O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) segue se consolidando como uma importante política pública e estratégia sustentável de combate à fome. Na modalidade Leite, desde o processo da ordenha, que começa bem cedinho, até o beneficiamento e a entrega às instituições Bahia afora, muitas pessoas e muita dedicação estão envolvidas. E é esse trabalho coletivo que tem garantido renda para quem produz e coloca comida na mesa de quem mais precisa.
O programa, que é executado na Bahia pelo Governo do Estado, através da Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS), com recursos do Ministério da Cidadania, em parceria com as prefeituras municipais, atingiu a marca de 5.279.275 milhões de litros distribuídos, entre bovino e caprino, num investimento de R$ 10,5 milhões, beneficiando diretamente 90 municípios, gerando renda para 949 produtores e alimento para 22.854 pessoas.
Os números apresentados pela Superintendência de Inclusão e Segurança Alimentar da SJDHDS representam o empenho do Governo do Estado em fortalecer a agricultura familiar e reduzir a vulnerabilidade com o combate à fome e à desnutrição infantil, e o PAA tem se mostrado uma estratégia ainda mais importante na redução dessas desigualdades, em meio à pandemia do novo coronavírus.
O PAA atua em duas frentes: na primeira, adquire o leite bovino e caprino de agricultores familiares, promovendo geração de renda e fortalecimento da cadeia produtiva. Na segunda ponta, o programa realiza a doação a pessoas que estão em situação de insegurança alimentar, atendidas pela rede socioassistencial, além de alunos das redes públicas de ensino dos municípios, prioritariamente de 02 a 07 anos.
Do campo para a mesa das pessoas
São 5 horas da manhã, o sol prestes a nascer, e os produtores rurais da Fazenda Coité, localizada a 10 km da sede do município de Biritinga, no Território do Sisal, já estão na ativa. A ordenha começa cedo e o produtor Érico Azevedo Estrela, juntamente a mais quatro trabalhadores, realizam o recolhimento do leite. Ele destaca a importância do programa para a garantia do equilíbrio econômico do município, principalmente na garantia de renda para os pequenos produtores.
“Faz 10 anos que temos essa parceria com o PAA e, ao longo desse tempo, o programa tem garantido sustentabilidade à produção. Seja a longo ou médio prazo, temos a possibilidade de escoamento, o que nos dá a oportunidade e uma estabilidade econômica. Sem dúvidas, o PAA deu espaço para que nós, pequenos produtores, possamos ter uma maior segurança na hora de produzir”, pontuou ele.
Assim como Érico, cerca de 40 produtores do município realizam o mesmo processo diariamente.
Do campo, o leite segue para mais uma etapa. A produção é transportada para um ponto de coleta. Em dois tanques de resfriamento, instalados na prefeitura, o leite é resfriado e medido, para manter a boa qualidade e conservação.
Em Biritinga, uma média de 700 a 1000 litros de leite são produzidos por dia. O superintendente de agricultura do município, Dênio Pedreira Lopes, explica a importância do PAA no fortalecimento da agricultura local.
“São 12 anos que o nosso município faz parte do PAA, o que representa garantia de que a produção será escoada, gerando renda para nossos pequenos produtores. Além disso, percebemos muitos avanços conquistados através do programa, que além de incentivar a produção, fomenta a qualificação. Exemplo disso é um dos produtores, que iniciou a produção com a gente, e após se engajar num programa de melhoramento genético, atualmente é uma referência nacional na cadeia leiteira e isso é muito importante para nós”, destacou Dênio.
Dos tanques de resfriamento, a produção, coletada dentro de três a quatro dias, é encaminhada para o processo de beneficiamento nos laticínios.
Responsável pelo Laticínio Atlanta, localizado em Feira de Santana, no Território Portal do Sertão, Manoel Azevedo Neto, explica um pouco sobre o processo de coleta e beneficiamento do leite.
“Fazemos o recolhimento do leite num caminhão tanque, a coleta é realizada dos tanques comunitários, onde os produtores levam o leite. Assim que o caminhão chega ao laticínio, o leite vai diretamente para um laboratório, para que seja feito o processo do controle de qualidade. Avaliamos se está tudo dentro dos padrões e iniciamos o processo de pasteurização”, explica Azevedo Neto.
Sobre os impactos do PAA, Manoel Azevedo reforça a importância do PAA no fortalecimento da cadeia leiteira na Bahia, o fomento à produção local e o incentivo a uma nova cultura e à melhora na qualidade de vida das pessoas.
“O PAA é bom para todos nós, tanto para quem produz até o beneficiário final. O programa garante o escoamento da produção de 140 pequenos produtores só em nossa região. Isso significa mais geração de emprego e renda e um impacto positivo na economia local. Além da melhor qualidade de vida, estamos falando também de um Programa que dá condições e recursos para que os produtores tenham uma nova cultura, que é investir no melhoramento genético do rebanho, em tecnologia e na assistência técnica, o que agrega valor e qualidade à produção”, pontuou ele.
Da fazenda para o resfriamento e medição, dos pontos de coleta para avaliação e beneficiamento, o leite segue enfim para seu destino final: a mesa das pessoas.
Uma das instituições beneficiadas do PAA é o Dispensário Santana, também localizada em Feira de Santana. A instituição atende pessoas em situação de vulnerabilidade há 37 anos com a realização de diversas ações e projetos, além da administração de uma creche e de uma Instituição de Longa Permanência para Idosos (ILPI).
A assistente social do Dispensário, Jusciete Silva do Nascimento, que iniciou seu trabalho na entidade há 34 anos como voluntária e como uma das co-fundadoras, destaca que o PAA tem um valor imensurável para as famílias atendidas.
“Costumo dizer que o leite que recebemos do PAA fertiliza aquele solo e nutre aquele chão. Recebemos uma quantidade que varia entre 180 a 300 litros por entrega, que acontece entre cinco e oito dias. Esse suporte do programa nos auxilia a matar a fome de muita gente”, explica.
No período da pandemia, o Dispensário suspendeu algumas atividades como a creche, mas Jusciete Silva, pontua que novas estratégias foram tomadas para garantir o atendimento às pessoas, principalmente pelo agravamento das situações de vulnerabilidade provocadas pela Covid-19.
“Em tempos normais a creche atende 110 crianças e com a necessidade de isolamento, precisamos reforçar os cuidados, mas também não podíamos deixar de atender as famílias, principalmente pelo fato de que a procura por alimento aumentou, por conta da crise que atravessamos. Montamos um esquema de distribuição para evitar aglomerações e garantir que o alimento e o leite cheguem. Mais de 1200 pessoas são beneficiadas e nós do Dispensário somos só gratidão por esse PAA que nos ajuda a cuidar de tanta gente”, finalizou.