Fiz a pergunta no título, mas não sei responder com precisão, por isso darei minha opinião ao fim do texto. Antes de mais nada, nenhum desrespeito a ícones como Rodrigo Minotauro, Mauricio Shogun, Wanderlei Silva, Royce Gracie e outros pioneiros do esporte no Brasil, atletas que enfrentaram preconceitos e desbravaram a modalidade em terras estrangeiras, em especial no Japão, onde o Pride fez sucesso em escala mundial nos anos 2000.
Galeria de ídolos brasileiros no MMA é extensa, mas Anderson Silva e José Aldo foram dois dos atletas mais dominantes da história desse esporte. Além de múltiplas defesas de cinturão das categorias em que reinavam no UFC, havia um sentimento de imbatibilidade, como se eles fossem ser campeões para sempre. Não foi o caso, ambos encontraram algozes e sofreram derrotas contundentes, mas nada que apagasse seus legados.
Creio que o maior mérito de Anderson foi ter conseguido se reinventar quando já era um veterano. Até os 30 anos, Spider era um competidor agressivo, que andava para frente e visava o nocaute, ao estilo Chute Boxe de Curitiba. Reveses na carreira e a mentoria de Minotauro foram responsáveis por uma metamorfose, o brasileiro rodou eventos periféricos até chegar ao UFC, onde passou a se comportar como um contra-golpeador.
Acontece que o estilo sprawl and brawl não combinava com Anderson, que tinha uma defesa de quedas ruim e um jiu-jitsu bem adaptado para defesa, mas pouco versado em finalizações ou raspagens. Melhor seria se Spider passasse a esperar o adversário e reagisse aos ataques, estratégia que funcionou com maestria. Se um rival ficasse parado na frente dele, sem tomar iniciativa, tudo bem provocá-lo, abaixar a guarda ou tentar algo diferente, como o chute frontal no queixo de Vitor Belfort. Mas não mais passaria a caçar os oponentes.
A transformação de José Aldo aconteceu no começo da carreira dele, por obra do técnico Dedé Pederneiras. O motivo foi mercadológico, porque o treinador entendeu que fã norte-americano não gostava de luta agarrada. Faixa preta de jiu-jitsu da conceituada Nova União, o lutador manauara já apareceu no cenário internacional, primeiro no WEC, como um nocauteador agressivo, capaz de quase aleijar rivais de suas pernas, e um competidor completo.
Com o passar dos anos, Aldo se tornou pouco interessante para o UFC. Tratava-se de um campeão que não falava inglês, morava no Brasil, portanto longe das ações publicitárias da organização, e fazia lutas monótonas. O manauara era tão completo que conseguia dominar os adversários nas áreas onde eles eram falhos, à la Georges Saint-Pierre, além de ter uma tendência a desacelerar com o passar dos rounds. Depois de garantir os três primeiros assaltos, só administrava o combate até o gongo final.
Aldo deve se despedir do UFC no dia 11, em evento no Rio, cidade onde mora desde a adolescência. Para quem gosta de lutadores com qualidade, vai fazer muita falta. Com razão ele se sentiu desprestigiado pelo UFC e injustiçado quando não lhe foi concedida uma revanche imediata contra Conor McGregor, após ser nocauteado pelo irlandês em 13 segundos. Para mim, o manauara é o melhor atleta de MMA que o Brasil já produziu.
Mas essa não é a pergunta do título. Em termos de impacto, realizações e repercussão, esse feito é de Anderson Silva. O Spider aproveitou o timing perfeito do início da popularização do MMA no Brasil e até personificou o esporte no País. Pode ser coincidência, mas o interesse do público na modalidade diminuiu depois das derrotas dele para Chris Weidman, da lesão horrorosa na canela e dos flagras do ex-campeão em exames antidoping.
Ainda assim, Anderson segue o responsável pelas maiores audiências no Brasil relacionadas à modalidade, fruto de feitos ainda não igualados no UFC. Maior tempo de reinado em uma categoria (2457 dias), mais longa sequência de vitórias (16), maior número de lutas por título finalizadas, seja por nocaute ou submissão (nove), maior número de nocautes (17), maior número de knockdowns em lutas por título (dez), maior número de nocautes em lutas por título (sete), entre outras realizações.
Sim, Anderson não fez sucesso no Pride. Sim, Anderson contou com uma sequência de adversários medianos no UFC. Mas o tamanho da rivalidade dele com Chael Sonnen, por exemplo, é incomparável. Gostem do Spider ou não, o impacto dele é inegável. No UFC 237, talvez seja a última vez que os dois vão lutar no Brasil, provável que nunca mais aconteça de os dois serem escalados no mesmo evento. Desfrutem.
R7