O tabagismo, o relógio biológico das mulheres, as Infecções Sexualmente Transmissíveis, a obesidade, as alterações hormonais e
o consumo excessivo de álcool são alguns dos fatores que podem comprometer a vida reprodutiva e a capacidade de ter filhos
Algumas condições representam verdadeiros sinais de alerta em relação à saúde reprodutiva. Obesidade, tabagismo e Infecções Sexualmente Transmissíveis são alguns dos inúmeros fatores que podem desencadear infertilidade em homens e mulheres e dificultar o sonho de ter filhos. A infertilidade é caracterizada quando não ocorre gravidez em um casal que mantem relações sexuais com frequência sem usar medidas de proteção contraceptiva por um período de um ano ou mais.De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 8 milhões de brasileiros podem ser acometidos pela infertilidade. A médica Gérsia Viana, especialista em medicina reprodutiva do Cenafert e da Insemina, lembra que mesmo as pessoas que ainda não estão programando ter filhos devem estar atentas a situações que podem impactar negativamente na fertilidade. “A realidade de hoje é que muitas mulheres têm decidido ter filhos em idade cada vez mais avançada, quando já estão com sua vida profissional estabilizada. Então, elas buscam ajuda especializada, muitas vezes, já com a fertilidade comprometida”, afirma a especialista.
A responsabilidade pela gravidez deve ser compartilhada igualmente pelos dois sexos. De acordo com a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), estima-se que cerca de 35% dos casos de infertilidade podem ser atribuídos à mulher, outros 35% são de responsabilidade do homem, 20% estão relacionados a ambos e 10% são de causas desconhecidas. “Quando um casal não está conseguindo ter filhos naturalmente, a investigação da infertilidade deve ser realizada sempre pelos dois sexos. A condição reprodutiva de cada um deve ser avaliada pelo especialista para que se tenha um diagnóstico preciso das causas da infertilidade e assim seja indicado o tratamento mais adequado”, esclarece Gérsia Viana.
Relógio biológico e outros fatores da infertilidade feminina
Segundo Gérsia Viana, o relógio biológico é uma das principais causas da infertilidade no sexo feminino. “Hoje boa parte das mulheres começam a planejar sua gravidez após os 35 anos, justamente na idade em que a fertilidade feminina entra em declínio”, explica a especialista. A partir dos 35 anos, as chances de uma gravidez espontânea caem consideravelmente, uma vez que a qualidade e quantidade dos óvulos diminuem progressivamente até a menopausa, quando a mulher para de ovular e encerra sua vida fértil.
Além do avanço da idade, vários sinais podem representar infertilidade em mulheres, como ciclos menstruais irregulares, menopausa precoce, dor durante o ato sexual, alterações hormonais, dismenorreia intensa e progressiva (dor no período menstrual), obstrução nas trompas e problemas de malformação ou tumores no útero,.
“A endometriose não tratada ou o diagnosticada tardiamente também pode comprometer o sistema reprodutivo feminino e causar infertilidade”, lembra a médica.
Uma mulher com menos de 30 anos e vida sexual ativa, que deseja ser mãe, pode esperar até dois anos para que aconteça a gravidez se ela já foi avaliada por um especialista e não apresenta nenhum problema que possa afetar sua fertilidade. Caso a mulher tenha mais de 30 anos não deve aguardar mais que um ano para iniciar uma investigação com o especialista. Se atingiu 35 anos, o prazo de espera não deve ultrapassar seis meses. Após os 40 anos de idade, se a mulher deseja engravidar, ela deve iniciar a investigação da sua capacidade fértil imediatamente.
Fatores de infertilidade masculina
A varicocele é uma das causas mais comuns da infertilidade no homem e consiste na dilatação anormal das veias que drenam o sangue na região dos testículos. A doença, que acomete jovens principalmente a partir dos 15 anos, compromete o fluxo venoso, causando o acúmulo de substâncias nocivas no órgão e o aumento da temperatura local, o que pode acarretar diminuição na produção e na qualidade dos espermatozoides, consequentemente, comprometendo a capacidade de fertilização do óvulo. Podem acontecer dores e inchaços na região, mas em grande parte dos casos a doença é assintomática, não afeta a vida sexual, e, muitas vezes, só é descoberta quando o paciente não consegue engravidar sua parceira.
