Preso na Operação Lava Jato, o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB), recebeu propina até em euros, segundo depoimentos prestados nesta terça-feira (7), na Justiça Federal do Paraná.
De acordo com o Jornal Folha de São Paulo, o pagamento na moeda estrangeira foi feito uma única vez, com notas de 500 euros. Em depoimento, o ex-diretor-superintendente da Andrade Gutierrez no Rio de Janeiro, Alberto Quintaes, informou que o dinheiro foi entregue num envelope a Carlos Miranda, homem de confiança de Cabral.
“Eram poucas notas e um volume grande de reais”, disse o executivo, que foi uma das três testemunhas de acusação que depuseram na ação que corre no Paraná contra Cabral, acusado de ter recebido R$ 2,7 milhões em dinheiro pelo contrato de terraplanagem do Comperj, obra da Petrobras.
Os três são executivos da Andrade Gutierrez, delatores da Lava Jato -e reafirmaram que foi o próprio governador que pediu a propina, equivalente a 1% do valor total do contrato.
Cabral tratou do tema em reuniões no próprio Palácio da Guanabara, segundo Rogério Nora de Sá, que era presidente da construtora à época. Os pagamentos ocorreram em 2008, durante o primeiro mandato de Cabral. A maioria deles era em espécie, e todos eram entregues a Miranda, que também é réu na ação.
“Ele vinha buscar e saía daqui com uma mochila”, disse Quintaes. O pagamento em euros, especificamente, foi feito em São Paulo, e o dinheiro, retirado na sede da empreiteira.
Segundo os executivos, as propinas eram pagas, porque já “havia uma prática” no mercado e porque a empresa temia retaliações, em especial a de não receber pelas obras que tinha com o Estado do Rio.
De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal, os valores foram usados na compra de artigos de alto valor, como roupas de grife, móveis de luxo e blindagem de automóveis. O dinheiro pagou até vestidos de festa da ex-primeira-dama.
Defesa
Em solicitação à Justiça, a defesa do peemedebista argumentou que a denúncia não descreve suficientemente quais condutas teriam sido praticadas por Cabral, e questionou a parcialidade dos delatores para deporem como testemunhas. O periódico não conseguiu entrar em contato com o advogado de Sérgio Cabral na noite de ontem (7).
O ex-governador já declarou que as acusações contra si são “uma mentira absurda” feita para “salvar delações”, e negou qualquer tipo de envolvimento na cobrança de propina. A defesa de Carlos Miranda nega que seu cliente esteja envolvido em irregularidades.