A grande campeã do carnaval do Rio de Janeiro deste ano será conhecida nesta quarta-feira (1). A partir das 15h, as notas dos jurados serão lidas na Marquês de Sapucaí. Os quesitos avaliados foram harmonia, samba-enredo, evolução, comissão de frente, fantasias, alegorias e adereços, mestre-sala e porta-bandeira, enredo e bateria.
Neste ano, acidentes na Sapucaí, que deixaram feridos, prejudicaram a evolução dos desfiles e tiraram parte do brilho e da alegria do espetáculo das escolas de samba. Uma estrutura de 3,5 m da parte superior da segunda alegoria da Unidos da Tijuca desabou pouco tempo depois de entrar na avenida e um carro alegórico da Paraíso do Tuiuti que perdeu o controle e feriu ao menos 20 pessoas, na noite de domingo (26).
Cinco agremiações fizeram apresentações com cara de campeonato: Salgueiro, Beija-Flor, Imperatriz, Portela e Mangueira. Na segunda-feira (27), os destaques foram as duas últimas, que fecharam o carnaval carioca com bons sambas e passagens memoráveis.
A Mangueira buscou com fé e disposição conquistar o bicampeonato e o enredo “Só com a ajuda do santo”, originado do tributo prestado em 2016 à cantora Maria Bethânia e à sua religiosidade, foi bem traduzido pelo carnavalesco Leandro Vieira.
A Verde de Rosa, que faz 90 anos em 2018, já foi bicampeã quatro vezes em sua história.
Sob a inspiração do clássico samba de Paulinho da Viola “Foi um rio que passou em minha vida”, a Portela, em ano inspirado do carnavalesco Paulo Barros, considerado um dos inovadores do carnaval carioca da atualidade, mostrou uma sequência de alegorias de fortíssimo apelo visual e que usaram recursos tecnológicos surpreendentes.
A Sapucaí, que sempre recebe bem a tradicional escola da zona norte do Rio, a mais antiga do Grupo Especial (foi fundada em 1923), foi surpreendida desde a passagem da comissão de frente, que representava a piracema, passando pelos carros cheios de efeitos com água.
A Tijuca, atual vice-campeã, viveu um drama há muito não visto no Grupo Especial. A agremiação levou à Marquês de Sapucaí a história da música americana com o enredo “Música na alma, inspiração de uma nação”, e tinha alegorias e fantasias divertidas, que remetiam a diversos estilos musicais, como o blues, o country e o hip-hop. Entretanto, o que ficará na lembrança é a imagem triste do desabamento de parte do segundo carro e do choro de decepção de seus integrantes, acostumados aos bons resultados da escola.
Antes da Tijuca, cruzaram a avenida União da Ilha, São Clemente e Mocidade. A Ilha carnavalizou tradições e ritos de povos bantos e fez um desfile bonito; no entanto, teve dificuldades técnicas com o penúltimo carro. A apresentação da São Clemente foi leve e bem acabada, ambientada na corte do rei francês Luis XIV e com o bom gosto e capricho característicos da carnavalesca Rosa Magalhães. A Mocidade cantou o Marrocos e suas riquezas, com um samba melódico e carros alegóricos ricos e compostos por enormes esculturas articuladas, o que a credenciou para sonhar com o desfile das campeãs, do qual está fora desde 2003.
Primeiro dia
A primeira noite de desfiles do Grupo Especial do Rio teve momentos de genialidade carnavalesca e de tristeza e revolta. Tal qual cantou o Salgueiro, um dos destaques da noite, graças ao enredo original e bem desenvolvido, a Sapucaí foi do inferno ao paraíso. A noite começou com um acidente grave e raro com um carro alegórico do Paraíso do Tuiuti, que prensou contra a grade do setor 1 pessoas que estavam na pista, deixando 20 feridas, uma delas com risco de amputação de uma das pernas, e terminou com a bela apresentação da Beija-Flor, com sua visão poética do romance entre a índia Iracema e o português Martim Soares.
O insólito acidente foi causado por uma manobra equivocada do motorista do sexto e último carro do Tuiuti, que estava apressado, uma vez que a escola corria contra o tempo para fechar sua apresentação nos 75 minutos regulamentares (esse ano, o tempo de cada agremiação foi encurtado em sete minutos, para dinamizar o espetáculo). Ele entrou torto na avenida, o carro se desgovernou e foi para cima de jornalistas que cobriam o desfile no setor 1 e outros profissionais de serviço. O público do setor 1, por trás das grades, se apavorou, e começou a subir as arquibancadas, com medo de ser ferido.
A Grande Rio entrou na avenida ainda sob o impacto do acidente, mencionado por seu presidente ao microfone, Milton Perácio. A escola homenageou a cantora Ivete Sangalo, que conquistou o público em suas duas aparições: ela saiu com bailarinos já na comissão de frente, que representava de sua infância, na cidade Juazeiro, à glória, como uma das cantoras mais populares do País e também no último carro alegórico, um símbolo do encontro dela com a Grande Rio.
Na sequência, desfilou a Vila Isabel, com o enredo “O Som da Cor”. A Azul e Branca cantou a influência dos negros na música das Américas. O belo samba contagiou as arquibancadas, mas a escola pecou em fantasias e alegorias – o acabamento ruim era visível no último carro, em que Martinho da Vila veio de rei.
A apoteose viria com os dois últimos desfiles, o do Salgueiro e o da Beija-Flor. A Vermelha e Branca fez uma apresentação memorável, apoiada no samba, um dos melhores do ano, e na força de seu enredo. “A divina comédia do carnaval” foi baseado na obra de Dante Alighieri e, como prometido em seu hino, tingiu a avenida de vermelho e branco.
A Beija-Flor se esmerou nas fantasias e carros alegóricos, como de costume, e o samba foi cantado em bom som pelos componentes. Os carnavalescos, por conta da crise econômica e do enredo indígena, usaram materiais menos luxuosos do que de costume, como a palha, a cestaria e a madeira, com bom gosto e cuidado nos detalhes – caso das perucas negras usadas por quase todos os componentes fantasiados de índios e das peças de artesanato com referência ao Ceará, a terra de José de Alencar e de sua Iracema. A novidade das alas com fantasias diferentes para os desfilantes, como se fossem tribos, teve efeito visual interessante. O senão foi a repetição de índios e mais índios e animais da floresta. Para quem já havia visto os da Imperatriz e resistia ao cansaço e ao dia claro, ficou repetitivo.
Crises e mudanças
A crise financeira, que reduziu patrocínios e assombrou as agremiações, não desfilou na Sapucaí – os investimentos das escolas maiores foram da ordem de R$ 10 milhões e o que se viu foi o luxo de sempre, de quem pode gastar.
As novas regras da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba) resultaram em desfiles mais dinâmicos, como se queria. As alas fluíram melhor e o menor números de paradas nas cabines dos jurados para as performances das comissões de frente e casais de mestre-sala e porta-bandeira foram um ganho.
No entanto, a redução do tempo de desfiles de 82 para 75 minutos fez com que algumas escolas corressem para fechar a tempo, como o Tuiuti, a Grande Rio, a Beija-Flor, a Ilha e a Unidos da Tijuca.
R7