A circulação de influenza (gripe) e a possibilidade de transmissão sustentada do novo coronavírus aumentam a preocupação com a possibilidade de infecção por dois ou mais agentes infecciosos, principalmente, em ambientes hospitalares.
Um artigo de pesquisadores norte-americanos, publicado na revista científica PLOS ONE em 2016, ressalta que a “infecção simultânea do trato respiratório com pelo menos dois vírus é comum em pacientes hospitalizados, embora não esteja claro se essas infecções são mais ou menos graves que as infecções por um único vírus”.
De acordo com o artigo, vários vírus respiratórios são capazes de participar de infecções simultâneas, incluindo influenza e outros tipos de coronavírus.
“Sabe-se há muito tempo que infecções virais simultâneas exibem um fenômeno chamado interferência viral, em que um vírus bloqueia o crescimento de outro vírus.”
O infectologista Jean Gorinchteyn, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, afirma que “o fato de você já ter uma alteração por um dos vírus muda um pouquinho as defesas do trato respiratório, isso facilita a infecção não só por outros vírus, mas mesmo por bactérias”.
Gorinchteyn explica que diante de uma infecção por bactéria, é necessário o uso de antibióticos, que se não forem administrados, pode haver agravamento do quadro do paciente.
Segundo o médico a coinfecção em hospitais é um problema e por isso é importante o isolamento de pacientes com quadros respiratórios.
“O isolamento inclusive dos pacientes com influenza. Às vezes o paciente está internado com uma cólica renal e acaba se infectando por vírus respiratório.”
Um estudo conduzido por médicos chineses e publicado na revista científica The Lancet, em 30 de janeiro, analisou 99 pacientes internados com infecção pelo SARS-CoV2 em Wuhan, epicentro da epidemia. Quatro deles tinham coinfecção por fungos e um por bactéria.
“Alguns pacientes, especialmente os gravemente enfermos, tiveram co-infecções por bactérias e fungos. As culturas bacterianas comuns de pacientes com infecções secundárias incluíam A baumannii, K pneumoniae, A flavus, C glabrata e C albicans. […] Para infecções mistas graves, além dos fatores de virulência dos patógenos, o status imunológico do hospedeiro também é um dos fatores importantes. Velhice, obesidade e presença de comorbidade podem estar associadas ao aumento da mortalidade”, relataram os pesquisadores.
Um artigo publicado no periódico científico Journal of Infection, analisou quatro casos ocorridos durante a epidemia de MERS (síndrome respiratória do Oriente Médio) que apresentaram coinfecção. Os pacientes apresentaram contaminação por influenza e HIV.
O infectologista Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, explica que a presença de dois vírus não faz, necessariamente, que o caso seja mais grave, mas ele ressalta a importância da vacinação contra gripe.
“Caso tenhamos transmissão sustentada da covid-19 [doença causada pelo novo coronavírus], os sintomas clínicos são muito semelhantes. A vacina tem mais de 80% de eficácia e pode ajudar no diagnóstico. Se o paciente com os sintomas tomou vacina de influenza, esse pode ser um vírus descartado.”
A vacina para gripe muda todos os anos, sendo feita com base nas cepas que mais circularam no período, além disso ela tem validade de 12 anos. Por esse motivo é importante se vacinar todos os anos.
Ela protege contra o vírus influenza e não impede que a pessoa tenha resfriados causados por outros vírus respiratórios ou mesmo contra o coronavírus.
Segundo artigo publicado, em 19 de fevereiro, no site Genetic Engineering & Biotechnology News, escrito pelos especialistas Michael Oberholzer e Phill Febbo, é importante identificar quem está infectado e quais as coinfecções podem estar presentes.
“Devido às semelhanças entre o SARS-CoV2 e outros vírus, e devido ao potencial de coinfecção, as autoridades chinesas estão integrando o sequenciamento em pesquisas de diagnóstico de pacientes para confirmar casos positivos e detectar novas mutações”, afirmam no artigo.
A principal recomendação das autoridades de saúde brasileiras é de que apenas pessoas com sintomas respiratórios mais graves procurem os hospitais.
“Hospitais estão para atender a pacientes de emergência. Lá no hospital, os pacientes que estão no entorno são quase todos eles imunossuprimidos”, alertou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na semana passada.
“Deverão procurar o serviço de saúde aqueles que apresentarem algum desconforto respiratório. Febre que vai e volta, pode ser sinal de infecção bacteriana, procura atenção primária, que não é o pronto-socorro. Aumentou o número de respirações por minuto, começou a ter dificuldade para respirar, procure o serviço de saúde”, recomendou o infectologista David Uip, que chefia o centro de contingência do coronavírus no estado de São Paulo.
R7