No seu sítio de 14 hectares, Dona Nena recebe turistas com café da manhã tropical e mostra seu processo de extração e fabricação. Depois de colhidas, as sementes de cacau passam por cerca de uma semana de fermentação, são secas ao sol, torradas e descascadas. No final, são trituradas por um moedor e só: já está pronta a barra, que é enrolada rusticamente numa folha de cacau.
Aos fãs de doce, é bom avisar: esse chocolate 100% cacau é extremamente amargo. Conquistou, no entanto, chefs como Alex Atala (do D.O.M., em São Paulo) e Thiago Castanho (do Remanso do Bosque, em Belém), que usam o produto em seus restaurantes.
Para quem é “formiga”, Dona Nena vende brigadeiros em que o granulado é substituído por nibs de cacau tostado, além de doce de cupuaçu e bombons recheados (com castanhas e cupuaçu) e – tudo colhido na sua propriedade. De onde ela não sai nem por decreto: “Já morei em Belém, meu pai me colocou numa escola de lá quando eu era adolescente, mas não aguentei de abafamento e voltei para o Combu”, diz.
Em Belém, uma das grandes atrações é ver os barcos carregados de açaí das ilhas e florestas chegando ao Mercado Ver-o-Peso. Para flagrar a cena é preciso madrugar, pois as negociações são feitas a partir das 5h da manhã, quando a maior feira livre a céu aberto da América Latina ferve.
Para quem vive no Sudeste, porém, talvez a maior surpresa seja experimentar o açaí da mesma maneira que os paraenses consomem. Os moradores locais acham absurdo colocar granola ou banana no creme da fruta, já que lá ele é servido como complemento de uma refeição, acompanhando peixes, carnes ou frango.
Geralmente coloca-se um punhado de comida na boca e, por cima, uma colherada de açaí, misturado à farinha d’água e à tapioca de bolinha, típica do Pará. Muitos preferem adoçá-lo, pois o creme natural é tão amargo quanto o chocolate 100% cacau.
Um dos pontos altos da visita à Ilha do Combu é o almoço no Saldosa Maloca, restaurante cheio de sabor tropical logo na entrada na ilha, na “esquina” do igarapé principal. Não se incomode com a grafia equivocada, é assim mesmo: o moço responsável pela pintura da placa trocou o “u” pelo “l”, o que acabou virando marca registrada do lugar.
O importante mesmo é a farta oferta de peixes de rio do menu, como pescada amarela, filhote, pirarucu, camarões pescados na ilha. Sem esquecer do arroz de jambu, erva paraense que amortece a boca, para acompanhar. Quem quiser caprichar no sabor local pode pedir uma cumbuca de açaí com farinha e tapioca, cobrada à parte. Ou já pensar na sobremesa, provavelmente uma porção generosa de creme de cupuaçu colhido na ilha.
Para molhar a boca, boas opções são as caipirinhas de frutas regionais, como cacau, taperebá, cupuaçu e maracujá.
É aconselhável fazer reserva, especialmente nos finais de semana, quando a casa lota. Durante a semana, o Saldosa Maloca abre mediante reservas para grupos de, no mínimo, 15 pessoas. Informe-se pelo telefone (91) 99982-3396 ou pelo site www.saldosamaloca.com.br
Já se estiver na capital, um dos locais mais indicados para provar o açaí à moda é o Point do Açaí (R. Veiga Cabral, tel. 91 3225-4647, www.pointdoacai.net).
O poder da samaúma e um banho de rio
A samaúma é uma das árvores mais imponentes da floresta amazônica e costuma alcançar mais de 40m de altura (às vezes, chega a 65m). É considerada sagrada pelos nativos, que a chama de “árvore da vida” e também representa a imortalidade. Suas raízes (ou sapopembas) formam “esculturas” monumentais, que são usadas como abrigo pelos povos da floresta.
É possível apreciar a beleza e grandiosidade dessa árvore na Ilha do Combu, onde existem três exemplares bem próximos aos rios: um na propriedade da chocolateira Dona Nena e dois na trilha que fica atrás do restaurante Saldosa Maloca, um “quintal” bem cuidado e sinalizado, com placas indicando as espécies nativas.
Prefere ter contato com a energia das águas? Então saiba que a Ilha do Combu é um convite a um mergulho. Os veranistas que frequentam o Saldosa, por exemplo, costumas levar suas cervejinhas para pequenas balsas e lá ficar de papo. Porém, não arrisque longas braçadas rio adentro e conte sempre com os conselhos de uma pessoa local antes de se aventurar pelas águas dos igarapés ou do Rio Guamá.
Uma das mais bem posicionadas é a De Mendes (www.demendes.com.br), que fabrica muitas de suas barras com o cacau tipo jari, descoberto em 2014 às margens do rio de mesmo nome. Um dos grandes sucessos da De Mendes é a barra de chocolate feita com 47% de cacau e leite de búfala da Ilha de Marajó.
Outra empresa que começa a conquistar fãs em vários pontos do país é a Nayah (www.nayahamazon.com), que conta com uma linha de chocolates de origem (feitos com cacau de determinada região) e também faz barras de cupuaçu. Para os novidadeiros, é imprescindível provar a Castella: espécie de Nutella com castanha-do-pará. Feito pela marca Gaudens, o produto 100% natural já foi apelidado de “Nutella brasileira” e foi apresentado ao público durante o 4º Festival Internacional do Chocolate e Cacau da Amazônia, em Belém. A Castella foi criada pelo empresário Fábio Sicilia com licor de cacau, castanhas-do-pará, açúcar demerara e sal marinho. Pode ser encontrada na loja de vinhos anexa ao restaurante Famiglia Sicilia (www.famigliasicilia.com), em Belém, e em breve deve ser distribuída em outros estados.
COMO CHEGAR
É do Porto Princesa Isabel, no bairro da Condor, em Belém, que saem os barcos que rumam à Ilha do Combu. A passagem custa de R$ 5 a R$ 10*, previamente combinados com o barqueiro, dependendo do roteiro escolhido. Algumas empresas também fazem passeios guiados, como a Amazon Star (www.amazonstar.com.br) e a Estação Gabiraba (www.estacaogabiraba.com.br).
Mais informações:
Secretaria de Turismo do Estado do Pará: www.setur.pa.gov.br