O futuro está logo ali, mas na realidade já está acontecendo. É esta a conclusão a que se chega diante das projeções e análises dos especialistas que participaram da edição especial da série Diálogos FIEB, que marcou o Dia da Indústria, comemorado no dia 25 de maio, e discutiu As tendências que vão impactar a indústria no futuro.
Para o debate, a Federação das Indústrias do Estado da Bahia (FIEB) convidou os especialistas Shefic Khouri, vice-presidente da Faurecia Ford North America e Erick Sperandio, pesquisador e professor de Inteligência Artificial, High Performance Computing (HPC) e Modelagem Computacional do SENAI CIMATEC. A mediação foi do presidente do Conselho Inovação e Desenvolvimento Industrial (Cidin) da FIEB, José Luis Almeida.
Erick Sperandio fez uma contextualização do cenário e destacou que as tendências passam pelo processo de transformação digital e inteligência artificial, que foram acelerados pela pandemia. Segundo ele, a indústria do futuro será pautada pelos avanços científicos e tecnológicos, pela IOT (sigla em inglês para internet das coisas), pelo sensoriamento dos processos industriais, de gestão, financeiro e administrativo. Nenhum setor vai escapar.
“Outra grande tendência de futuro e que vai aumentar a capacidade da indústria de inovar e de se transformar é o uso do Big Data e do analytics para obter informação e conhecimento a partir de dados, gerando maior condição para que
as empresas possam e extrair o que há de melhor para o desenvolvimento de suas ações”, explica o professor.
Na avaliação de Sperandio, outra tecnologia ainda mais disruptiva e que tem trazido enormes avanços para a sociedade é a inteligência artificial. “Uma vez que você tem todos estes dados coletados, transformados, estruturados e disponibilizados com alto nível de desempenho e consegue manipulá-los rapidamente, com o auxílio também da supercomputação, teremos novas tendências e desafios”, destaca.
Ele acrescenta que hoje os especialistas passam muitas horas para fazer a análise destes dados e extrair inteligência. “Os padrões estão lá, latentes, trazendo diversas informações relevantes para o negócio estratégico para permitir este grande avanço tecnológico, gerando resultado”, sinaliza Erick Sperandio.
MOBILIDADE
O vice-presidente da Faurecia Ford North America, Shefic Khoury, complementou a análise apontando as grandes transformações na área de mobilidade e que terão impacto diretamente na indústria automotiva. “A tendência é uma indústria automobilística cada vez mais verde – pela necessidade do consumidor e pela legislação -, renovável e veículos movidos a eletricidade”, aponta.
Segundo ele, a eletrificação dos carros tem data para acontecer. Todas as montadoras estão se posicionando para deixarem de fabricar veículos com motores a combustão até 2030. “A mudança vai chegar para todo mundo, é uma necessidade do mercado, do meio ambiente e tecnológica das montadoras”, ressaltou Khoury.
Outras tendências, conforme sinalizou o vice-presidente da Faurecia Ford, vão no sentido de uma indústria automotiva mais customizada, com atualizações tecnológicas, serviços e acessórios que podem ser inseridos no veículo por download, a exemplo do que a Tesla já faz. Acessórios de entretenimento, em especial, com modelos mais interativos com o usuário, vão ganhar cada vez mais espaço, na avaliação do executivo.
O processo produtivo e o modelo de negócio da indústria automotiva também sofrerão mudanças definitivas. Khoury sinaliza que as montadoras caminham para um modelo que prevê a formação de joint ventures, visando à redução do custo global dos veículos. “No passado, cada montadora fazia seu sistema de câmbio e sua motorização, hoje isso já não cabe mais, o custo é muito alto”, pontua. As parcerias com empresas de tecnologia, a exemplo do Google, do Uber e outras, também faz parte das transformações que estão por vir.
