Uma tentativa malsucedida de superar as dificuldades de maneira imediata. Esta é a definição de comportamento autodestrutivo, segundo a Sociedade Brasileira de Inteligência Emocional. É quando os maus hábitos viram um padrão enraizado na vida de uma pessoa, muitas vezes, de forma inconsciente.
Identificar e compreender esse tipo de comportamento pode ser a chave para perceber sinais importantes dados por pessoas que pensam em cometer suicídio.
De acordo com a psicóloga Karina Fukumitsu, especialista em prevenção de suicídio, uma pessoa não nasce com um comportamento autodestrutivo. Esta característica vai sendo construída à medida que um indivíduo vai acumulando frustrações e decepções com as outras pessoas e com as situações do dia-a-dia.
Karina explica que isso acontece porque a pessoa não consegue lidar com essas frustrações e decepções e acaba absorvendo esses sentimentos, não consegue extravasar ou administrar as situações.
“A gente vai desenvolvendo comportamentos autodestrutivos porque a gente reinveste essa energia em nós mesmos, enquanto devíamos reinvestir nas pessoas que nos machucam, nas situações que nos fazem mal”.
Este comportamento é típico de quem considera a possibilidade de acabar, destruir a própria vida. Enfrentar esse sentimento, para Karina Fukumitsu, significa buscar formas diferentes de resolver os problemas que se repetem.
“A autodestruição é repetitiva, ela fica monocromática, a gente fica muito tempo na escuridão. Infelizmente a gente se acostuma com aquilo que é ruim. Então o que nós precisamos fazer? O maior argumento contra o suicídio é a vida, dessa forma, eu entendo que o antídoto dos processos autodestrutivos são esses processos de inovação, esses processos de autodescoberta, de descobrir novas formas de lidar com as nossas adversidades, nossos problemas, nossas piores dificuldades”, afirma.
Percebendo os sinais
Quando uma pessoa decide tirar a própria vida, é comum que amigos e familiares se questionem sobre como a situação poderia ter sido evitada.
A psicóloga explica que, normalmente, a pessoa que pretende cometer o suicídio, dá sinais que nem sempre são percebidos.
Esses sinais estão relacionados a mudanças de comportamento. É comum que a pessoa se isole, tenha dificuldade de concentração, irritabilidade, sentimento de vingança, além de apresentar distúrbios do sono, preocupações, culpa e autocobrança por não ter conseguido responder às expectativas.
Também é comum que a pessoa repita algumas frases que deixam no ar a possibilidade de ela não estar mais ali nos próximos dias. Frases como “quero sumir”, “não consigo mais aguentar isso”, “estou cansado da vida, não quero continuar”.
Se colocar à disposição para conversar pode ser uma boa forma de ajudar um amigo que está enfrentando problemas.
A especialista explica que é preciso ajudar a pessoa a desenvolver o que ela chama de tolerância existencial:
“Apesar da escuridão, se eu tiver uma tolerância existencial, que é esta crença de que eu preciso me dar uma segunda chance, eu tenho como desenvolver uma descoberta de maneiras mais saudáveis, mais funcionais de eu viver a minha vida”.
A psicóloga destaca que é preciso entender que algumas vezes estes sinais não aparecem. O suicídio acontece sem um pedido de socorro ou uma manifestação clara de descontentamento com a vida.
“Muitas vezes o suicídio acontece e a pessoa não pediu ajuda, não pediu socorro e não tem como a gente adivinhar se a pessoa não pede ajuda. Então, a ideia é a gente entender que existem alguns suicídios que acontecem sim, por uma série de questões complexas que fazem com que a pessoa chegue ao esgotamento e decida pelo suicídio”.
Lidando com a culpa
Quando uma pessoa querida decide tirar a própria vida, é comum que a pessoa se questione sobre como poderia ter evitado e se culpe por não ter feito nada.
“O processo de culpa é inerente a qualquer processo de luto e nos casos de morte por suicídio, a culpa parece que vem com uma intensidade maior, é uma sensação de que a gente poderia mudar o desfecho da situação”, explica Karina.
De acordo com a psicóloga, essa culpa é o sentimento de que poderia ter sido possível lidar com a pessoa de forma diferente. Para superar esse sentimento, é preciso aceitar que a dor existe e entender que nem sempre é possível mudar o fim da história.
“Eu pergunto: se você soubesse que o desfecho seria o suicídio, você não teria feito tudo diferente? Então você precisa aprender a se perdoar e o perdão não é só na cabeça, é no racional também. É um perdão em que você precisa ter compaixão por você. Então, se você soubesse antes, se você tivesse uma bola de cristal, obviamente você escolheria diferente, mas você não teve escolha e, às vezes, a pessoa também não te deu outra escolha porque ela não pediu ajuda, então como é que você iria saber que você poderia ter feito tudo diferente?”
R7