Pesquisas revelam o empreendedorismo feminino no cenário empresarial e seus impactos positivos na geração de emprego e renda e na realização pessoal
Na indústria, no comércio ou na prestação de serviços, as mulheres se destacam cada vez mais no cenário empreendedor do país. A taxa de empreendedorismo feminino entre os novos empreendedores – aqueles que possuem um negócio com até 3,5 anos – revela a presença do gênero na condução dos negócios. Ela é de 15,4%, superando a masculina, de 12,6%, de acordo com os dados da pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2016, realizada pela parceria entre Sebrae e Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP).
O Brasil registrou um aumento de 34% no número de mulheres empreendedoras, entre 2001 e 2014, como revela a pesquisa Donos de Negócios – Análise por Gênero 2015, elaborada pelo Sebrae com dados da Pnad/IBGE de 2014. Em 2014, eram 7,9 milhões as empresárias em atuação no mercado e, desse total, 98,5% como donas de Micro e Pequenas Empresas (MPE).
Empreendedoras como Isabel Castro, que em 2011 decidiu reunir toda sua experiência na elaboração de showroom para lojas e montou um escritório para venda de móveis no setor corporativo, criando a Estúdio Contract Comércio de Móveis. A qualidade do trabalho começou a atrair o público final, e fez a empresária deixar de atender apenas as construtoras.
Do bairro da Barra, a microempresa passou para o Rio Vermelho, onde os desafios só cresciam. “Fui com uma loja de mais de 200 metros quadrados e, logo após, tive que enfrentar um ano e meio da obra de requalificação do bairro, exatamente na minha porta, o que impossibilitava a ida do cliente. Passei por dois roubos, que me causaram grande prejuízo, financeiro e emocional, e forçaram a minha saída do bairro”, conta Isabel.
Mesmo com motivação suficiente para encerrar o negócio, ela apostou em um espaço diferenciado e com perfil sustentável no bairro de Vilas do Atlântico, mesclado com muita arte local e que, além de comercializar peças e móveis, promove palestras para estudantes de design, decoração e arquitetura. “Invisto em diferenciais para me manter no mercado, como criatividade, prestar um serviço que supere a expectativa do seu cliente, gerar soluções econômicas e criativas para as residências, escritórios, consultórios”, revela.
No ano passado, Isabel vivenciou a experiência de participar pela primeira vez do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios, contando a sua história de empreendedora. “O relato me fez praticar uma autoavaliação e me motivou. Em um momento tão difícil que vivemos, já é um grande estímulo conseguirmos inspirar alguém”, explica sobre o incentivo que sua história dá a outras mulheres.
Já entre os pequenos negócios do Oeste Baiano, a empresária Maísa Lopes desafia a regra de um mercado essencialmente masculino e conduz um negócio sólido de revenda de baterias automotivas há seis anos. A Mega Baterias, localizada na cidade de Luís Eduardo Magalhães, veio como uma saída para a empresária, que decidiu abandonar o trabalho de 17 anos como contabilista em empresa privada após problemas de saúde decorrentes da estressante rotina.
“Via um mercado com oportunidade de crescimento. O fato de ser mulher me trouxe um diferencial de perceber isso. Mas, no início, foi bem desmotivador, perceber que tinha saído de um salário fixo para arriscar empreender. E ter meses em que nem conseguia pagar as despesas fixas era desestimulante”, lembra Maísa, que contava com apenas um funcionário.
As dificuldades fizeram a empresária querer aprender mais sobre o segmento, visitando as fábricas produtoras e se especializando nas capacitações do Sebrae. Além de cursos voltados para a gestão financeira, Maísa ingressou no programa Negócio a Negócio de atendimento e orientação empresarial gratuito. “O consultor nos acompanhou e foi muito importante, inclusive para a gente alinhar o projeto de expansão, para abrir mais uma loja da marca, que pretendo fazer até o final do ano”, revela.
Outro diferencial da empreendedora foi apostar na qualidade da prestação do serviço, lançando a tele-entrega, com capacidade para socorrer o cliente em qualquer local. “O foco sempre foi o atendimento ágil e prestativo, capaz de resolver o problema do cliente da melhor forma possível”, explica.
A empresária passou a ser uma fomentadora de empreendedorismo ao compartilhar o relato de sua história na última edição do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios. “Sou uma mulher realizada e faço questão de dizer que o poder vem através dos nossos esforços, da dedicação, autoconfiança e cautela”, resume.
Qualificação
A vocação empreendedora de Márcia Neves tem como aliadas as soluções Sebrae no desafio de consolidar o negócio de confecção dos painéis e cabeceiras de cama estofadas, a ArtCouro, no bairro de Jardim das Margaridas. Participação no Seminário Empretec, cursos para elaboração de preço, aprimoramento nas vendas, marketing, gestão de pessoas, dentre outros, estão entre os investimentos da empresária. “Muita coisa das soluções do Sebrae eu coloquei em prática, apesar de não ter começado meu negócio da forma correta, com um plano de negócios. Mas a base mesmo veio com o Sebrae, que sempre recomendo”, conta.
Antes de estruturar a ArtCouro, há cerca de 9 anos, a empreendedora exercia sua capacidade de empreender, vinda da facilidade de relacionamento com o público e vocação nata para vendas. “Comecei revendendo roupas como autônoma, por 10 anos, indo buscar em São Paulo e comercializando aqui em Salvador. Depois, me juntei com meu irmão e estamos no mercado, hoje com mais três funcionários”, lembra.
Membro do Sindicato da Indústria do Mobiliário do Estado da Bahia (Moveba), Márcia conta como o gênero feminino é pouco representado nesse segmento. “Nas reuniões do sindicato, por exemplo, fico como a única mulher em um grupo de 15 pessoas, pelo menos”. A estratégia de se firmar nesse cenário de predomínio masculino envolve garantia de uma qualidade ímpar, profissionalismo e o relacionamento com o cliente, maioria lojistas.
Momento favorável
O cenário é positivo para quem deseja empreender, mas é preciso estar atenta a algumas iniciativas que vão aumentar as chances de ter um negócio bem sucedido. De acordo com a gerente da Unidade de Atendimento Individual do Sebrae Bahia, Fernanda Gretz, é fundamental que a empreendedora avalie a oportunidade de negócio, a localização da empresa, o segmento em que deseja atuar, os potenciais clientes, dentre outros aspectos. “Começar pela elaboração de um Modelo de Negócios, utilizando a metodologia Canvas, por exemplo, já é ótima iniciativa para verificar antecipadamente como será o negócio na prática e prever algumas dificuldades que somente encontraria após a empresa funcionando”, detalha.
A gerente lembra que o Sebrae disponibiliza soluções para fomentar o empreendedorismo. “Para quem deseja iniciar um negócio, temos a Sexta da Oportunidade, na qual temos, por exemplo, Oficinas sobre o Modelo de Negócios Canvas às sextas-feiras”, revela. Fernanda cita ainda a ferramenta gratuita Radar Sebrae, disponível no site www.radarsebrae.com.br e também por aplicativo (iOS e Android). “Por meio dela, é possível identificar quais os melhores pontos para localização do negócio, além de indicar algumas ideias para os potenciais empresários iniciarem em determinadas localidades”, completa.