Pato Donald, Peninha, Peter Parker, Lois Lane, Clark Kent… O que tem esses personagens dos quadrinhos e das telas de cinema e TV em comum? Bem, todos eram jornalistas. Os primeiros, sobrinhos do Tio Patinhas, eram repórteres investigativos de A Patada, principal jornal de Patópolis. Parker – aquele do grande lema da jornalistada: “Grandes poderes trazem grandes responsabilidades” – era o melhor repórter fotográfico do Clarim Diário, uma espécie de O Globo liderado por J.J. Jameson, parcial editor chefe. Já Kent e Lane, do Planeta Dário faziam uma dupla de repórteres responsável por desvendar grandes crimes, envolvendo superbandidos.
Bem, hoje é o Dia dos Jornalistas. Citei os heróis da ficção para lembrar as razões iniciais que me fizeram interessar pela profissão que tenho orgulho de ter escolhido. Tem outra versão, de quando ajudava meu pai – Seu Zeca – na Feira de São Joaquim, tinha mania de ler todos os jornais e revistas antes de usar suas páginas para embalar mercadorias, mas isso é outra história.
Claro, não estamos hoje entre as profissões de maior credibilidade. O jogo político, os fakes das redes sociais, os interesses pessoais de coleguinhas fizeram a profissão perder pontos com a população, mas ainda é hoje uma das poucas áreas de defesa dos consumidores, cidadãos, homens, mulheres, trans…
E não me venham com a história de que jornalismo tem que ser imparcial. O que é imparcialidade? Ninguém é imparcial. O objetivo da profissão é agir com ética, com a verdade, reponsabilidade. É saber que uma nota mal apurada põe em risco a vida e reputação de pessoas, comunidades. Opiniões não devem ser expressadas, mas quem consegue escrever sem opinar? Somos seres humanos, temos discernimento, ideias, desejos, interepretações próprias.
No momento em que a profissão passa por uma crise de confiabilidade, de respeito, é importante repensarmos nosso papel social. Sou de um tempo em que repórteres eram respeitados em favelas, zonas de crimes, por políticos, religiosos… Atualmente, muitos colegas já foram alvo de pedradas, xingamentos… Culpa de um jornalismo popular sem critérios, dos interesses dos veículos, da falta de apuração de muitos dos coleguinhas. Fruto também do grande fenômeno de celebridade instantânea. Já vi muita gente querer iniciar na profissão porque achava “lindo” o casal telejornal Bonner e Fátima.
Jornalismo não é show. Jornalismo é coisa séria, esteja você jornalista nos veículos tradicionais, nas mídias sociais, nas assessorias, nos fronts de guerra.
Na foto – uma das poucas que tenho atuando profissionalmente – nos idos de Deus sabe quando, um jovem repórter é fragrado pela câmera do Raimundo Silva (por onde anda?), quando cobria Cidade (ou seria Política) pela resistente Tribuna da Bahia.
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Chico Araújo é Jornalista e Professor
chico.araujo@terra.com.br