A razão mais provável para essa diminuição é que as pessoas estejam adiando a procura por atendimento médico por medo de contágio pelo novo coronavírus, segundo o clínico-geral Érico Oliveira, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.
“Está havendo uma subprocura por serviços de saúde e temos visto isso no dia a dia, mas a presença de aldultos em casa também pode inibir que isso [acidente doméstico] aconteça”, afirma.
“No entanto, o mais provável é que as pessoas estejam vindo ao hospital somente em situações insustentáveis. As pessoas ficam tolerando a dor em casa por receio”, analisa.
No dia 30 de abril, último mês considerado pelo levantamento, o Brasil ultrapassava a China e se tornava o décimo país mais afetado pela pandemia de covid-19, com 5.901 mortes e 85.380 casos de infecção pelo novo coronavírus, segundo a pasta.
O médico destaca que a demora em procurar os hospitais impede o tratamento de situações importantes e, consequentemente, gera um aumento das sequelas causadas pelo acidente.
Ele mesmo presenciou casos de pessoas que caíram, fraturaram ossos e só procuraram ajuda especializada meses depois, como aconteceu com uma idosa que está internada há cerca de dez dias.
“Ela teve uma queda em casa, fraturou o fêmur [osso da coxa, o mais longo do corpo humano] e só foi ao hospital dois meses depois por medo de pegar coronavírus”, relata. “Certamente, por causa dessa demora, vai ficar mais tempo hospitalizada do que precisaria”, acrescenta.
Segundo Oliveira, os grupos mais suscetíveis a acidentes domésticos são crianças e idosos – sendo que estes são mais vulneráveis a quadros graves. Dentre os acidentes, a queda é o mais comum e também o que traz mais risco de complicações, pois muitas vezes causam lesões na cabeça e ortopédicas.
A afirmação dele se confirma com os dados do Ministério da Saúde: quedas são a maior causa isolada de internação no período de janeiro a abril deste ano (138.250) e do anterior (140.990).
O maior número de pessoas internadas por quedas em 2020 está na faixa etária dos 50 aos 59 anos (19.283), Já em 2019 adultos entre 30 e 39 anos lideram as hospitalizações nessa categoria (19.127), mas aqueles que têm a partir de 50 anos vêm logo atrás (19.035).
A orientação para quem sofre um acidente doméstico é ficar atento aos sinais. Sangramento, inchaço e dor excessiva indicam a necessidade de procurar atendimento profissional. Oliveira ressalta que os sintomas mais graves em caso de traumas na cabeça são sonolência e disfução mental.
“Se você tem certeza que não precisa ir ao médico, a chance maior é de que não precise mesmo. Mas se existe alguma dúvida, o melhor é procurar uma unidade de saúde”, aconselha.
“Entendo que a situação amedronta, mas após 4 meses de pandemia todo mundo já sabe quais são as situações mais perigosas de contaminação. O hospital é um ambiente seguro para se estar, há mecanismos de isolamento para casos suspeitos e prevenção de contágio. Se você tem algum problema de saúde que requer tratamento, ficar em casa não é uma boa decisão”, conclui.
R7