Desde o rompimento de Bolsonaro com o PSL, 7.739 pessoas seguiram a orientação dada pelo titular do Palácio do Alvorada e deixaram a sigla. Em média, foram 66 desfiliações por dia.
O plano, agora, é tirar do papel o Aliança pelo Brasil. Membro da cúpula do partido, Nunes afirma que existem mais de 500 mil assinaturas – o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), no entanto, aponta a existência de 66 mil nomes. São necessárias, no mínimo, 492 mil rubricas.
Por causa da baixa efetividade de assinaturas junto ao TSE, Nunes admite que o “Aliança pelo Brasil está totalmente fora das eleições municipais” e prevê a participação do partido apenas na corrida presidencial de 2022.
Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista com Bibo Nunes:
O senhor é bolsonarista e irá migrar para o Aliança pelo Brasil. Qual o motivo da briga com o PSL? O senhor se arrepende de ter se filiado ao PSL?
— Me arrepender, não. Mas eu conheci o real PSL. E todos erram. Eu acreditava que era uma coisa, como os demais, e era outra. Eu que comecei essa briga, sozinha, em julho de 2019. Fiquei quatro meses suspenso, fui o primeiro a ser suspenso, e depois foram outros. Essa briga minha com o PSL já vem de tempo, mas agora, estamos até meio acalmados, faz tempo que não tem essa briga. A gente está num período armistício.
O PSL, desde o rompimento com Bolsonaro, perdeu cerca de 66 filiações por dia. O partido morreu?
— Morreu não porque se tornou muito grande, tem muito dinheiro. Ele não morreu, mas se apequenou bastante e a tendência é ser um partido pequeno, não nanico como era, mas pequeno. Até porque vai continuar com 25 deputados federais e muita estrutura financeira. E tem muita gente que pratica velha política e o dinheiro é o que vai na política. Eu abri mão do fundo eleitoral, partidário, ofereci até meu salário, porque política não se faz com base em dinheiro. E o PSL gosta muito do dinheiro. E nós, do Aliança, seremos o partido mais pobre do Brasil.
As confusões, tensões e brigas internas que ocorreram no PSL podem ocorrer no Aliança?
— Não, não pode mesmo. Tanto é que o PSL qualquer um chegava no computador e se filiava. Não vai ter isso no Aliança. Teremos compliance, questão da ética, as pessoas serão selecionadas. Todos passarão por uma seleção, se não é mais do mesmo e não tem sentido nenhum. Temos que nos preocupar com qualidade de filiado e quantidade de eleitorado.
Durante o final de semana, o senhor publicou no Twitter que o Aliança pelo Brasil já tem mais de 500 milhões de fichas assinadas. Depois, apagou. Qual o motivo?
— O número estava errado. São 500 mil assinaturas e foi por isso que eu apaguei. Não tem nem população para isso (risos).
E de onde vem a informação de que são 500 mil assinaturas?
— Essa informação vem do partido. Eu sou da cúpula do Aliança. Conheço o que está acontecendo.
O TSE diz, no entanto, que não é verdade esse número. O órgão aponta o total de 66.252 assinaturas.
— É muito simples. Nós recolhemos as fichas, mas não foram enviadas.
Qual o motivo de não terem sido enviadas?
— A média de enviar uma ficha para o TSE é de 10 a 15 minutos no computador. É bem complicado, não é fácil. Nós não temos essa estrutura toda. Posso ter 1 milhão de fichas assinadas, mas isso não quer dizer que a ficha tenha sido reconhecida no cartório. O processo burocrático é muito longo.
E tem alguma previsão de data limite para cadastrar as fichas?
— Estamos colocando diariamente, mas não temos data limite, até porque o Aliança está totalmente fora das eleições municipais. Não tem a menor chance. Nós vamos participar das eleições de 2022. Vimos que tinha muita burocracia e não tinha como. Se fosse só pegar 500 mil assinaturas, seria em uma semana, mas não é assim que funciona.
Diante desse cenário, qual será a estratégia do Aliança para as eleições municipais desse ano, já que sabemos que as eleições municipais são muito importantes para estruturar um projeto político, para formar a base, a capilaridade?
