O ex-diretor do setor de operações estruturadas da Odebrecht Hilberto Mascarenhas afirmou em sua delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato que a empreiteira distribuiu US$ 3,39 bilhões de propina entre os anos de 2006 e 2014.
Os relatos do executivo impressionam ainda mais ao comparar os valores desembolsados ilicitamente com os lucros apresentados pelos balanços anuais da empreiteira.
Em 2012, ano em que a empresa conquistou um Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) de US$ 3,957 bilhões, o valor pago em propina alcançou os US$ 730 milhões.
Significa dizer que a empreiteira desembolsou naquele ano um valor correspondente a 18,45% de seu faturamento líquido para os pagamentos ilegais.
Foi neste momento que Mascarenhas, chefe do departamento que cuidava dos repasses a políticos, conta ter conversado com o então presidente da construtora, Marcelo Odebrecht, sobre o “suicídio” financeiro que estava em andamento em função do alto volume de repasses ilegais.
— Fui ao Marcelo [Odebrecht] várias vezes e disse: não tem condição, US$ 730 milhões é bilhão. Nenhum mercado tem essa disponibilidade de dinheiro por fora e não tem como operar isso. É suicídio.
No ano de 2014, o valor pago pela empresa em propina teria caído 40%, para US$ 450 milhões, de acordo com a planilha apresentada à força-tarefa da Lava Jato. Apesar da redução, o dinheiro representa 7,18% do Ebitda da empresa, que totalizou US$ 6,267 bilhões nos 12 meses daquele ano.
O período compreendido entre 2009 e 2011 também mostra os repasses de propina equivalentes a mais de 10% do Ebitda contabilizado pela empreiteira. Entre 2006 e 2008, os balanços da Odebrecht eram apresentados com os valores apenas em reais, impossibilitando a comparação. No período, Mascarenhas relata o pagamento de, respectivamente, US$ 60 milhões, US$ 80 milhões e US$ 120 milhões.
A planilha com os gastos detalhados da Odebrecht foi apresentada à PGR (Procuradoria-Geral da República) e ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Ao todo, os valores citados por Mascarenhas apontam para um repasse de US$ 3,39 bilhões (R$ 10,64 bilhões na cotação atual do dólar) entre 2006 e 2014.
R7