Centenas de brasileiros vão estar no Vaticano, neste domingo (13), para acompanhar a cerimônia de canonização de Irmã Dulce.
Não há um cantinho da casa sem uma imagem de Irmã Dulce. A fé também está estampada no braço do gerente comercial Fred Brasileiro, um baiano que mora em Goiânia. Ele vai ao Vaticano com o pai, que se curou de um câncer em 2019. “Ter meu pai ao meu lado, curado, na fé que a gente tem na santa e ver isso ao vivo vai ser uma coisa mágica para nós dois”, contou Fred.
A funcionária pública Sheila Weber está indo por outro motivo: a admiração pelo trabalho da freira, que começou ainda na infância. Ela guarda muito material sobre a religiosa baiana que dedicou a vida aos pobres e fundou, em Salvador, um dos maiores hospitais filantrópicos do país. A coleção da Sheila ganhou agora mais um item: uma cópia da passagem de Salvador para Roma. “Eu sempre sonhei em estar lá e presenciar esse momento. É a realização, talvez, do maior sonho que eu já tive. É a grande viagem da minha vida, sem sombra de dúvida”, afirmou.
Uma viagem que vai ser feita por 6 mil brasileiros de todo o país. Quatro mil, só da Bahia. “Algumas agências tiveram aumento de 100% no número de passageiros embarcando para a Itália agora em outubro”, contou Ângela Carvalho, presidente da ABAV Bahia.
A fisioterapeuta Mirca Batista irá acompanhar de perto a canonização de uma antiga paciente. As sessões de fisioterapia para ajudar Irmã Dulce a respirar eram feitas no quarto da freira, onde ela morreu, há 27 anos. “Na grande maioria das vezes, ela dormia sentada, pela dificuldade respiratória que tinha”, lembra.
A emoção se mistura com a ansiedade. Um grupo de devotos decidiu ir juntos ao Vaticano para viver esse momento histórico. A expectativa é enorme. Só da Bahia, são dez caravanas, reunindo 600 pessoas.
O médico pneumologista Almério Machado acompanhou Irmã Dulce nos últimos dez anos de vida. O agora devoto quer ver a velha amiga alcançar a santidade: “ela era uma pessoa encantada e muito piedosa e muito caridosa. Ela era uma pessoa, assim, fora do comum”.
O Vaticano considera, oficialmente, que Irmã Dulce vai ser a primeira santa brasileira. E é importante tirar uma dúvida, porque muita gente se lembra da canonização de Madre Paulina, que se tornou Santa Paulina em 2002. Só que ela nasceu na Itália e a igreja não a reconhece como uma santa brasileira.
E um outro episódio que a história da igreja registra: em 2017, o Papa Francisco canonizou 30 fiéis assassinados por holandeses nos massacres de Cunhaú e Uruaçu, em 1645, no Rio Grande do Norte. Nesse grupo, havia cinco mulheres, que até hoje não foram identificadas. Todos são chamados de santos mártires.
E aqui tem uma diferença para o caso de Irmã Dulce: porque eles, os santos mártires, foram reconhecidos não por milagres, mas por terem dado a vida em nome da fé. Por isso, o processo de canonização deles foi diferente.
No podcast “O Assunto”, da Renata Lo Prete, no G1, tem as histórias de fé em torno da Irmã Dulce. O repórter Zé Raimundo conta a festa que a Bahia já está fazendo para celebrar a canonização da Santa Dulce dos Pobres, que é como ela vai passar a ser chamada, a partir de domingo. O Zé Raimundo conheceu a Irmã Dulce. Ele conta histórias curiosas e até divertidas dela, que era destemida e muito disciplinada. Ele fala do trabalho no Hospital Santo Antônio e do significado para todos aqueles que têm fé e principalmente para os baianos. E também tem uma entrevista com o jornalista Graciliano Rocha, que entrevistou mais de cem pessoas para escrever a biografia de Irmã Dulce.