação gratuita do programa “Juntos contra o Melanoma” certificou cabeleireiros, manicures e podólogos para a identificação precoce desse tipo de câncer de pele que registra aumento de incidência
Cabeleireiros, manicures e podólogos foram capacitados para identificar lesões suspeitas para câncer de pele no couro cabeludo, pés e unhas. “Pintou dúvida? Sinalize!” foi o tema do curso gratuito do programa Juntos contra o Melanoma, do Grupo Brasileiro de Melanoma em parceria com a Clínica AMO. Dentro dos protocolos contra a Covid-19, o workshop com certificado foi realizado na noite desta segunda-feira (13), no auditório da AMO Medicina Diagnóstica, com transmissão ao vivo. As aulas podem ser revistas no Youtube: www.youtube.com/watch?v=NgppAiO_7FY
“O melanoma é o tumor que mais aumenta a incidência, numa razão de 4% ao ano. Estimava-se que em 10 anos uma em cada 90 pessoas desenvolveria a doença nos Estados Unidos e a projeção foi ultrapassada, sendo uma em cada 75”, pontua o cirurgião oncológico Miguel Brandão, que fez a abertura do curso. O melanoma provoca metástase em qualquer órgão, podendo também atingir o feto em caso de pacientes grávidas. “Apesar de representar de 4% a 5% dos casos, é o tumor de pele que mais mata. Se descoberto precocemente, no entanto, em 95% dos casos a cirurgia pode ser curativa”, explica.
O cirurgião Miguel Brandão disse que o objetivo da capacitação é formar agentes multiplicadores para a prevenção e detecção precoce do câncer de pele, que este ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer, deve registrar mais de 185 mil novos casos no Brasil, sendo mais de 8,4 mil do tipo melanoma – mais grave e com maiores chances de metástase. O médico conta com entusiasmo que, após a primeira edição do programa Juntos contra o Melanoma em Salvador, em 2018, um paciente chegou ao consultório com melanoma no couro cabeludo a partir de uma lesão sinalizada pelo cabeleireiro.
Bob Marley x melanoma
Apesar da gravidade, uma pesquisa do Datafolha encomendada pela farmacêutica Bristol, em 2018, apontava que 78% dos brasileiros desconheciam o melanoma, causas, sintomas e riscos. “Pouca gente sabe que Bob Marley morreu por um melanoma na unha do pé, com metástases em outras parte do corpo, incluindo o cérebro”, esclarece. O médico ressalta que os negros também desenvolvem melanoma, mas, muitas vezes, o diagnóstico é tardio por falta de informação.
Ao reforçar a importância do sol no aumento de incidência do câncer do tipo melanoma, Miguel Brandão fez um alerta: “Uma projeção publicada em abril aponta que em 2030 o melanoma será o terceiro tipo de câncer mais comum e, em 2040, vai passar também o câncer de pulmão, sendo o segundo, atrás apenas do câncer de mama”.
A dermatologista Laryssa Faiçal fez um alerta sobre o perigo do melanoma palmo-plantar (palma das mãos e planta dos pés) e ungueal (embaixo da unha). A médica fez questão de frisar que qualquer pessoa, incluindo os mais jovens, pode ter melanoma em qualquer parte do corpo e que passa de 1.500 o número de mortes anuais por este tipo de câncer no Brasil. Históricos familiar e pessoal são fatores de risco que precisam ser considerados, além de exigirem maior atenção pessoas de olhos e cabelos claros e com pintas pelo corpo (nevos).
A médica orientou para a observação das lesões a partir da regra ABCDE (assimetria, borda, cor, diâmetro e evolução) como sugestivas para a malignidade. “É fundamental diagnosticar o melanoma fino, mais superficial, pois o avançado atinge a corrente sanguínea e os vasos linfáticos, podendo produzir metástases nos linfonodos, fígados, pulmões e cérebro”, explica. Nos casos iniciais, apenas a cirurgia pode ser suficiente para remover o tumor. Em estágio avançado, o tratamento é complexo e depende de cirurgias de maior porte, quimioterapia, terapia alvo, imunoterapia e radioterapia.
A importância do auto-exame com regularidade e a observação atenta do cabeleireiro foram destacadas pela dermatologista Gal Leto. “Uma pesquisa feita num hospital nos Estados Unidos avaliou 128 pacientes com melanoma e mostrou que em 10% dos casos a sinalização foi feita por cabeleireiros, sendo a maioria dos casos descoberta no início”, disse, reafirmando que os profissionais participantes do curso integram uma importante rede de detecção precoce.
A dermatologista ressalta ainda que nem todas as lesões no couro cabeludo são indicativas de melanoma, mas é importante a sinalização e a avaliação do dermatologista, pois uma pinta pode progredir para um câncer de pele. “Sem entrar em pânico e sem deixar o cliente em pânico, é necessário saber se a pessoa já tem conhecimento daquela lesão, se percebeu alguma alteração na forma ou na cor, por exemplo, e indicar a ida ao dermatologista”, orienta. A importância do uso do dermatoscópio pelo médico dermatologista foi outro ponto destacado. “O aparelho aumenta de dez a vinte vezes a visualização da lesão e permite a observação das cores e da estrutura, permitindo o diagnó