Na próxima quinta-feira, dia 9/02, a partir das 21h, sobe ao palco da Casa da Mãe pela primeira vez a cantora, compositora, multi-instrumentista Bia Ferreira. Passeando por ritmos afrodiaspóricos como o soul, o r&b, e o rap, mesclados a referências da música brasileira como o samba e o repente, ela diz que “faz arte para mexer com a mente e com o corpo das pessoas”. Compositora reconhecida por letras contundentes, busca facilitar a compreensão de temas importantes como necropolítica, cotas raciais, antirracismo, a luta pelos direitos das mulheres, da população lgbtqiap+ e a afetividade destes corpes, a fim de pautar tecnologias de sobrevivência através da arte. Baseada no conceito de “escrevivência”, idealizado por Conceição Evaristo, Bia prioriza discorrer sobre sua vivência, trazendo com propriedade de vida coerência para suas canções.
Filha de uma família tradicional evangélica, Bia estuda música desde criança. Sua mãe, regente de coral, pianista e professora de canto, a introduziu na educação musical bem cedo. Aos três anos, começou a estudar piano e entrou posteriormente no Conservatório Brasileiro de Música. O piano foi sua base musical até o começo de sua carreira, quando passou adotar o violão, pela facilidade de locomoção e popularidade do instrumento. Bia também domina outros 24 instrumentos musicais, entre eles, baixo, guitarra, escaleta, xilofone, flauta doce e transversal, bateria, entre outros.
Por volta dos 12 anos, Bia escreveu sua primeira canção; na letra, ela pedia a Deus para não ser lésbica, uma angústia resultante de sua educação religiosa. Hoje a cantora dialoga sobre política, liberdade de raça e gênero e principalmente sobre afeto. Iniciou as suas atividades musicais no ano de 2009, aos 15 anos. Foi por volta desta época que começou a se inteirar sobre assuntos como feminismo negro e educação antirracista, através do grêmio estudantil. Saiu de casa cedo e criou o projeto Música Ambulante, pegando carona e tocando por diversas cidades percorrendo mais de 24mil km pelo Brasil afora. Ela afirma que essa foi a melhor forma de conhecer o público que gostaria de atingir e aprender sobre formas mais eficazes de comunicar sua arte.
Artista de rua, como ela muito se orgulha em dizer, começou a desenvolver formas diferentes de tocar violão para atrair maior atenção dos ouvintes, como tocar com o instrumento atrás da cabeça ou com uma mão só, sempre gerando curiosidade e arrancando aplausos por onde passava devido à qualidade musical que apresentava e o amor com a qual executava suas canções. “Cota Não É Esmola” foi composta em 2011 e se tornou um de seus maiores sucessos junto de “De dentro do apê” e “Não precisa ser Amélia” compostas algum tempo depois, e também muito conhecidas pelo seu público. Por envolver temáticas ligadas ao então inédito sistema de cotas no SISU e a questões estreitamente ligadas à subalternidade das mulheres negras no Brasil, Bia gerou muita identificação por parte das pessoas que, ao ouvi-la, se identificavam com a narrativa. A session de”Cota Não É Esmola”, é o vídeo mais assistido do projeto “Sofar Sounds” na América Latina e o quarto vídeo mais assistido desse mesmo projeto, do mundo, além de ser leitura obrigatória para os vestibulares da Universidade de Brasília sendo citado em várias provas universitárias e secundaristas pelo Brasil. Presente também nos livros de história do 1o ao 4o ano do sistema SESI-SP de ensino.
Entre 2015 e 2016, Bia deixa Aracaju com destino a São Paulo, com intuito de aumentar o alcance de seu trabalho autoral. O sucesso veio em março de 2018, quando foi lançado o seu registro (acústico) de “Cota Não É Esmola” pela equipe brasileira do Sofar Sounds e que, hoje, ultrapassa os 13 milhões de visualizações. Seu primeiro álbum foi um registro ao vivo pelo Estúdio Showlivre, publicado em novembro de 2018.
