Gosto de ficção científica. Achava, no entanto, que acompanharia os primeiros contatos imediatos de terceiro grau com ETs evoluídos que nos dariam lições sobre a importância de manter a saúde do planeta; e que mostrariam à raça humana a real razão da sobrevivência, o quinto elemento, o alimento que dá vida…
Numa segunda hipótese, tinha medo de um terceiro conflito mundial, que envolvesse interesses diferentes de dominação do planeta; o capitalismo selvagem contra o comunismo feroz, ou o enfrentamento direto contra radicais do Oriente Médio, apossados das tecnologias que desenvolveram bombas atômicas, daquelas que matam milhões, como só o totalitarismo é capaz de fazer.
Talvez a terceira hipótese na minha cabeça de menino fã do Túnel do Tempo e Perdidos no Espaço, a última de todas as possibilidades de interação mundial em torno de um único assunto seria o de uma pandemia, das mesmas que vi em filmes que falavam de epidemias mundias, capazes de dizimar e reformular a humanidade e suas relações.
Apesar de toda tecnologia, possível de enviar máquinas a outros planetas e sistemas solares; capaz de desvendar mistérios de milhões de anos; de colocar o mundo todo em uma rede de comunicação, onde um “ai” pode ser ouvido/lido em milésimos de segundos do outro lado do planeta, ou na outra ponta da plana terra, como querem terraplanistas; apesar de tudo e de todos os prêmios Nobel, caímos direto dentro de um filme de ficção, to tipo que esvazia ruas de grandes metrópoles e as deixa, inclusive, simpáticas a animais silvestres, como em “Eu sou a lenda”. Saramago já tinha antecipado em “Ensaio sobre a cegueira” a possibilidade de isolamento total de pessoas contaminadas por vírus contra os quais não há cura.
Diante do isolamento e ouvindo os gritos de pais e crianças dentro de suas prisões/apartamentos, me pergunto se toda a ficção não tem algo de real. O imaginário invadiu nossa realidade, mas o homem… ah! o homem! Esse, esse continua preocupado com seu próprio umbigo. Não acredito em pessoas melhores após a passagem desse pesadelo; nem acredito em governantes preocupados com a saúde e vida dos mais pobres, dos mais humildes. Difícil para mim cair nesse conto da Carochinha mais uma vez. Não acredito em políticos melhores (alguns, talvez com bons propósitos). Em meio à toda essa crise, enxerguei até mesmo um outro filme de ficção, onde zumbis, tipo “The Walaking Dead” andam em bandos vestidos de verde e amarelo gritando palavras de ordem com pedidos de volta do inferno. Por pior que seja a democracia (e a nossa é muito ruim), ainda é o melhor dos sistemas, nos diria o líder extraterrestre no primeiro contato físico entre humanos e universos evoluídos distantes.
Não vou repetir “Eu falei faraó…”, nem ficar amassando minhas panelas só para imitar a Timbalada de Carlinhos Brown – já desisti há muito tempo de tocar percussão; talvez aplaudir profissionais que atuam direto nos fronts, diferente de políticos inescrupulosos que usam a pandemia para se auto-elogiarem, como narcisos a morrerem afogados contemplando suas próprias imagens bizarras.
O isolamento nos fará bem? Acredito que com um pouco de educação a vida estaria hoje próxima do normal. Mas boa educação passa distante da nossa realidade de país terceiromundista que se acha o último biscoito do pacote. A natureza tem dado demonstração de como o ser humano é o verdadeiro vírus do planeta e ameaça ser mais bela. A gasolina está mais barata. Mas, não quero, nem posso ir a lugar nenhum! O Ministério da Saúde acaba de me ligar, respondi… Apesar de você… Estou vivo!
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