A Polícia Civil de Florianópolis já identificou o homem que ameaçou em 2016 a mulher transexual Jennifer Celia Henrique, de 37 anos, encontrada morta na última sexta-feira (10) em Florianópolis, Santa Catarina, com sinais de “pauladas” na cabeça.
“[Ele] já foi identificado e será inquirido”, disse o delegado Eduardo Mattos, da Delegacia de Homicídios da Capital, responsável pelas investigações. O depoimento dele e de outras testemunhas acontecem nesta terça-feira (14).
Vendedora de produtos de beleza e perfumaria, Jennifer foi encontrada morta na manhã de sexta em uma construção abandonada no bairro Ingleses, norte da ilha.
No ano passado, ela prestou queixa à polícia porque um homem que morava em seu bairro a perseguia e a impedia de frequentar determinados lugares. Segundo o BO (boletim de ocorrência), o vizinho a agrediu verbalmente com “palavras de baixo calão” e chegou a ameaçá-la. As informações são da Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina e da Delegacia Geral da Polícia Civil.
Essa foi a segunda queixa de Jennifer à polícia. Em 2013, a vendedora e ativista foi agredida por dois jovens quando voltava para casa, após sair de uma festa. Ela chegou a desmaiar na ocasião e por isso não identificou os agressores.
O delegado Eduardo Mattos afirma que todas as hipóteses para o crime são consideradas.
— É cedo para definir uma linha de investigação e não descartamos nenhuma hipótese. Crime envolvendo homofobia ou homicídio passional, enfim. A princípio descartamos a possibilidade de latrocínio, uma vez que não foi levado dinheiro da vítima.
Segundo Mattos, “já foram intimadas e identificadas testemunhas, bem como colhidos imagens das câmeras de monitoramento nas proximidades do local”.
Troca de delegado
O delegado Eduardo Mattos assumiu o caso no final de semana em substituição ao delegado anterior, Ênio Mattos, ambos da Delegacia de Homicídios da Capital.
Em entrevista ao site de notícias Hora de Santa Catarina, Ênio Mattos havia descartado já na sexta a possibilidade de crime de ódio, afirmando se tratar de uma “transa mal acertada”. O delegado ainda insistiu naquele dia em tratar a mulher trans como homem.
“Acredito que [a mudança de delegado] aconteceu pela indignação do movimento social”, declarou Lirous ao R7.
— A gente conseguiu que um delegado que tivesse responsabilidade assumisse o caso, porque a gente percebeu que o anterior não tinha responsabilidade alguma nem empatia pelo caso. É bem complicado para nós perceber que a gente ia se sentir desamparada pelo poder público.
A Delegacia Geral da Polícia Civil afirmou à reportagem que a opinião do delegado não representa a visão da corporação e que a mudança ocorreu por uma questão “territorial”, já que o assassinato aconteceu na região norte da ilha de Florianópolis, onde o novo delegado, Eduardo, já atua em investigações desde o início de fevereiro.
Violência generalizada
O Brasil é o país que mais mata gays, lésbicas, travestis e transexuais em todo o mundo. Em 2016, 343 pessoas foram assassinadas, segundo o Grupo Gay da Bahia, que faz um relatório anual dos assassinatos — sequer existem estatísticas oficiais sobre o assunto.
Dos 343 assassinatos de pessoas LGBTS no ano passado, 173 eram gays (50%), 144 (42%) trans (travestis e transexuais), 10 lésbicas (3%), 4 bissexuais (1%), além de 12 heterossexuais também em crimes homofóbicos — eram amantes de transexuais, chamados “T-lovers”.
O caso que mais chamou atenção recentemente foi a morte da travesti Dandara dos Santos, em Fortaleza, Ceará.
Ela foi apedrejada em plena rua e morta a tiros em seguida. O crime aconteceu em 15 de fevereiro, mas só mobilizou as autoridades no início do mês, quando um vídeo do espancamento caiu nas redes sociais.
R7