O governo colombiano e o Exército de Libertação Nacional (ELN) assinaram, nesta sexta-feira (9), em Havana, um acordo de cessar-fogo nacional e temporário de seis meses.
“Aqui nasce um novo mundo, aqui acaba uma fase de insurgência armada na América Latina com seus mitos e realidades”, disse o presidente colombiano, Gustavo Petro, durante a assinatura do acordo, na presença do líder máximo do ELN, Antonio García, contra quem havia uma ordem de captura até esta semana.
Fundado em 1964, o ELN tinha 5.850 combatentes em 2022, segundo autoridades colombianas, e é a guerrilha em atividade mais antiga da América Latina.
O texto, assinado pelos chefes das negociações do governo colombiano, Otty Patiño, e do ELN, Pablo Beltrán, contempla “dar cumprimento imediato aos acordos de Cuba”, que preveem “o cessar-fogo bilateral nacional e temporário”, disse o chanceler cubano, Bruno Rodríguez, ao ler os pontos do documento.
A assinatura, na qual também esteve presente o presidente cubano Miguel Díaz-Canel, ocorreu no encerramento do terceiro ciclo da Mesa de Diálogos de Paz, iniciado em 2 de maio, em Havana.
Antonio García, que surpreendeu ao viajar para Havana, foi cauteloso: “Não assinamos acordos substanciais”, apenas “acordos de procedimento”, afirmou.
Processo ‘diferente’
“Este processo de paz tem que ser diferente, temos que ver mudanças”, afirmou o líder da guerrilha guevarista, inspirada na revolução cubana.
Patiño, negociador do governo colombiano, coincidiu em que “os desafios são muitos, mas vale à pena […] enfrentá-los todos”.
O chanceler cubano informou que a quarta rodada de negociações será realizada em Caracas, na Venezuela, entre 14 de agosto e 4 de setembro.
A única trégua bilateral pactuada entre as duas partes vigorou por 101 dias entre 2017 e 2018.
O documento assinado nesta sexta prevê a criação de “um canal de comunicação entre as partes através do representante especial do secretário-geral das Nações Unidas na Colômbia”.
O acordo contempla que, a partir de 3 de agosto, vão começar a “contar os 180 dias de vigência” desta trégua, assim como a implementação dos protocolos e do mecanismo de monitoramento e verificação, que serão acordados nos próximos dias.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, cumprimentou o governo da Colômbia e o Exército de Libertação Nacional.
“Estes são passos importantes que dão esperança ao povo colombiano, especialmente às comunidades mais afetadas pelo conflito”, ressaltou a organização em nota.
Obstáculos
A última tentativa de negociação de paz entre as partes começou em 2018, mas foi frustrada um ano depois por um atentado do ELN com carro-bomba contra uma academia de polícia, que deixou 22 mortos.
No fim de 2022, Petro, primeiro presidente de esquerda da Colômbia e ele mesmo um ex-guerrilheiro, impulsionou este processo, iniciado em novembro, na Venezuela, e que prosseguiu em março passado no México.
As negociações ficaram na corda bamba no fim de março, devido a um ataque com armas longas e explosivos, que deixou dez militares mortos perto da fronteira com a Venezuela.
Abalada por mais de meio século de conflito armado, a Colômbia tentou várias negociações de paz com os grupos armados, muitas delas fracassadas.
Um pacto histórico negociado em 2016, em Havana, resultou no desarmamento da poderosa guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que virou um partido político.
A delegação do ELN voltou em maio a Havana, de onde saiu em setembro de 2022, após a chegada de Petro ao poder. Seu antecessor, Iván Duque (2018-2022) reativou em 2019, depois do ataque contra a academia de polícia, as ordens de captura contra os negociadores do grupo armado e exigiu sua extradição.
Tudo isso ajudou a que o ex-presidente americano Donald Trump incluísse Cuba na lista de países que patrocinam o terrorismo.
“Este presidente da Colômbia diz ao presidente [americano, Joe] Biden e aos senhores que esse ato [voltar a incluir Cuba na lista] foi uma injustiça que deve ser reparada”, disse Petro durante a cerimônia.
G1