O Programa de incentivo à Cultura, Fazcultura, parceria das secretarias da Cultura e da Fazenda da Bahia, é um dos parceiros do edital Natural Musical 2016, que teve o resultado divulgado recentemente, selecionando alguns artistas baianos que terão seus trabalhos produzidos e lançados durante 2017. Outros editais nacionais e regionais, como a Lei Rouanet, o semear (PA) e LIC (RS) também contemplam patrocínios.
O Natura Musical nasceu em 2005 com o objetivo de estimular a cadeia da música, contribuindo para viabilizar projetos de grande valor simbólico para a cultura e para o público. Entre os artistas contemplados no Estado, o músico Xangai ganhou o direito a realizar o documentário “Os Catingueiros”, que será narrado por ele e que fará um resgate, com entrevistas, das obras de Mateus Aleluia, Gordurinha, Bule Bule e, seu grande parceiro e também cantador, Elomar.
Segundo a produtora Milena Araújo, trata-se de um projeto de resgate do trabalho realizado por esses artistas, que contará também com encontros musicais, sempre com base na obra regional dos autores. Ela acredita que o edital permite a concretização de trabalhos com qualidade. Xangai, conhecido cantador, estreou como ator na novela global Velho Chico e agora será o narrador do documentário que promete ressaltar ainda mais a qualidade da sua poesia e dos seus parceiros musicais.
Um dos artistas a ser entrevistado no documentário, Mateus Aleluia também foi contemplado com um projeto próprio, o relançamento das obras durante a fase afro-barroca de Os Ticoãns, grupo com nome inspirado em uma ave do cerrado brasileiro que revolucionou a música brasileira ao criar harmonias vocais para cantos de religiões afro e samba de roda. O trio, formado por Aleluia, Heraldo e Dadinho mergulhou na cultura dos terreiros, do Candomblé e rodas de capoeira dando novos contornos para a música afro-brasileira.
Os LPs da época (década de 70, principalmente) foram fruto de intensa pesquisa sobre os cantos do Candomblé. Mateus Aleluia conta que a ideia de resgatar o acervo de Os Tincoãns partiu da advogada, especialista em direito autoral, Monaica Mota. “A ideia é recuperar esse acervo da fase afro-barroca do grupo, formada por quatro LPs e quatro compactos e também somar a esse trabalho a produção de um encarte gráfico, que é praticamente um livro, com design de Gringo Cardia”.
Os discos foram produzidos em gravadoras diferentes e o trabalho inicial é a liberação das obras. Segundo Aleluia, os editais Natura e Fazcultura permitem esse tipo de mergulho na história das artes, fazendo um resgate necessário da nossa linguagem. “O trabalho de os Tincoãns representou uma quebra de paradigma com relação à música afro, cujo perfil era apresentado como exotismo e passou a ser respeitada como base de cultura e religião. É muito bom que estudantes e o público em geral tomem conhecimento dessa história”, reflete o músico, que em 2017 também estará trabalhando um documentário sobre o Disco “Africano”, também dos Tincoãns, com apoio do Fundo de Cultura da Bahia.
O superintendente de Promoção Cultural da SecultBA, Alexandre Simões, reflete que o papel do Fazcultura é justamente permitir que projetos com grande peso cultural e histórico possam ser patrocinados por empresas de todos os tamanhos. “No caso do Natura Musical trata-se de um projeto grandioso que trabalha o resgate de obras importante e também o lançamento de nomes que estão em ascensão. A parceria entre empresa e Estado, baseado no benefício fiscal, com a utilização de recursos do ICMS devido e uma parcela de apoio direto das instituições, permite a realização de grandes projetos e eventos. Há um entendimento do papel das empresas e do Estado no investimento em cultura e no social, afinal de contas os recursos também vão estimular a criação de novas ocupações no mercado de trabalho, dinamizando a economia criativa”.
O Quadro
Da música mais regional para o hip hop e o rap, o Natura Musical, com apoio do Fazcultura, também apoiará a gravação do novo disco do grupo ilheense O Quadro. O manager do grupo, Alex Pinto revela que o grupo deve entrar em estúdio em março e o resultado deve chegar às lojas em junho. A banda já tem 15 anos de estrada, inclusive já realizou três turnês internacionais para a Europa (Dinamarca e Reino Unido). “Já tivemos projeto aprovado pelo Conexão Vivo, também em parceria com o Fazcultura, em 2012, tamb´pem muito importante para divulgação nacional do n osso trabalho”.
Alex Pinto acredita que o novo projeto representa o momento de “virada” da banda. “Temos um público fiel e somos convidados para eventos no exterior. Agora é o momento de aproveitar a projeção nacional”, aposta. Na Bahia, o montante do edital a ser aplicado com apoio do Fazcultura chega a R$ 1 milhão. O trâmite agora é o das análises prévia, técnica e de mérito para posterior publicação no Diário Oficial. Os baianos Lívia Matos e Lucas Santtana, além da paulista Talita Avelino – radicada em Salvador – fecham o grupo beneficiado pelo edital no Estado.
Outro artista baiano que foi contemplado é Lucsa Santtana, radicado no Rio de Janeiro, vai gravar mais um disco, dessa vez pelo Fazcultura, em parceria com a Natura Musical.