— O Aliança não vai participar das eleições municipais e estamos sugerindo para quem é dos nossos que escolha um partido que tenha afinidade conosco.
E que partido é esse?
— O Patriota, por exemplo.
O Aliança pelo Brasil então irá apoiar a candidatura do Arthur do Val, recém filiado ao Patriota, à Prefeitura de São Paulo?
— Não, não, não. Não estou dizendo isso. Aí é problema dele. O presidente Bolsonaro disse que não vai apoiar ninguém. Cada um escolhe o seu partido. Não podemos mandar a pessoa para tal partido. Simplesmente cada um vai escolher seu partido e, depois, se puder, vem para o Aliança.
Qual é a diferença do Aliança em relação ao PSL, partido pelo qual o senhor e o presidente foram eleitos?
— A maior diferença… eu não estou querendo brigar mais, eu que comecei essa briga. Enfim, a maior diferença é que o PSL é um partido que gosta de dinheiro e tem dinheiro, o Aliança será um partido que tem votos e gosta do Brasil.
Como explicar ao eleitor necessidade da fundação de um novo partido em tão pouco tempo após a eleição?
— O PSL não tinha transparência, não consultava os deputados, teve uma reunião só com parlamentares que apoiavam o (Luciano) Bivar, enfim.
O Congresso volta do recesso na próxima segunda e a reforma tributária é tratada como prioridade. O senhor, como membro, acredita que as manifestações, marcada para o próximo mês, possam atrasar as reformas?
— Atrapalhar acredito que não, mas pode mudar o pensamento de alguns deputados. A pressão popular das ruas funciona muito – e muitas pessoas podem mudar sua maneira de pensar ouvindo o clamor das ruas.
Qual é o clamor das ruas?
— Como a reforma da Previdência, se não fosse o clamor das ruas, não seria aprovada. A população é respeitada e ninguém tem mais povo na rua do que Bolsonaro. É só ir para as ruas que você vê. Todo mundo vai por amor a causa, e não ganhando mortadela.
O senhor endossa as manifestações? Mesmo sendo parte de um poder que é atacado por essas manifestações?
— Tem que analisar bem. A do dia 15, o meu posicionamento é a favor do Bolsonaro. Eu vou para a rua a favor do Bolsonaro.
E sobre a manifestação contra o Congresso?
— Sou totalmente contra a pessoa que diz que é para fechar o Congresso. Essa pauta por mim não passa. Eu sou do Congresso, mas a maioria da população não gosta do Congresso.
Qual o motivo?
— Pela imagem que o Congresso tem. E eu como novo parlamentar tenho a obrigação de mudar essa imagem. Não posso negar que a imagem não é boa, mas vou lutar para mudar isso.
O senhor tem um projeto de lei (6446/19) que obriga GPS a informar usuário sobre locais perigosos.
— Esse projeto tem milhares… tem que ir para o regime de urgência, tem que pegar assinatura dos líderes para ir em votação, enfim, é um projeto que eu quero acelerar logo. É interessante porque todo mundo hoje usa o GPS. Não vejo o motivo de não avisar que são áreas perigosas. Isso contribui para a segurança do cidadão.
De certa forma, determinados lugares que forem reconhecidos como perigosos não podem sofrer discriminação?
— Se eles forem perigosos, paciência. Não dá para enganar a população e falar que não. Por exemplo, a linha vermelha do Rio de Janeiro é perigosa. Como que vai ocultar isso da população? Não tem como.
Quem vai fazer esse mapeamento?
— As forças de segurança. Polícia, por exemplo. Órgãos que sabem onde é área perigosa. Eles têm obrigação de avisar a população. Como um turista vai chegar num lugar, não tem a menor noção, e fica lá? O GPS tem que avisar se é uma área perigosa. E aí vai atualizando, caso uma área não seja mais reconhecida como perigosa.
Outro projeto do senhor (6382/19) determina que o agente público condenado criminalmente fique sujeito à perda de todos os direitos decorrentes do cargo. O projeto vista atingir determinas pessoas?
— Não. Não visa atingir pessoas. Eu olho a floresta e não a árvore.
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