“Sistema Percussivo Integrado” é o nome do disco de estreia do músico e produtor Japa System. Apostando na experimentação de texturas e na percussão híbrida, misturando elementos orgânicos e sintéticos, o artista, que integra o grupo BaianaSystem há seis anos, assina as oito faixas do álbum e reúne, entre outros nomes, Carlinhos Brown, BNegão, Larissa Luz e referências na percussão, como Gabi Guedes (Orkestra Rumpilezz), Mônica Millet (neta de Mãe Menininha do Gantois e uma das primeiras mulheres percussionistas do Brasil) e Marcos Suzano. O primeiro single, “Tum-Kata-Kruáka”, com a participação de Brown, será lançado no próximo de 21, junto com um clipe de animação. O álbum completo chega às principais plataformas de streaming dia 18 junho, acompanhado de um curta documental, mostrando um pouco do processo criativo e das raízes da sua música.
“Tudo que tem nesse disco é muito real, porque o que eu sou, é o meu som. Eu caminho por suas estéticas. E tô muito feliz com a presença de Brown, que gravou uma faixa e um depoimento para o documentário, e ainda nos convidou para fazer parte do casting do selo Candyall Music, gerido por ele, o que vai potencializar, ainda mais, toda a construção musical que é esse Sistema”, comemora Japa, que já tocou em festivais como o Lollapalooza e Rock in Rio, e rodou Europa e Estados Unidos, além de acumular premiações, como o 28º Prêmio da Música Brasileira (2017) e o Grammy Latino (2019) – ambos ao lado do BaianaSystem.
Gravado nos estúdios da Pracatum, Ilha dos Sapos e Casa das Máquinas, “Sistema Percussivo Integrado” tem produção e direção do próprio Japa em parceria com o companheiro de BaianaSystem, João Meirelles, e masterização e mixagem de Victor Vaughan. Por conta da Pandemia, a produção foi 50% remota, via videochamadas e encontros virtuais. “O fato de nós sermos produtores contou muito nesse desenvolvimento, pois isso nos possibilitou produzir de uma forma mais eficiente e criativa, explorando os recursos das plataformas de chamada de vídeo”, explica Japa.
Percussão em sintonia com o eletrônico
Em seu primeiro disco, o artista junta timbal e atabaque a baldes e frigideiras, sonoridades tiradas de barras de ferro, cascas de árvores, pele e couro de animais, com sintetizadores, samplers e bases eletrônicas, e também inova ao se lançar como cantor. “No Baiana, eu já dobro as vozes com Russo (Passapusso), então tenho essa intimidade. Mas cantar mesmo é a primeira vez”, explica ele, que assume o microfone em cinco faixas. “Quando eu ouvia as músicas, vinham junto as ideias melódicas e comecei a solfejar. Depois, fui pra caneta, as letras foram nascendo e acabou ficando mais cantado mesmo”.
A cantora baiana Larissa Luz divide os vocais com Japa em “Gente que vem, povo que vai”, com direito ao colega de Baiana, Robertinho Barreto, na guitarra. Já o rapper carioca BNegão entoa os versos de “Trindade”. E a tríade de percussionistas, Marcos Suzano, Gabi Guedes e Mônica Millet está na faixa que dá nome ao álbum. “Admiro muito a criativa identidade musical dele. Tem uma importância vital de transmitir, ao Mundo Percussivo Pulsante, a novidade além da tecnologia, a sensibilidade, os tons inovadores dos tambores ancestrais”, afirma Millet. “O som de Japa tem fundamentos, estudo, força, carinho e isso mexe com a temperatura das batidas, dos ritmos. É aí que a gente vê quem ama a música. Então, foi uma honra participar do disco”, conta Suzano.
O documentário que acompanha o projeto irá, justamente, mostrar o processo construtivo do disco e um pouco do porquê da participação dos convidados e convidadas. O roteiro do curta inclui gravações em Salvador ao lado de Carlinhos Brown, Gabi Guedes, Mônica Millet, Robertinho Barreto e os músicos do Psirico, Jotaerre, e Parangolé, David Sena Lelê; e um rolé no Candeal, contando um pouco da trajetória de Japa, os primeiros toques no timbal e os anos de Timbalada (ele integrou o grupo por três anos). “Esse doc é uma forma de agradecer através da percussão e da música”, afirma o artista, que é nascido em São Paulo, criado em Feira de Santana desde os 8 anos, e residente em Salvador há 10.
Do Timbal aos Japa Shakers
Com influências da Capoeira, Candomblé, Samba Duro e Samba de Roda, o disco resgata toda trajetória do artista, que realizou um sonho ao tocar com a Timbalada e chegou a fazer parte do Terra Samba, com o qual fez sua primeira turnê internacional. Mas a sua trajetória musical começou ainda moleque, aos 15 anos, testando experimentações com latas de manteiga e os utensílios de cozinha da mãe boleira. “Gosto de fazer sons através de sons”, destaca ele, que ainda hoje toca com seus instrumentos inventados; os Japa Shakers.
Foi só ao escutar, pela primeira vez, o DVD “Eletroacústico” de Gilberto Gil, que Antônio Dimas Vieira Aires Júnior tornou-se “System”. “Foi quando eu entendi que podia tocar o instrumento orgânico, o timbal da Timbalada, com eletrônico e digital. Ambos poderiam se comunicar, caminhar juntos, se respeitando, entendendo o tempo e a respiração de cada um”, lembra.
De lá pra cá, já são 23 anos de carreira, desde que saiu de Feira de Santana em busca do seu sonho de tocar profissionalmente, às turnês internacionais, incluindo apresentações no Japão – de onde surgiu o apelido de “Japa”. “Eu integrava um grupo cultural de Feira e surgiu a oportunidade de se apresentar no Japão, em um parque temático tipo a Disney. Cheguei a ir mais duas vezes. Foi quando os amigos começaram a brincar que meu olho estava esticando e eu estava ficando japa”, conta, aos risos.
“Sistema Percussivo Integrado” tem apoio financeiro do Estado da Bahia, através da Secretaria de Cultura e da Fundação Pedro Calmon (Programa Aldir Blanc Bahia), via Lei Aldir Blanc, direcionada pela Secretaria Especial da Cultura do Ministério do Turismo, Governo Federal.