Em média, o brasileiro trabalha oito horas diariamente. Para além disso, soma-se o horário do almoço, que geralmente tem uma hora de duração, e todos os preparativos antes de bater o ponto, que de modo bem generalista envolvem o ato acordar, tomar banho, se vestir, tomar café, preparar alguma refeição para levar ao trabalho, sem falar no deslocamento, engarrafamento, etc. Essa é a rotina de muitos brasileiros, até a tão sonhada aposentadoria.
A rotina acontece tão no automático, que muita gente não consegue perceber os sinais de exaustão, quando são emanados pelo corpo e pela mente, a exemplo de dificuldade de concentração, estresse, irritabilidade, desânimo, etc. Essa tese é comprovada por uma meta-análise, realizada no ano passado, na qual foram analisados 91 estudos de três continentes. A conclusão foi a de que um em cada cinco adultos em todo o mundo sofre de fadiga generalizada – o que pode durar até seis meses, com condições médicas não identificadas.
De acordo com a médica do trabalho, especialista em Saúde Mental e Bem-Estar, Ana Paula Teixeira, o fenômeno atinge não só homens, mas também mulheres – com ou sem filhos. E por que essas pessoas se sentem cansadas o tempo todo? Ana Paula Teixeira explica que fadiga é diferente de cansaço e pode estar associada a um aspecto emocional e cognitivo, sem falar que o fator desencadeador pode ser diverso, a exemplo de uma doença não diagnosticada. Sabendo a razão, será mais fácil identificar os gatilhos e tratar.
Mas, quando não se sabe, todo cuidado é pouco, sobretudo no ambiente de trabalho – local em que se passa a maior parte da vida. Neste aspecto, a médica salienta que a qualidade, quantidade e necessidade do trabalho desenvolvido nas empresas também podem ter papeis significativos nesse adoecimento.
Ana Paula Teixeira lembra de um estudo recente feito com mais de 16,2 mil funcionários governamentais chineses, no qual concluiu que os profissionais que passaram por eventos negativos estressantes na vida apresentaram possibilidade duas vezes maior de se queixar de fadiga posteriormente. E esses fatores estressantes podem estar dentro ou fora do trabalho.
“Setores de saúde instalados nas empresas são essenciais, com profissionais aptos a observar, identificar e tratar essas pessoas. Isso é crucial para a empresa também, já que exigem maior produtividade dos seus colaboradores. Saber direcionar o funcionário para um setor no qual ele é mais apto, pode deixá-lo mais ativo, operante, esperançoso e realizado”, pontua Ana Paula Teixeira.
Ainda de acordo com ela, quando há estresse, “nosso corpo produz um hormônio chamado cortisol, que eleva nossa temperatura corporal, os batimentos cardíacos e nos prepara para enfrentar uma ameaça – totalmente inexistente, podendo impulsionar riscos de saúde ao trabalhador, como o transtorno de ansiedade. Por isso, desacelerar e adotar hábitos saudáveis podem ajudar, tais como a diminuição do tabagismo, ingestão do álcool e da cafeína”, conclui.