Há pouco mais de dois anos, o nome do saltador Ricardo Oliveira, da classe T11, sequer figurava na lista de competidores das principais competições internacionais do atletismo paralímpicos. Na manhã desta quinta-feira (8), ele foi até o limite para garantir sua primeira medalha paralímpica – e justamente uma da cor dourada. Em sua primeira Paralimpíada, aos 34 anos, coube a ele ser o primeiro brasileiro a alcançar o degrau mais cobiçado do pódio.
O ouro veio no esforço final de Ricardo, no sexto salto, após duas tentativas invalidadas: antes de partir para sua última chance, ele aparecia um centímetro atrás do norte-americano Lex Gilette, medalhista de prata da prova nas três últimas Paralimpíadas – Atenas 2004, Pequim 2008 e Londres 2012. Mas o voo do brasileiro, que cravou 6m52 após quatro tentativas válidas, foi mais do que suficiente para forçar o quarto vice-campeonato consecutivo de Gilette, dono do atual recorde mundial, e confirmar o melhor resultado de sua carreira. O bronze ficou com o ucraniano Ruslan Katyshev, que atingiu 6m20.
“Apesar de estar brigando desde o começo, eu já queria me garantir no primeiro salto, que acabei queimando. Isso me deixou mais pilhado e decidi que não iria errar mais nenhum. Eu senti que viria o ouro quando eu finalizei o salto. Ali eu senti que era um ouro se eu não tivesse queimado. Até o momento em que saí da caixa de areia, eu estava muito preocupado, porque poderia ter sido uma queima e eu teria errado um excelente salto”, conta.
Este foi o salto da vida do novo campeão paralímpico: o mais longe que ele tinha chegado, até então, foi 6m40. “Já alcancei 6m56, mas o índice não foi computado oficialmente por ter sido a favor do vento”.
Com dois anos de idade, o novo campeão paralímpico do salto em distância foi diagnosticado com doença de Stargardt, uma condição genética que afeta a visão. Sem enxergar, ele só consegue saber quem está na sua frente e quanto precisa saltar para terminar entre os primeiros por meio das informações de seus treinadores. “Quando o norte-americano fez o quinto salto e assumiu a liderança, a gente combinou de não falar para ele qual tinha sido a marca e que ele tinha sido ultrapassado. Não quisemos que ele soubesse para não ficar abalado”, conta o guia Celio Miguel da Silva, responsável por orientar a corrida do atleta.
Ricardo acha que desconhecer as parciais após cada série de saltos acaba sendo um trunfo para ele. “Prefiro estar concentrado em mim mesmo, no meu guia e na prova. Só penso no que eu vim fazer aqui”. A notícia do ouro chegou por meio da vibração da torcida, que explodiu em festa ao ver a marca. “O meu maior desafio era superar a mim mesmo. Os meus concorrentes vieram para cima e não fizeram corpo mole. Foi uma prova bem disputada”.
Antes de aterrisar para o título nos Jogos Paralímpicos do Rio de Janeiro, o desempenho mais expressivo de Ricardo no circuito internacional foi um quarto lugar na mesma prova no Mundial de Doha, no Catar, no ano passado. Ele brigava pelo título até a última rodada de saltos, quando acabou despencando três posições e, como ele mesmo diz, “os outros atletas levaram a minha medalha”: “Isso me fortaleceu muito. Tive noção do que é uma competição internacional e sabia que eu teria que ser mais confiante e competir com mais garra. Eu já entrei nesta final sabendo que ou eu ganhava a prova ou eu ganhava a prova. E consegui fazer na competição o que eu vinha fazendo nos treinos, de Doha para cá”.
Ricardo é irmão da campeã e recordista mundial Silvânia Costa de Oliveira, que também compete no salto em distância T11. Silvânia também não enxerga graças à mesma doença que comprometeu a visão de Ricardo. Mesmo tendo ingressado no esporte mais tarde, ela acabou se tornando a grande inspiração do irmão mais velho. “Nós somos muito unidos e chegamos até aqui graças à nossa superação e à confiança que temos um no outro. Compartilhamos até mesmo o material esportivo. Se Deus quiser, sairemos daqui com as nossas medalhas de ouro”. Silvânia terá a chance de igualar o feito do irmão na quinta-feira (16), às 11h05.
O Brasil encerrou a primeira sessão de provas do atletismo paralímpico, disputada nesta manhã, no Engenhão, com duas medalhas: a prata de Odair Santos nos 5000m T11 e o ouro de Ricardo Oliveira, no salto em distância na mesma classe. A partir das 17h, começam as provas da sessão vespertina, com brasileiros em ação nas classificatórias de cinco provas e na final do arremesso de peso F57, com Roseane Santos, a Rosinha.
ebc