Ginecologista, nutricionista e psicóloga destacam como o tratamento integrado pode ajudar mulheres com endometriose a restabelecerem a qualidade de vida
Doença crônica e inflamatória, a endometriose ocorre quando o endométrio – tecido que reveste o útero e é eliminado durante a menstruação – migra no sentido oposto e começa a se desenvolver fora do útero, causando inflamação em regiões como ovários, trompas, bexiga, intestino ou, em casos mais raros, em outros órgãos. Responsável por dores incapacitantes que comprometem profundamente a vida da mulher, a endometriose afeta sete milhões de brasileiras, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), sendo responsável pela metade dos casos de pacientes que não conseguem engravidar. A fim de conscientizar sobre a endometriose, a campanha Março Amarelo chama a atenção para a importância do diagnóstico precoce e da avaliação ginecológica periódica, elementos essenciais para evitar o agravamento da condição e melhorar a qualidade de vida das mulheres afetadas pela doença.
De acordo com a ginecologista da Clínica SiM Renata Bezerra Menezes, a doença causa cólicas menstruais intensas, dores durante as relações sexuais, dor e sangramento intestinais e urinários, além de infertilidade, mas também pode ser assintomática no início. “Por isso, o exame ginecológico clínico é o primeiro passo para o diagnóstico, que pode ser confirmado por exames laboratoriais e de imagem, como visualização das lesões por laparoscopia, ultrassom endovaginal, ressonância magnética, entre outros”.
Por se caracterizar como uma doença inflamatória, a endometriose necessita de alguns cuidados específicos, atendimento individualizado e multidisciplinar, destaca a ginecologista. “O tratamento mais frequente é o hormonal, suspendendo a menstruação através de anticoncepcionais como o DIU, a pílula, implantes e adesivos transdérmicos ou anéis vaginais. A opção cirúrgica é indicada quando há aumento dos focos após o bloqueio da menstruação, se a paciente não apresentou melhora da dor ou se deseja engravidar. Por isso é tão importante fazer uma avaliação global e entender como a doença afeta a vida dessa mulher”.
Tratamento integrado
Apesar de não ter cura, a endometriose pode ser controlada ao longo da vida com acompanhamento ginecológico e hábitos saudáveis, que são fundamentais para reduzir a inflamação e também prevenir a doença em mulheres saudáveis. Praticar atividade física pelo menos três vezes por semana, controlar o peso, regular o estresse e dormir bem são estratégias essenciais para enfrentar a endometriose, melhorar os sintomas dolorosos e ter uma vida plena e feliz, por isso, conduzir um tratamento multidisciplinar garante maiores chances de sucesso.
Alimentação
Outro cuidado decisivo no tratamento da doença está na alimentação equilibrada. A nutricionista da Clínica SiM Kamila Sales reforça que a alimentação tem um papel importantíssimo, tanto na manutenção da imunidade, como no controle do peso, já que o aumento de tecido adiposo produz excesso de hormônios femininos que agravam a doença. “Manter o intestino funcionando normalmente também é fundamental para a melhor absorção dos nutrientes e evitar a absorção de toxinas, muitas delas imunossupressoras”.
Segundo Kamila, existem alimentos que podem contribuir com a inflamação e também há aqueles que amenizam os sintomas produzidos por ela. “Então, incluir alimentos mais naturais e orgânicos, como frutas e vegetais; muitas fibras; cereais integrais; vitaminas e ômega 3, presente em peixes, linhaça e castanhas, são imprescindíveis para melhorar a disposição e o bem-estar. Já alimentos ricos em gordura, açúcares e carboidratos refinados, doces, produtos ultraprocessados e industrializados precisam ser evitados ao máximo, assim como o álcool, pois aumentam a inflamação e a dores da paciente”, explica.
Acompanhamento psicológico
Aliado ao acompanhamento ginecológico e nutricional, o acompanhamento psicológico é necessário para restabelecer a qualidade de vida da paciente, pois, diante da dor incapacitante e dificuldade em seguir com atividades cotidianas, como trabalhar, socializar e estudar, cerca de 60% das mulheres com endometriose tendem a desenvolver depressão e ansiedade. A psicóloga da Clínica SiM Juliana Cruz destaca a importância de adotar uma abordagem mais humanizada. “As pressões da doença incluem desde as cobranças dela mesma e da sociedade para exercer suas atividades, pouca compreensão e apoio das pessoas ao redor, dificuldade em ter relações sexuais, além de uma possível pressão para engravidar, quando há essa vontade. Enquanto tudo isso acontece, a paciente sente dores intensas continuamente. Então temos um ciclo de ansiedade e frustração que agrava os quadros de dores crônicas e precisa ser acompanhado psicologicamente”, afirma.