Dias de isolamento, confinamento
Das janelas de apartamentos
Ouvem-se gritos de protesto
É um tal de Fora, Bolsonaro
Fora Lula e PT
Vivas à saúde, médicos, enfermeiros
E um monte de paranauê
Agora ressuscitaram
um clássico do samba-reggae
É um tal de “Eu falei faraóóó…”
cantado a plenos pulmões e de resposta
“Êêêê faraó…”
e tem arroubos de Bora Bahêa e até uns vai Vitória
Que para encobrir a tristeza da cidade
de dias sem rivalidade
sem futebol, sem dominó
sem bares, bate-perna em shoppings
… E das janelas, outros gritos, inaudíveis
Pelo fim da tomada três pinos,
Reajuste para o funcionalismo público
Já não aguento mais esses meninos…
juro que ouvi até um “Lá-Lá-lá Brizola”
Teria sido diferente.
Os gritos se esvaem, mas panelas continuam
tilintando.
Um amigo reclama, “não suporto mais meu vizinho”
De fato, ele toca sax, mas não passou da terceira lição
poderia estar na casa de papel, mas inventou tocar
o Bolero de Ravel a pleno pulmão.
Diz meu amigo… ele lá e eu cá!
todos fecham as janelas, Jaciara não reclama mais do ferry,
e tome maratona de séries.
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digasalvador@gmail.com