O estudo aponta que 1 em cada 5 baianas com câncer de mama herdaram predisposição genética para desenvolvimento da doença
Em 2022, de acordo com estimativa do INCA, o Brasil deve registrar 66.280 casos novos de câncer de mama, sendo que na Bahia a estimativa é de 3.460 novos casos da doença e, em Salvador, 1.180 novos casos. Depois do câncer de pele não melanoma, o câncer de mama é o tipo de neoplasia maligna mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil. Na região Nordeste do país, a incidência da doença é de 44,29 casos novos a cada 100 mil mulheres.
Estudos epidemiológicos revelam que entre 5 e 10% dos casos de câncer são atribuídos a fatores hereditários, quando uma mutação genética transmitida de geração para geração aumenta as chances de uma pessoa desenvolver a doença.
Um estudo inédito, realizado na Universidade Federal da Bahia e publicado na revista científica Breast Cancer Research and Treatment, teve como objetivo avaliar a susceptibilidade genética ao câncer de mama entre mulheres afrodescendentes na Bahia. Através de testes genéticos, o estudo avaliou no total 292 mulheres, divididas em dois grupos: 173 mulheres com câncer de mama invasivo (casos) e 119 mulheres que não tinham câncer no momento da avaliação (controle). Entre as pacientes afrodescendentes com câncer de mama, 36 mulheres, o que corresponde a 20,8%, apresentaram variante de perda de função em genes de susceptibilidade ao câncer de mama. Essas variantes encontradas no sangue ou saliva são classificadas como germinativas (hereditárias) e podem ser passadas de uma geração a outra, por exemplo, da mãe para filha, como no caso da atriz norte-americana Angelina Jolie, que herdou uma variante de perda de função no gene BRCA1.
Desenvolvido por pesquisadores americanos e brasileiros, o estudo teve como principais autoras as baianas Gabriela Felix, pesquisadora do Laboratório de Imunologia e Biologia Molecular da Universidade Federal da Bahia, e a oncologista e professora doutora Ivana Nascimento, que foi uma das orientadoras e coautora do estudo.
Segundo a oncologista Ivana Nascimento, que integra a equipe do NOB Oncoclínicas, o resultado da pesquisa confirma a importância da prevenção e a necessidade de redobrar os cuidados entre pessoas com histórico familiar ou que já nasceram com uma mutação genética que aumenta a possibilidade de desenvolver a doença.
Exames genéticos podem ajudar na prevenção de câncer de mama
Em Salvador, o NOB Oncoclínicas conta com um serviço de aconselhamento genético, que tem como objetivo avaliar o risco do indivíduo desenvolver câncer de mama e ovário hereditários por meio de uma criteriosa análise da história clínica pessoal e familiar do (a) paciente. O aconselhamento é indicado para pessoas que tiveram diagnóstico de câncer em idade jovem e/ou que possuem importante história familiar de câncer.
É possível realizar essa investigação através de exames feitos com amostras de sangue ou saliva. O exame consiste no sequenciamento de um painel de genes específicos, entre eles os genes BRCA1 e BRCA2, responsáveis por até 70-80% dos casos de câncer de mama e ovário hereditários. O exame é recomendado para indivíduos diagnosticados quando jovens, independentemente da história familiar, ou quando há um importante histórico familiar de câncer que sugira a possibilidade de mutação genética hereditária na família. Após a identificação de uma mutação patogênica, associada a maior risco de desenvolvimento de câncer ao longo da vida, o ideal é que familiares de primeiro grau também realizem o teste (mãe, pai, irmãos e/ou filhos) para que medidas de prevenção para estes também possam ser discutidas.
“O diagnóstico de uma mutação patogênica em algum dos genes em que se conhece a associação a maior risco de desenvolvimento de câncer não é uma sentença de que esse indivíduo irá desenvolver a doença, mas, neste caso, a probabilidade é maior do que na população em geral e, por isso, medidas específicas de rastreamento e prevenção devem ser abordadas na consulta de aconselhamento genético”, explica a oncologista Luciana Landeiro, da equipe do NOB Oncoclínicas.
Estilo de vida e prevenção
“Apesar da hereditariedade ser um dos fatores de risco para casos de câncer, vale lembrar que a genética familiar representa um percentual relativamente baixo de todos os diagnósticos da doença. O estilo de vida é um dos principais responsáveis pelo surgimento de vários tipos de câncer, principalmente fatores como sobrepeso, obesidade, tabagismo, sedentarismo, consumo excessivo de bebida alcoólica e hábitos alimentares inadequados”, explica Luciana Landeiro.
“Manter-se no peso adequado, fazer atividade física regular, ter uma alimentação saudável, não fumar e realizar os exames de rotina são grandes aliados da saúde em geral e na prevenção de vários tipos de câncer”, conclui a médica.