Desde 2013, Bia estava investindo em seu primeiro álbum de estúdio, Igreja Lesbiteriana, Um Chamado, publicado no dia 13 de setembro de 2019, quando conheceu o produtor Vinícius Lezo. As letras do disco são escritas sob conceitos de estudos de comunicação como oratória e PNL que, segundo Bia, ajudam o cérebro a assimilar melhor a mensagem de sua música. O álbum foi precedido pelo single “De Dentro do AP”, cujo clipe contou com produção 100% feminina, elenco 100% negro e um trecho com uma declamação de poesia de Thata Alves. A igreja referida no título remete a um espaço de acolhimento às pessoas que o “cristianismo” rejeitou. Seja pelo posicionamento político ou pela orientação sexual.
Igreja Lesbiteriana é sobre afeto e informação como tecnologia de sobrevivência para pessoas negras, indígenas LES BI T erianas, pregando a emancipação social, política e afetiva desses corpos enquanto um avanço social. Em 2019, realizou sua primeira turnê na Europa; com 7 concertos e 7 sold outs, desde então, Bia acumula fãs é muito respeito por todos os países onde passa. Desde então, não houve nem um ano em que sua arte não fosse requisitada tanto em países europeus, quanto na América Latina. Ainda em 2019, substituiu a atriz Larissa Luz no papel de Elza Soares nas apresentações do musical Elza em São Paulo e Rio de Janeiro em 3 temporadas do espetáculo. Sua performance resultou em sua primeira entrevista para um jornal de grande veiculação, o Estado de São Paulo. Em 1 de outubro de 2020, lançou o clipe “Boto Fé”. Inicialmente, um vídeo falso foi propositalmente colocado no ar em 25 de setembro, mostrando Bia no ano 2035 hackeando o sistema para colocar o vídeo “correto” no ar na nova data; a campanha de divulgação do trabalho envolveu uma carta escrita como que em 2035, ano em que a humanidade seria governada por robôs e satélites e os recursos naturais teriam se exaurido. A faixa teve parceria com BNegão.
Em dezembro de 2021, em sua primeira experiência como produtora musical, co-criou a faixa “Olhares Cruzados” pela plataforma Influência Negra para uma campanha publicitária de mesmo nome da marca Dove. Produção essa que foi premiada pelo prêmio IDBr Brasil. Em 10 de março de 2022, compôs a música “Agora Vai”, em parceria com Xamã e Lia Clark, em uma campanha publicitária discutindo o empoderamento financeiro para o banco Mercado Pago. Em shows mais recentes, Bia esteve na Europa, sendo aclamada pelo público e pela crítica, sendo assim convidada a escrever uma coluna no Jornal O Público, em Portugal, e tem tocado nas rádios pela Europa afora. Bia tem adotado, em sua narrativa, letras mais focadas em oferecer soluções para os problemas que ela outrora denunciava. Inaugurando uma nova fase em sua carreira. Em novembro de 2022 lançou um novo disco intitulado Faminta.
Nesse álbum, a cantora e compositora traz 21 temas divididos em duas partes. Na primeira parte, intitulada MPSFN, ela traz 8 faixas, colocando o afeto afrocentrado como representação de cura, abundância e vida; na segunda parte, Bia traz o seu Evangelho de Libertação da Igreja Lesbiteriana, outras 13 canções que se encarregam de fazer uma análise de conjuntura política dos últimos 4 anos no Brasil, com intuito de pautar o acesso à informação e ao conhecimento como a maior arma contra a desinformação e abandono que se instaurou no país. Bia traz nesse álbum a linguagem pop das love songs, assim como investe no ritmo e poesia (RAP) como forma de alcançar novos ouvintes para sua pregação. A última vez que um artista brasileiro lançou um álbum de 21 músicas foi nos anos 2000.
Serviço :
Show de Bia Ferreira
Dia 9 de fevereiro, às 21h
Na Casa da Mãe, na Rua Guedes Cabral, 81, Rio Vermelho.
Couvert a R$ 30
Informações e reservas através do WhatsApp 71999262101