Além da doença, vários fatores podem comprometer a fertilidade masculina, dentre eles causas hormonais, genéticas, ambientais e hábitos de vida.
A baixa produção de espermatozoides pelo testículo, causada por alterações hormonais, a mobilidade dos espermatozoides e a qualidade do sêmen são alguns dos fatores que influenciam na fertilidade masculina. Há também causas genéticas que podem levar a ausência de produção de espermatozoides (azoospermia) ou concentração muita reduzida de espermatozoides no sêmen (oligozoospermia severa).
O tabagismo, o uso de anabolizantes e de drogas e o consumo excessivo de bebidas alcoólicas são fatores que podem comprometer a fertilidade do homem.
O uso de anabolizantes pode causar alterações hormonais que afetam a qualidade e a quantidade dos espermatozoides, comprometendo a fertilidade masculina, além de poder causar disfunção erétil e atrofia dos testículos.
As Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s) também podem causar danos ao aparelho reprodutor, causando infertilidade.
O espermograma (exame de análise laboratorial do sêmen) é indispensável na avaliação da capacidade reprodutiva do homem.
Hábitos de vida e infertilidade.
Alguns fatores relacionados aos hábitos de vida ou a causas ambientais podem comprometer a saúde reprodutiva de homens e mulheres. Tabagismo, estresse, obesidade e sequelas de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s) podem causar infertilidade.
O cigarro é um dos grandes vilões da fertilidade humana. De acordo com o INCA, mulheres que fumam antes da gravidez têm duas vezes mais probabilidade de atraso na concepção e, aproximadamente, 30% mais chances de serem inférteis. As mulheres fumantes também podem ter uma gravidez de alto risco, com má formação placentária, abortamento, descolamento prematuro da placenta, hemorragias uterinas, trombose venosa profunda e risco de morte. Para o bebê, há o risco de nascimento prematuro e com baixo peso. Recém-nascidos de mães fumantes também têm uma incidência maior de malformações congênitas, retardo e outros problemas.
No caso dos homens, os danos causados pelo cigarro vão desde a disfunção erétil (impotência) até o comprometimento da fertilidade, uma vez que a nicotina pode comprometer a qualidade e motilidade dos espermatozoides.
O consumo de bebidas alcoólicas em excesso também está relacionado a maiores taxas de infertilidade nos dois sexos e problemas na gestação, quando a mulher grávida continua a consumir álcool.
A exposição a fatores ambientais (poluição, agentes químicos, solventes, pesticidas e alguns metais pesados) pode prejudicar a fertilidade feminina e masculina.
O uso de determinados medicamentos, como alguns antidepressivos, tipos específicos de antibióticos e alguns remédios para pressão alta, pode afetar a fertilidade temporariamente. Nestes casos, geralmente, a fertilidade é retomada com a interrupção do uso do medicamento.
Prevenção
Algumas medidas e a adoção de hábitos saudáveis podem melhorar a condição reprodutiva em homens e mulheres. Segundo a médica Gérsia Viana, praticar atividade física regularmente, controlar o estresse e a ansiedade, ter uma alimentação equilibrada, manter uma vida sexual saudável com uma frequência de três relações por semana, saber o período fértil, dormir bem e evitar o consumo excessivo de bebidas alcoólicas são algumas das medidas que podem aumentar as chances de uma gravidez natural.
“Manter-se no peso adequado, não fumar e praticar sexo seguro também podem fazer a diferença”, destaca a médica. “A obesidade, o tabagismo e as Infecções Sexualmente Transmissíveis podem comprometer a fertilidade nos dois sexos”, acrescenta.
Além dos hábitos saudáveis, as consultas e exames de rotina com o ginecologista e o urologista são essenciais para a preservação da saúde reprodutiva. “Ao menor sinal de algo irregular na sua saúde reprodutiva ou mesmo quando se pretende adiar o projeto de maternidade, é importante buscar ajuda especializada para avaliar sua condição reprodutiva”, orienta a especialista.