O índice evidencia a necessidade de se discutir a saúde mental dos homens, que, tradicionalmente, são menos propensos a conversar sobre suas emoções.
Os dados da OMS apontam que a taxa de mortalidade por suicídio entre homens é de 12,6 para cada 100 mil, em comparação com 5,4 por cada 100 mil mulheres. “O fator que agrava ainda mais esse índice é que muitos homens não encaram a depressão como doença, o que impede a busca pelo tratamento adequado”, explica o Dr. Lúcio Botelho, diretor-médico da Clínica de Saúde Mental OMNI. Recentemente, o tema ganhou visibilidade internacional com o lutador inglês Paddy Pimblett, que utilizou uma disputa realizada em Londres, para homenagear seu amigo que havia cometido suicídio. Por meio de uma entrevista, o atleta fez um desabafo como sinal de alerta sobre a saúde mental dos homens.
Pimblett, que é cotado para ser o próximo astro do MMA, relatou que acordou numa madrugada e recebeu uma mensagem de sua casa dizendo que um de seus amigos havia se suicidado. Bastante emocionado, o lutador dedicou a vitória ao amigo e reforçou que os homens não podem ter vergonha de demonstrar seus sentimentos. “Existe um estigma neste mundo, de que os homens não podem reclamar. Escuta aqui, se você é um homem, está carregando muito peso nos ombros e você acha que a única solução é tirar sua própria vida, por favor, fale com alguém”, completou o atleta.
De acordo com o Dr. Lúcio Botelho, discutir a saúde mental dos homens é um tema que ainda encontra muita resistência na sociedade. “Os homens, além de tradicionalmente buscarem menos assistência médica preventiva, são menos propensos a conversar sobre suas emoções, angústias e ansiedades”, esclarece o especialista.
O fato de os homens não buscarem atendimento é um problema cultural. Mesmo enfrentando muitas cobranças relacionadas a emprego, carreira e estabilidade familiar, por exemplo, ainda há uma ideia de que eles devem se manter inabaláveis e não precisam entrar em contato com suas emoções. “Essa ideia de masculinidade, embora esteja sendo desconstruída, colabora para que os homens permaneçam silenciando seus sentimentos e frustrações, intensificando suas angústias. Um processo que resulta em problemas de saúde, psicológicos e comportamentais”, destaca o médico.
Por conta do silêncio, o diagnóstico pode se tornar tardio e prejudicar a convivência com a família, amigos e no trabalho. Assim, é importante ficar atento a alguns sinais como raiva, irritabilidade ou agressividade; alterações perceptíveis de humor, energia ou apetite; dificuldade para dormir ou dormir demais; inquietação e dificuldade de concentração; maior preocupação ou sentimento de estresse; maior necessidade de álcool ou drogas; tristeza ou desesperança; pessimismo exacerbado; dores de cabeça contínuas e problemas digestivos ou de dor.
O médico psiquiatra pontua ainda que nem sempre a pessoa que está passando por problemas psicológicos será a primeira a perceber ou a buscar ajuda. “É importante prestar atenção aos sinais em relação a si mesmo e às pessoas próximas. Como, em muitos casos, homens não aceitam buscar ajuda médica ou psicológica, o primeiro passo ao perceber algum sintoma é manter uma atitude realmente acolhedora e sem julgamentos, se mantendo aberto para conversar”.