Estudo que vem sendo realizado pelo Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia pode ajudar a entender o risco para leptospirose em bairros populares da cidade de Salvador. Segundo dados da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), 70 casos da doença (que é transmitida ao homem pela urina de roedores), foram confirmados na Bahia em 2018, 60% dos quais registrados em Salvador (42 casos).
A primeira fase do levantamento, que começou em 2017, teve como alvo do estudo os bairros de Marechal Rondon, Alto do Cabrito, Rio Sena e Nova Constituinte, todos localizados no subúrbio ferroviário de Salvador. Os primeiros dados coletados apontam, por exemplo, que as famílias com renda mais baixa estão mais expostas à infecção. O número de casos, confirmados através de testes sorológicos, foi 63% menor nos domicílios que receberam, ao menos, um salário mínimo em relação àqueles sem renda.
A pesquisa também quis saber o nível de conhecimento das comunidades em relação à transmissão da doença. “É muito importante basear o nosso projeto no conhecimento local. Entre os moradores pesquisados, 84% apontaram o esgoto a céu aberto como principal determinante de risco objetivo”, afirma o pesquisador Hussein Khalil. Ao mesmo tempo, apenas 27 % consideraram que ações do Estado, como coleta de lixo e atuação do Centro de Controle de Zoonoses, são importantes para o controle da doença. Para os demais, 73%, são as ações individuais ou comunitárias que ajudam a reduzir esse risco. “É tanta negligência nessas comunidades que as pessoas naturalizam aquele efeito e acham que é culpa delas, inclusive, acabam se acomodando àquela situação”, destaca outra pesquisadora, a professora Yeimi Alexandra Alzate Lopez.
Diversos jovens moradores dos bairros ajudaram na realização do estudo, seja através do registro de fotografias ou na coleta de informações nos locais. Agora, eles fazem parte do projeto “Jovens Inovadores” e recebem uma formação nas áreas de cidadania, informática, mapeamento, além de treinamento em saúde e ambiente. O objetivo é torná-los multiplicadores em seus próprios bairros. A capacitação é realizada no Instituto de Saúde Coletiva da UFBA e também nas próprias comunidades. O projeto tem o apoio da Escola Politécnica e o Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos (IHAC) da UFBA nas ações de extensão, com a coparticipação da Fiocruz/BA e Universidade de Liverpool.