Os idosos e pessoas que tenham comobirdades, como cardiopatia, diabetes, pneumopatia, doença renal e imunodepressão fazem parte do grupo de risco da covid-19. As pessoas com Trissomia do Cromossomo 21 (T21) – terminologia usada desde 2017 para se referir a síndrome de Down – não fazem parte dessa lista, mas a imunodeficiência causada pela condição genética pode agravar o quadro da doença causada pelo novo coronavírus.
Segundo o geneticista e pediatra Zan Mustacchi, responsável pelo curso de pós-graduação em cromossomo 21, na Faculdade de Medicina do ABC, todas as pessoas com T21 têm imunodeficiência e maior tendência a desenvolver doenças autoimunes, como o diabetes.
“Elas apresentam uma disfunção imunológica primária do timo, órgão localizado entre o coração e o esterno. A maioria das pessoas o desconhece. Trata-se, no entanto, do segundo órgão mais importante para o sistema imunológico. Isso porque ele é encarregado da maturação das células linfocitárias”, explica.
Mustacchi afirma que em todas as pessoas, com T21 ou não, o timo regride progressivamente até a idade adulta, e que esse processo delega a outros órgãos a mesma função ao longo da vida. Por esse motivo, crianças com T21 têm mais chances de expressar uma resposta imunológica inadequada do que adultos com a mesma condição genética.
Além disso, metade das pessoas com T21 nascem com alguma cardiopatia. Dessas, uma e cada quatro precisará de uma intervenção cirúrgica. Isso faz com que sejam duplamente no grupo de risco para covid-19. “Em uma cirurgia de grande porte, o risco de infecção é maior, e como esse indivíduo tem uma disfunção química, as repercussões também são mais delicadas”, diz Mustacchi.
Thays Simões, 40 anos, é mãe de Lucas, 4 anos, que tem T21. Ela afirma que o filho é saudável, mas tem medo de que ele contraia a covid-19. “O Lucas não tem nenhuma comorbidade. Nunca precisou de internação ou outra interferência de saúde. Mas essa não é a realidade de muitas pessoas com T21.”
Ela é fisioterapeuta pediatra com especialização em T21 e desenvolvimento neuromotor e trabalha em um consultório médico que atende exclusivamente crianças com a condição genética. Há três semanas, ela voltou a atender alguns pacientes presencialmente, e diante do fato, se viu obrigada a adotar um protocolo rígido de higiene.
“Minha rotina para ir trabalhar mudou muito. A higienização do consultório é rigorosa e feita com álcool 70% após o término de cada sessão. Trabalho usando equipamentos de proteção. Saio do consultório direto para casa. Tiro a roupa, sapatos na área de serviço e já coloco para lavar e vou logo para o banho”, conta.
Thays relata que as famílias que atende estão muito preocupadas com seus filhos devido às comorbidades das crianças, mas que decidiram voltar a fazer terapia presencial pelo fato de eles não estarem progredindo com as terapias remotas. Segundo ela, Lucas também não se adaptou, e está sem fazer fonoaudiologia e terapia ocupacional desde 14 de março.
Segundo Fábio Wantanabe, pediatra com especialização em T21 pela Faculdade de Medicina do ABC, em seu artigo “A criança e o adolescente com síndrome de Down e o novo coronavírus”, deve-se estimular para que crianças e adultos com a condição genética sejam ouvidos em relação à dúvidas, medos e ansiedades provocadas pela mudança abrupta da rotina causada pela pandemia.
“Os fatores psicológicos, emocionais, físicos e sociais interferem diretamente na saúde, sendo relevante que a pessoa com síndrome de Down mantenha-se ativa no período de isolamento social e nas diferentes fases que a pandemia poderá percorrer nos próximos meses”, afirma Fábio.
“Deve-se estimular a adaptação da rotina familiar e terapêutica respeitando as orientações de distanciamento social, a partir de atividades e brincadeiras que estimulem a mente, movimentem o corpo e auxiliem nas relações socioemocionais”, complementa.
R7