A pandemia de covid-19 impediu Arminda Furtado de Oliveira, 72, de conhecer dois novos membros de sua família: o bisneto, de 8 meses, e o trineto, de 5 meses de vida. “Se tivesse carro, eu iria. Mas como tem que enfrentar ônibus, melhor não sair”, pondera.
“Para mim, a pior coisa foi ter que ficar enfurnada dentro de casa. Eu gosto de sair, de viajar. No ano retrasado, fui até para a Bahia”, conta.
O isolamento social precisa ser ainda mais rígido para Arminda, já que ela faz parte do grupo de risco da covid-19. No entanto, ela só vai ser contemplada na segunda fase do plano de vacinação contra a covid-19, conforme já foi comunicado pelo Ministério da Saúde.
Ela mora na Praia Grande, no litoral de São Paulo, junto com o marido, e diz que não se sente sozinha porque recebe mensagens todos os dias e faz chamadas de vídeo com outros membros da família, mas, mesmo assim, espera ansiosamente por uma vacina contra a doença causada pelo coronavírus.
As viagens e idas à academia foram trocadas pelo jogo de palavras cruzadas. Sair agora só para ir ao mercado e ao médico, sempre de máscara e levando álcool em gel na bolsa. Na manhã de ontem, Arminda também se permitiu caminhar na orla da praia. “No dia que dá na telha, eu vou”, resume.
“O Edu [marido] acaba de almoçar e dorme até 3, 4 da tarde. Eu fico aqui fazendo palavra cruzada. E dona de casa sempre tem alguma coisa para fazer”, descreve sobre a rotina na quarentena.
Para Alia Galhardo Fernandes, 64, a mudança trazida pelo isolamento imposto para frear a disseminação do novo coronavírus foi ainda mais brusca, já que ela é agitada e costumava aproveitar a vida noturna do bairro de Santana, na zona Norte da capital paulista, onde vive.
“A gente tem se sentido mal. Porque, na realidade, a gente quer sair, passear, mas só vai em mercado e farmácia. Então, a gente entra até em depressão se deixar”, desabafa.
“Eu ia no Charles [lanchonete], em bailes. Que eu sou viúva e tenho várias amigas, então eu saía sempre. A gente sente muita falta. Todos os dias tenho falado com elas por vídeo”, relata.
Ela confessa que também já foi visitá-las em casa, mas poucas vezes e sempre mantendo o distanciamento e usando máscara. Além disso, há um mês começou a caminhar todas as manhãs na avenida Braz Leme, que fica próxima ao seu apartamento.
“Depois eu cuido dos meus netos para a Priscilla [filha], que também mora aqui no prédio, trabalhar. Quando ela chega eu já volto para o meu apartamento, mas na realidade a gente acaba tendo contato, não tem jeito”, analisa.
Essa falta total de contato com os três filhos e cinco netos fez os meses de março e abril serem os mais sofridos para Alia durante a quarentena. “Fiquei sem ver ninguém, sem sair de casa, nem para fazer compra. Depois comecei a ir no mercado e na farmácia”, lembra.
O R7 entrou em contato com o Ministério da Saúde para saber quais foram os critérios utilizados na definição dos grupos prioritários para as quatro etapas que estão previstas na campanha de imunização, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.
A pediatra Isabella Ballalai, vice-presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações) afirma que é possível que os governos estaduais definam outros perfis para os grupos preferenciais e incluam, por exemplo, idosos abaixo dos 75 anos na primeira fase da campanha, mas é pouco provável que isso aconteça.
“O padrão no país é que o governo federal defina as regras. Agora se eles [governos estaduais] comprarem outras vacinas, de maneira idependente da União, eles podem determinar sim outros grupos preferenciais”, explica.
R7