Carolaine Ribeiro dos Santos
(Estudante de Jornalismo – Estácio-Ba)
O home office era um sonho distante para o trabalhador. A modalidade era cobiçada por quem costuma enfrentar horas de condução até o trabalho, rotinas estressantes e demandas exaustivas todos os dias. Poucas empresas permitiam essa possibilidade.
A pandemia provocada pelo Coronavírus pôs o mundo de cabeça para baixo e a chegada do vírus trouxe muita preocupação para as empresas e trabalhadores. O teletrabalho se tornou uma das principais maneiras de driblar os prejuízos e evitar a exposição dos trabalhadores a contaminação.
Um estudo feito pela Fundação Instituto de Administração (FIA) no segundo semestre de 2020 entrevistou 139 pequenas, médias e grandes empresas que atuam em todo o Brasil e 94% delas afirmaram que os resultados superaram as expectativas; 67% enfrentaram dificuldades de adaptação para aderir aos sistemas e 75% não pretendem manter o trabalho remoto pós pandemia.
Apesar disso, é impossível negar que o home office trouxe o aumento de produtividade, maior disponibilidade de atuação, flexibilidade de horários e maior dedicação as tarefas, além da redução de custos com aluguéis de imóveis, escritórios, prédios e com os próprios funcionários. O CEO da Agência de Marketing Forrest, Alysson Raia adotou trabalho remoto assim que os primeiros casos foram confirmados em Salvador.
“Inicialmente não desfizemos a mobília do escritório, pois imaginávamos que essa mudança seria de no máximo 30 dias. Só depois de 4 meses é que fizemos a desmobilização completa. Inicialmente, decidi planificar as tarefas de cada um e adotar um regime de sprint semanal. Quase a totalidade dos envolvidos acolheram os processos, com raras exceções. Portanto, posso dizer que a mudança foi até tranquila”.
Apesar da transição positiva, algumas etapas se tornaram mais lentas e por isso, foi preciso flexibilidade e paciência para entender o momento, e criar estratégias para continuar trabalhando. “Não posso dizer que o home office trouxe maior produtividade. E isso acontece por duas razões. A primeira é que os processos de decisão precisaram se tornar mais burocráticos. A troca de experiência é mais dinâmica dentro de um espaço corporativo. O que antes se resolvia com 3 minutos de conversa, precisa de uma agenda de conferência virtual. E a segunda, que julgo mais importante, é a fronteira que o trabalho ultrapassa na vida das pessoas”.
Unir o cenário doméstico ao profissional pode acabar afetando o processo criativo, pois o “ambiente de trabalho” está agora inserido num contexto residencial. “Você ter a escolha do home office é bem diferente de ter a condição do home office. Nesse regime, por condição, as pessoas precisam se compartilhar com todo o espectro de atenção doméstica, e, é claro, nem sempre querem que o espaço entre nesse particular. Isso impacta também nos processos criativos, pois eles focam muito mais em concluir uma tarefa do que resolver um problema”, afirma Alysson.
O processo de contratação da Forrest também migrou para o online, as demandas cresceram e a Agência de Marketing adotou o modelo remoto para realizar suas entrevistas. “Para o modelo de contratação, não percebo diferenças. Acho que desde sempre é possível avaliar um candidato através de um processo virtual, sem precisar obrigá-lo a custear um deslocamento para uma entrevista. Durante a pandemia, nosso time de colaboradores aumentou significativamente, e todos os candidatos foram selecionados de maneira online”.
O online permitiu que muitas áreas continuassem funcionando, Alysson Raia acredita que apostar nesse novo modelo pode agregar e muito para as empresas, mas garante que o modelo presencial ainda é o mais indicado. “Acredito que no pós pandemia o home office será eficiente se isso for uma opção. Acredito que vamos adotar um modelo híbrido, onde a tecnologia de comunicação nos permitirá ganhar tempo e ter uma agenda mais flexível. O modelo presencial nos permitirá ganhar mais empatia e construir uma rotina de trabalho mais agradável”.
Apesar dos benefícios trazidos pelo home office, algumas dificuldades foram encontradas e isso trouxe certo desconforto aos teletrabalhadores, como lidar com a família, tarefas domésticas e as demandas de trabalho ao mesmo tempo, que pode ser mais complicado do que o esperado. Uma assistente administrativa que preferiu não se identificar disse que o trabalho remoto chegou a ser inconveniente, pois seu chefe nem sempre respeitava o horário de trabalho. “Muitos pensam que esse período foi favorável para os trabalhadores. A meu ver, minha rotina acelerou de forma exponencial, e os chefes esqueceram que existe um horário pré-definido por eles para que ocorra o expediente. Já fui acordada as 5 horas da matina e dormi as 2 horas”.
A compreensão da família nessa etapa é muito importante para que tudo funcione bem, por estar em casa, um ambiente tão familiar, é preciso ter consciência de que horário é reservado para cumprir as demandas e que é preciso concentração.
“Trabalhar em casa me ajudou a ser mais produtiva, porém em contraponto às pessoas que residem no meu lar, acham que porque não estou num ambiente formal eu não estaria trabalhando de verdade e incomodam muito. Não terei dificuldades ao retornar para o presencial, acho até melhor. A rotina do home é muito mais cansativa.”
Um dos principais benefícios é estar longe do risco de contágio, tanto para o trabalhador e seus colegas, quanto para sua família. A atendente de Telemarketing, Dalana Simas da Silva foi para a modalidade no mês de outubro de 2020 e afirma que no começo havia muita expectativa. “No começo foi uma expectativa de como seria essa experiência, só o fato de estar em casa sem o desgaste de se locomover da sua residência até o trabalho já trazia um certo alívio. Como trabalho em um ramo de atendimento ao público via central, o desafio foi aguardar a adaptação desse sistema nessa modalidade home office e o fato de que estando em casa a cobrança é bem maior”.
A rotina da família também sofreu certo impacto, algumas mudanças foram feitas para que o trabalho, que é em atendimento em Call Center, acontecesse da maneira mais eficaz possível. “Acredito que minha produtividade para com o meu trabalho continuou a mesma, agora a rotina da minha casa mudou bastante. Trabalhando em casa as pessoas que estão no meu convívio diário tiveram que se adaptar para que eu não fosse interrompida ou viessem a atrapalhar o meu desempenho, trazendo também o estresse diário da rotina para o meu lar.
A flexibilidade desse modo de trabalho permite ao empregado exercer as suas funções remuneradas e tarefas de casa, aproveitando mais as horas do dia, essa vantagem foi um dos principais motivos para a atendente adotar a modalidade. ”Mesmo que ainda se tenha os problemas diários, estar em casa traz um certo conforto e oportunidade de fazer outras coisas após a carga horária do trabalho, e quando tudo isso acabar algumas atividades hoje exercidas não serão possíveis quando houver o retorno presencial”.
Uma vacina eficaz, a queda do índice de mortes e da contaminação ainda gera certa expectativa nos trabalhadores e nos seus contratantes. Voltar à rotina normal é o desejo de todos que nesse momento, adotaram medidas extremas para a proteção individual e das famílias. Mas é muito precoce afirmar que tudo vai “voltar ao normal”. Depois de um longo ano com sensação de tempo perdido, a busca pela normalização pode se mostrar mais diferente que se imagina.