(Baseado em fatos reais)
Casamento marcado para 16 horas. Justamente num sábado, última rodada do Brasileirão da Série B. Em jogo, o acesso do Bahia à Primeira Divisão. Duas outras partidas acontecem em paralelo. A maré joga a favor, mas mudanças no tempo podem causar problemas à travessia.
O jogo começa. A noiva atrasa (como de costume). Casamento ao ar livre. Mesas ocupadas. Vê-se alguns celulares com TV (a anteninha entrega) e, olhando com mais cautela, dezenas de pontos brancos e negros a ocupar orelhas tricolores.
A noiva continua atrasada. Gol do Ceará. Gol do Bahia. Gol do Oeste. Gol do Oeste. Felicidade geral e um mais entusiasmado não se segura e grita. Bora Bahêa, deixando a frase incompleta ao lembrar o ambiente onde estava. A maré começa a virar. Vasco empata. Vasco vira, Atlético empata. Os semblantes mudam. Alguns torcedores do rival ainda tentam tirar alguma onda.
A noiva chega. Atlético vira. O pai da noiva com olhos vermelhos como quem engole o choro olha em direção a uma mesa e balbucia sem som:
– E aí, ta de quanto?
Muitos pensam que ele apenas brinca com os convidados, mas seu rosto está tenso. Para no altar, entrega a filha ao noivo. Olha numa direção qualquer:
– Tá de quanto?
Os amigos tentam dizer que tá perdendo, mas que o Náutico tá apanhando em casa, mas é uma frase muito longa.
O casamento está acabando. Depois dos votos, estouram dois fogos de artifício.
– Terminou, terminou? – muitos se perguntam.
Jogo acaba em Goiás, mas estaciona aos 39 do segundo tempo em Recife. Invasão de campo. Ameaça do jogo não terminar. Vasco vence. Tá 2×0 Oeste, somente uma virada em seis minutos que restam para 3×2 para acabar o sonho do retorno. Noiva sai. Para no meio do gramado, dança. A música é bonita, mas ninguém vai lembrar qual era. Olhos na dança, olhos nas pequenas TVs, olhos no WhatsAPP. Ouvidos atentos.
– E aí, terminou? – pergunta o pai da noiva ao se retirar olhando para os amigos nas arquibancadas, quer dizer mesas.
Noiva sai para voltar. Um convidado come um papel de bombom pensando ser um docinho. Outro se engasga. Mãos tremem. Muito barulho. No radinho, finalmente, alguém manda notícias de Recife. Acabou.
– Acabou!!!
– Acabou o quê? – pergunta uma senhorinha do lado.
– Acabou, porra, Bora Bahia Minha Porra – um esquece de onde estava.
– Bahêa, porra – outro não se aguenta e cai de joelhos na grama.
Um amigo corre em direção ao pai da noiva e grita:
– Perdemos mas subimos – os dois se abraçam e pulam como se comemorando um gol, um título, o casamento feliz de uma filha.
– Porra, Porra, Porra, Bora Bahêa Minha Porra!
Alguns não entendem, uns poucos fecham a cara. Um abre os botões e estampa o uniforme tricolor por baixo da camisa social. Alguns ainda não acreditam e continuam tentando ouvir o radinho, até que começam a pipocar os primeiros foguetes.
Aviso: nunca marque um casamento em dia de “final”.
Mas, que belo final feliz!
(Chicossauro Rex)
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