Instituído pela ONU, o Dia Mundial das Crianças Vítimas de Agressão – 4 de junho – é também um alerta para o combate a todas as formas de violência contra crianças e adolescentes, e um chamado para a proteção dos seus direitos inalienáveis. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), de 2010 a 2020, mais de 103 mil crianças morreram vítimas de agressão no país e, todos os dias, são registrados, em média, 243 diferentes tipos de violência a jovens – uma realidade que vem se intensificando, apontam especialistas, principalmente com a necessidade de isolamento imposta pela crise sanitária.
Regionalmente, a Bahia foi o 4° estado com mais casos de violência e exploração sexual contra crianças e adolescentes, no último ano, atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. E, mesmo com as subnotificações, os registros de 2021 cresceram, no comparativo com 2020. Mas de que forma combater as estatísticas e como identificar os abusos?
Psicóloga, pedagoga e psicopedagoga, com Mestrado Interdisciplinar, a professora Leonor Guimarães, da UNIFACS, explica que mudanças bruscas no comportamento, perturbações no sono, irritabilidade, agitação ou o contrário, apatia, podem ser sinais e devem ser observados. “Qualquer coisa que mude radicalmente o comportamento é importante observar. Então se é uma criança mais tranquila, e fica agitada ou agressiva, ou uma criança que começa a ficar mais calada, são situações às quais devemos nos manter atentos. Mudanças também podem envolver diminuição da alimentação, perda do sono, xixi na cama”, adverte Leonor Guimarães, que ressalta a importância das redes de apoio e proteção para o desenvolvimento pleno de crianças e adolescentes.
“Agora, na pandemia, como as crianças estão isoladas em casa, aumenta o número de violência. Elas não estão indo à escola, que é um caminho para a denúncia”, acrescenta a psicóloga. É preciso lembrar, entretanto, – aponta a psicopedagoga – que a violência nem sempre é física. “A maioria das violências são psicológicas e, infelizmente, passam despercebidas”.
Espaço seguro para falar
Fortalecer a relação através do diálogo, estabelecer uma rotina com tempo para brincar, manter um clima acolhedor em casa e acompanhar o dia a dia da criança, nos ambientes de interação, de aprendizagem e também na internet são pontos que, segundo especialistas, podem contribuir para que o jovem se sinta seguro inclusive na hora de falar e pedir ajuda.
“A criança tem uma linguagem muito própria, que é a da brincadeira, do lúdico. Então a aproximação tem que ser leve também para que a criança confie e fale sobre. Observar as brincadeiras, desenhar,
As denúncias, em caso de suspeita de maus-tratos e violência ou abuso, podem ser realizadas junto ao Conselho Tutelar, às polícias civil e militar, ao Ministério Público e pelo canal Disque 100.
Educação
O enfrentamento à violência contra crianças e adolescentes – destaca a psicóloga – requer, além do fortalecimento das redes de proteção e ampliação dos serviços de apoio em saúde e bem-estar social, um trabalho permanente em educação e conscientização.
“É necessário educar as famílias e os cuidadores, porque a gente tem um histórico de castigo, de palmadas (…). A gente tem uma cultura em que parece que a violência com a criança é legitimada, e a melhor forma de combater isso é a educação. O primeiro passo é comunicar a sociedade, em termos do que é a violência e como ela se caracteriza. O segundo momento é preparar escolas, projetos que recebem crianças, para um canal aberto e para que se possa denunciar”, afirma Leonor Guimarães, que complementa, “O estatuto da criança e do adolescente está aí. É importante que a gente conheça. É necessário atualizar, porque ele já tem mais de 20 anos, mas, enquanto cidadãos, precisamos lutar por leis que protejam mais as nossas crianças”.