Considero Zé Ramalho como o último roqueiro raiz do País. Não que ele seja puro Rock n’roll, mas pela postura visionária, inconformada, poética sem ser piegas e também por ser um artista de palco, que não requer de grandes performances… Basta ser ele mesmo.
Já tinha algum tempo que não assistia show de Zé. Nesta sexta, vi um dos melhores shows dos últimos tempos, da última década, milênio. Para mim, claro, fã declarado desse paraibano sideral.
Pra começar, Zé quebrou a banca, cantou “O progresso”, de Roberto Carlos e pegou todo mundo de surpresa com a contemporaneidade do discurso: “Eu queria não ver tantas nuvens escuras nos ares; Navegar sem achar tantas manchas de óleo nos mares; E as baleias desaparecendo por falta de escrúpulos comerciais; Eu queria ser civilizado como os animais”.
Com o Nordeste invadido por óleo venezuelano vazado não se sabe de onde, um chute no saco dos incautos.
Zé Ramalho não precisou lançar um disco a cada ano, nem buscar incansavelmente manter-se nas paradas de sucesso, nem apelar para músicas mais comerciais. Ele é ele! Às vezes de fácil entendimento, noutras brincando com o nonsense.
Um show para os fãs que reconhecem sua batida no violão e cantam e entendem suas letras há três, quatro décadas.
Zé, ainda está em forma. Foi ao inferno e voltou para defender seu tom único, uma voz que nunca perdeu o regionalismo e que brinca entre o baião, o rock, o forró e melodias de amor como em “Sinônimos”. Impossível também não gritar a plenos pulmões: “Toca Raul, Zé”, já que juntamente com Marcelo Nova tem o direito e o dever de defender a obra de Raulzito e o fez no show com “Guitá” e “A maçã”. Sem contar nisso tudo com um jogo de luzes que só reforçou o discurso emblemático.
O melhor mesmo foi a overdose sonora com “Terceira Lâmina”, “Avohai”, “Admirável gado novo”, “Taxi driver”… e outras preciosidades que somente são sinceras na voz rouca desse paraibano setentão.
Obrigado, Zé, pela noite. Fica a dica!!!
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