A gestão de dados e a segurança cibernética também foram apontadas como dois dos principais desafios que a indústria tem pela frente. A segurança cibernética terá que ser aprimorada pelas empresas. Com a perspectiva de carros cada vez mais automatizados e também autônomos, por exemplo, os veículos vão precisar estar devidamente protegidos de um ataque de hackers.
COMPETÊNCIAS PARA O TRABALHO
O presidente do Cidin, José Luís Almeida, também provocou os convidados a traçarem perspectivas para o mundo do trabalho e os desafios para as pessoas que terão que se adaptar à nova realidade. Sperandio explicou que atualmente já existe um gap de demanda por pessoas capacitadas para trabalhar com tecnologia, face a um desenvolvimento tecnológico que caminha muito rápido, em ritmo exponencial, e um ritmo de formação de pessoas ainda linear.
“Há uma demanda aquecida, mas não temos como dar conta da demanda. O profissional do futuro precisa estar capacitado para trabalhar com as tecnologias e com Big Data. O parque industrial das empresas também terá que tentar trabalhar com uma cadeia logística de produção mais otimizada”, aponta.
A orientação dos especialistas é que as pessoas invistam em novas tecnologias. Quem não souber trabalhar com as tecnologias estarão fadados à obsolescência. A solução é se capacitar. Shefic Khoury sinaliza que as mudanças serão inevitáveis. “A mudança gera desconforto, mas temos que estar cada vez mais acostumados com isso. Ter problema será cada vez mais parte do dia a dia e isso abre alternativas. O profissional tem que ser flexível e estar aberto a mudanças”, alerta.
MUDANÇA DE MINDSET
Erick Sperandio lembra que nenhum setor vai escapar da inovação e do avanço tecnológico, do varejo à área de saúde. Ele lembra que, por mais que as coisas sejam muito disruptivas, as empresas não têm ainda o mindset para lidar com a tecnologia e vão precisar ser capazes de trabalhar com inovação, fazer prova de conceito/valor para avaliar o quanto aquilo vai ser ou não adequado para seu processo.
Na indústria automobilística a mudança passa pela transformação do veículo em objeto eletrônico. “O carro deixa de ser um sistema mecânico para se tornar uma estrutura mecânica carregando um computador, com inteligência artificial e plataformas de interface, gerando demanda para profissionais nesta área e que será crescente”, alerta.
Neste cenário temos nos dias de hoje 5000 caminhões autônomos que circulam na China fazendo entregas e o uso de carros autônomos pela Amazon, também operando com entregas. “Inevitavelmente algumas profissões serão substituídas pela tecnologia”, lembra Sperandio.
A avaliação de Shefic Khoury é de que estas tendências somente cheguem ao Brasil em um prazo de dez anos e isso, na avaliação dele, é uma oportunidade para que a indústria e as pessoas se preparem e se antecipem às mudanças.
O presidente Cidin, José Luis Almeida destacou que estamos vivendo um momento em que “a tecnologia avança rapidamente, o mindset da sociedade de uma forma lenta e tudo isso esbarra na legislação para normatizar estas mudanças”, se referindo especialmente à adoção do uso de carros autômatos de uma forma ampla pelos países.
PROGRAMAÇÃO DIA DA INDÚSTRIA
Além da live, no canal do Sistema FIEB no You Tube, para marcar o Dia da Indústria, a FIEB também elaborou uma publicação digital especial com conteúdos sobre a indústria na Bahia, que mostram a importância do setor para a economia do estado, aponta perspectivas e reúne cases de sucesso e depoimentos de parceiros do Sistema FIEB.
Em outra ação comemorativa, foi lançada a 8ª edição da Agenda Legislativa da Indústria, no dia 27 de maio, na Reunião de Diretoria da FIEB. O documento traz o posicionamento da indústria baiana sobre projetos de lei de interesse do setor em tramitação na Assembleia Legislativa, em temas como política urbana, infraestrutura e meio ambiente; social e trabalhista; tributário e econômico.