O vírus Zika é capaz de bloquear a ativação do sistema imunológico da pessoa infectada. A constatação veio a partir do mapeamento genético do vírus que circula em Pernambuco, sequenciado pela primeira vez no estado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do estado em parceria com profissionais da Universidade de Glasgow, no Reino Unido. O sequenciamento genético foi realizado a partir de uma amostra coletada de um paciente infectado em 2015, no início da epidemia. De acordo com o pesquisador da Fiocruz Rafael França, um dos responsáveis pela pesquisa, uma pequena parte da carga genética do Zika pode bloquear a ativação de um componente do sistema imune considerado importante para combater infecções virais: o interferon, que combate a replicação do vírus. “Se o Zika bloqueia a produção desses interferons ele vai conseguir replicar, então ele vai ter um processo infeccioso melhor, vai conseguir infectar muito mais a célula, vai ser mais agressivo”, disse França à Agência Brasil. Essa característica é encontrada em outros vírus da mesma família, como o vírus da dengue, segundo o pesquisador. No caso do Zika, porém, a habilidade é ainda maior. “É um vírus que tem uma vantagem evolutiva em relação ao vírus da dengue”. A descoberta deve ajudar outros pesquisadores a formular possíveis métodos terapêuticos, já que se identificou uma característica do vírus que pode ser combatida. “A gente pode interferir no [gene] que o vírus bloqueia no sistema imune, e tentar bloquear essa capacidade do vírus como uma forma de terapia”, exemplificou. Com o mapeamento, os pesquisadores identificaram que o vírus Zika de Pernambuco tem semelhanças com o vírus encontrado na Ásia, como outras pesquisas já haviam mencionado. Eles também descobriram que a assinatura genética é a mesma de vírus Zika isolados em outras regiões do Brasil. “Ou seja, é o mesmo vírus que circula no país todo, provavelmente”, completou França. O próximo passo da pesquisa, que já está em curso, é estudar a evolução do vírus até agora, a partir de outros mapeamentos genéticos de amostras mais recentes.
Bahia Notícias