O contribuinte brasileiro bancou nos últimos anos o funcionamento de quatro escritórios da Presidência da República fora de Brasília. Sem uso aparente pelo presidente Michel Temer (PMDB) e pela antecessora, Dilma Rousseff (PT), os locais custaram R$ 2,86 milhões entre 2014 e 2016.
Os dados foram fornecidos pelo Palácio do Planalto a pedido do R7, por meio da Lei de Acesso à Informação.
A maior parte dessa despesa foi com o pagamento de servidores, que chegaram a somar 18 em 2016. A folha de pagamento nos três anos foi de R$ 2,65 milhões.
Os escritórios de Belo Horizonte e de Porto Alegre foram os que mais tiveram gastos: R$ 877 mil e R$ 811 mil, respectivamente.
As unidades de Belo Horizonte e Porto Alegre foram abertas durante a gestão de Dilma, para compromissos profissionais da petista quando ela estivesse nas duas capitais. No caso de Porto Alegre, a presidente nunca utilizou o local.
O escritório da Presidência em São Paulo continua ativo, assim como o Escritório Especial da Secretaria de Governo em Altamira, cidade com 109 mil habitantes no interior do Pará.
Atualmente, o escritório do Pará tem cinco servidores pagos pela União. A folha de pagamento custou ao governo, entre 2014 e 2016, R$ 511,8 mil. Também houve nesse período gastos adicionais de R$ 69,6 mil.
A coordenadora-geral do escritório de Altamira é Elisangela Trzeciak, que recebeu R$ 6.939,06 de salário em fevereiro. De acordo com o Portal da Transparência, o cargo dela, de 40 horas semanais, é comissionado.
A reportagem ligou para o local em duas ocasiões, uma delas na sexta-feira (7), em que uma funcionária informou que Elisangela estava em viagem a trabalho e que retornaria na semana seguinte. Na terça-feira (11), ninguém atendeu o telefone.
O Palácio do Planalto informou que “os gabinetes de Porto Alegre e de Belo Horizonte foram fechados nas datas de 7/11/2016 e 14/06/2016, respectivamente” e que “já houve determinação para fechamento do escritório de Altamira, o que deve acontecer em breve”.
O governo não respondeu, no entanto, qual é a necessidade de manter um gabinete no interior do Pará.
Os imóveis de Belo Horizonte e São Paulo pertencem ao Banco do Brasil e o de Porto Alegre à Petrobras. Todos eram emprestados à União.
Em São Paulo, uma funcionária não quis responder se o presidente Michel Temer ou ministros costumam usar o local. O chefe do gabinete, Arlon Viana Lima — cujo salário em fevereiro foi de R$ 9.451,28, segundo o Portal da Transparência — não retornou a ligação da reportagem.
Vale lembrar que Temer costuma fazer reuniões na casa dele, no Alto de Pinheiros, quando está em São Paulo.
Em 2011, Dilma esteve no prédio para uma reunião com o então prefeito Gilberto Kassab e com o governador Geraldo Alckmin para discutir assuntos referentes à Copa do Mundo. Esse é um dos poucos registros que se tem de um chefe do Executivo naquele gabinete.
O gabinete paulista ocupa todo o terceiro andar do prédio do Banco do Brasil, na esquina da avenida Paulista com a rua Augusta, um dos endereços comerciais mais caros da cidade.
Além do teceiro andar, a União ainda tem faz uso do 1º subsolo e de 14 vagas de garagens do edifício, totalizando 1.020 m².
O termo de cessão de uso do espaço, ao qual o R7 teve acesso, diz ainda que “correrá por conta do cedente [Banco do Brasil] o pagamento das despesas de água, energia elétrica e condomínio, bem como de todos os encargos fiscais que incidem ou venham a incidir sobre a área cedida, compreendendo-se nessa expressão os impostos, taxas e quaisquer contribuições federais, estaduais e municipais”.
Com isso, o custo do gabinete aos cofres públicos pode ser considerado mais alto do que os R$ 2,65 milhões, uma vez que Banco do Brasil, também arca com despesas da União.
Para efeito de comparação, o aluguel mensal um conjunto comercial na avenida Paulista com 1.151 m² incluindo 12 vagas de garagem gira em torno de R$ 104 mil.
Em 2012, o gabinete da Presidência em São Paulo, criado por Lula, esteve no centro da mídia. A razão era o envolvimento da ex-chefe do escritório, Rosemary Noronha, em um esquema de compra de pareceres técnicos em órgãos federais.
Rosemary, que era muito próxima de Lula, assumiu o gabinete paulista em 2006, por indicação do então presidente. Ela tinha direito a três assessores, motorista e recebia cerca de R$ 12,5 mil por mês.
Em fevereiro, o prédio da avenida Paulista foi palco de um acampamento do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) que durou quase um mês. Naquela época, moradores da região fizeram um abaixo-assinado pedindo a retirada do gabinete presidencial.
A vizinhança diz que o escritório no local se tornou um chamariz de manifestações.
R7