Como você será aos 80 anos? Estará vivendo de maneira independente, será saudável de corpo e mente, com um círculo social grande?
Se conseguir isso, você será um dos superidosos. É uma aspiração válida, mas a realidade é muito diferente para a maioria das pessoas.
Apesar de estarmos vivendo mais tempo, um grande número desses anos extra será passado enfrentando problemas de saúde – em geral, sofrendo de doenças crônicas.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até 2060 a população com 80 anos ou mais no Brasil deve somar 19 milhões de pessoas. A média de expectativa de vida atual no país é superior aos 75 anos.
O órgão diz que o crescimento da proporção de idosos no Brasil nas próximas décadas, se mantido o ritmo atual, será mais de duas vezes mais rápido que a média mundial.
O envelhecimento da população é uma preocupação global – em todo o mundo, o número de pessoas com 65 anos ou mais deve quase triplicar até 2050, chegando a 1,5 bilhão.
Vencedora, e não ‘derrotista’
Aos 84 anos, Irene Obera é a mulher mais rápida de sua idade no mundo. Ela vem quebrando recordes mundiais do atletismo Master há quatro décadas.
Ela tem o porte e o físico de uma pessoa no auge da saúde e faz parecer que a idade cronológica é irrelevante.
Sua filosofia é simples: “Um derrotista nunca vence e um vencedor nunca desiste – e eu quero ser uma vencedora”.
Ser uma vencedora, diz Obera, envolve determinação, persistência e esforço.
Irene e seu treinador, Alan Kolling, treinam de três a quatro vezes por semana na Chabot College, em San Francisco.
Depois disso, fazem sessões de tênis, de boliche e de musculação. Irene está em movimento o dia inteiro. “Se você não usa (o corpo), você perde”, diz, sorrindo.
Seu único período com a saúde prejudicada foi o momento em que ela derrubou, sem querer, um peso em seu dedo do pé quando estava na academia.
Assim como outros superidosos, Irene mantém uma atitude positiva – seu horizonte não diminuiu na medida em que ela envelheceu.
Ela é conectada socialmente e trabalha como voluntária no seu bairro. Além disso, no seu círculo estão as pessoas que conhece através do esporte.
Envelhecer bem tem a ver como exercitar a mente, além do corpo. Acredita-se que um em cada três casos de demência poderia ser prevenido se mais pessoas se preocupassem com sua saúde mental ao longo da vida.
Tratamento para a idade?
Em uma aula de literatura francesa na Universidade de Berkeley, na Califórnia, todos os alunos tinham cerca de 70 anos, e mantinham a mesma curiosidade e atitude positiva que parece ser típica dos superidosos.
“Eu adoro literatura e língua francesa, mas também estou aqui para exercitar a mente – minha mãe teve o mal de Alzheimer”, diz Pamela Blair, uma psicóloga aposentada de 76 anos.
A ideia de que o envelhecimento pode ser tratado está ganhando força na comunidade científica, em parte por causa do trabalho dos pesquisadores no Instituto Buck para a Pesquisa sobre Envelhecimento, que fica próximo ao Vale do Silício, na Califórnia.
O local tem quase 300 cientistas, espalhado por 18 laboratórios, que investigam a conexão entre o envelhecimento e o aparecimento de doenças crônicas.
O que o câncer, as doenças cardíacas e vasculares, a demência e a osteoartrite têm em comum? O fato de que as chances de ter qualquer uma delas aumenta com a idade.
“Não é uma coincidência que todas essas doenças ocorram ao mesmo tempo. Achamos que há processos básicos de envelhecimento que causam todas elas”, diz Judy Campisi, uma das principais cientistas do Instituto Buck.