Com o aumento do tempo em casa por causa do Covid-19, o número de pessoas buscando exercícios online aumentou em 45%, de acordo com o Google Trends. Aproveitando a tendência, alguns influencers digitais e personalidades conhecidas decidiram publicar os seus treinos nas redes sociais.
O problema é que, de acordo com o educador físico, fisioterapeuta e professor do curso de Educação Física da UniFTC, João Marcos Passos, esses vídeos online contrariam o princípio da “individualidade biológica”, que faz toda diferença na segurança e eficácia dos exercícios físicos.
“A diferença de você fazer uma atividade prescrita por um profissional é que a gente entra com um conceito chamado ‘individualidade biológica’. Não é uma receita de bolo. O exercício que é bom para A não é necessariamente bom para B”, explicou o educador.
Esse princípio funciona baseado no entendimento de que cada pessoa reage de uma maneira a um mesmo estímulo e, por isso, é necessário fazer adaptações específicas. “Toda prescrição tem uma metodologia. Qualquer exercício é feito diferente, pensando em peso e repetições”, ressaltou João.
Durante esse aumento de postagens nas redes, alguns influencers foram denunciados pelo Conselho de Educação Física sobre o exercício ilegal da profissão. “Quando assistimos vídeos com uma pessoa que não passou pela área acadêmica e não passou pela biologia e fisiologia, os treinos são feitos de forma aleatória. Essas atividades podem gerar lesões a quem assiste”, alertou o educador físico.
De acordo com o professor, não é possível fugir do fato que os blogueiros conseguem atingir um grupo maior de pessoas, mas que é preciso ter responsabilidade. “Vender o corpo não é vender saúde. A personalidade que tem o corpo malhado vende a rotina que funciona pra ela, mas muita gente que assiste não tem o preparo físico para fazer aqueles exercícios e pensa ‘se ele conseguiu, também posso’.”
Ainda de acordo com João, o risco de lesões por sobrecarga ou por excesso de exercício físico é algo comum. “O educador físico só pode prescrever tendo um parâmetro. Como trabalhar com prescrição de corrida ou caminhada, ou dizer qual a distância, se eu não conheço você? Sem uma avaliação não tem como”, relata o professor.
Em relação aos aplicativos de exercício online, o educador afirma que eles são compostos por uma programação padrão e não caracterizam o indivíduo como um ser biológico e único. Para ele, o primeiro passo de um exercício é fazer uma avaliação e o segundo é uma interpretação com outros profissionais, dando uma atenção ao cliente em geral, o que não é possível por aplicativos ou vídeos com influencers.
João aponta que essa situação com as redes sociais não é positiva: “A mídia consegue engolir os profissionais da educação física, dando espaço a outras pessoas mesmo sem preparação. O próprio conselho da profissão já está reportando.” Esse foi o caso da atriz Claudia Raia, que foi denunciada por exercício ilegal da profissão por causa de um vídeo publicado no Instagram
De acordo com o educador, a solução é a conscientização de quem procura esses exercícios e de quem promove: “O importante é que as pessoas percebam que nem sempre quem está mostrando o exercício está apto para isso. A pessoa pode ter credibilidade no meio artístico, mas não tem como profissional de educação física”, finaliza.
Bahia Notícias