Desde abril, os bancos foram proibidos de rolar por mais de um mês consecutivo o saldo do rotativo do cartão de crédito. A medida, para evitar o endividamento e o efeíto “bola de neve”, mudou o cenário do comportamento das taxas de juros do mercado.
Pela nova regra, quem já está no rotativo do cartão de crédito não pode mais pagar menos que o valor da fatura. A opção é pagar à vista toda a dívida ou fazer o parcelamento com o banco, que tem a vantagem da taxa um pouco menor e parcelas fixas.
“Inicialmente é uma boa mudança [a regra que limita o uso do rotativo], pois evita o efeito bola de neve no endividamento, entretanto devemos lembrar que os juros continuam altos e utilizar desse mecanismos pode ficar mais caro que um empréstimo bancário, ou no melhor cenário a utilização do cartão com cautela”, disse Alexandre Miserani, Coordenador do curso de Administração da Faculdade Arnaldo, de Belo Horizonte (MG).
De acordo com a Abecs (Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito), um dos efeitos perceptíveis da mudança é a queda na taxa de juros. “A taxa média do rotativo já caiu mais de 60% desde a mudança na regra e, segundo dado mais atualizado da Abecs, chegou a 9,3% ao mês. Como [a mudança da regra] foi um movimento inédito no mercado, ainda é cedo para projetarmos em qual patamar as taxas devem se consolidar, mas certamente permanecerão na casa de um dígito, sendo a do parcelamento sempre menor que a do rotativo. A consolidação vai depender do comportamento do consumidor, de indicadores como a inadimplência e da estratégia comercial dos emissores”, disse Ricardo Vieira, diretor-executivo da Abecs.
Clientes
A novidade nas regras do rotativo trouxe, por outro lado, um pouco de dor de cabeça para os clientes. A enfermeira Amanda Paz tem dois cartões de crédito que ela só usa para compras pela internet. “O vencimento era no dia 8, tentei pagar pelo aplicativo do banco desde o dia 4, mas dizia que não era possível porque já estava no rotativo, o que não era. Liguei na central e me orientaram para fazer um pagamento eletrônico com código de barra. Também não funcionou. Só consegui pagar no dia 26. Na fatura seguinte veio um juros exorbitante. Voltei a reclamar e foi uma maratona até estornarem. Então decidi cancelar os cartões”, disse.
A analista de RH Mislene Leite teve problemas com a taxa de juros do parcelamento do cartão de crédito de uma loja. “Fiz o parcelamento do cartão e tentei antecipar o pagamento, tiraram quase nada de juros. Liguei para a ouvidoria, que refez a conta com um valor ok, porém, só responderam muito tempo depois. Quando a fatura nova chegou o valor era alto de novo. Não adiantou nada, somaram o valor passado pela ouvidoria e mais uma parcela”, disse a analista.
Dicas
O cartão de crédito é um aliado nas finanças domésticas, mas é preciso tomar muito cuidado, mesmo com a regra nova. “Quando começamos a não ter liquidez para pagar a fatura em sua totalidade e entramos no credito rotativo ou no parcelado do cartão que possui juros exorbitantes é um sinal de descontrole”, disse o professor Miserani.
“A melhor maneira de utilizar o cartão de crédito a seu favor, tornando-o um verdadeiro aliado é não extrapolar seu poder de pagamento. Outra forma é, desde que tenha disciplina, é utilizar o dinheiro que se pagaria pelas compras à vista, aplicando-o no mercado financeiro, e postergando o pagamento de suas compras para o vencimento da fatura do cartão”, comentou.
Inadimplência
A maioria dos clientes de cartão de crédito, cerca de 70,5% deles, paga a fatura no prazo e escapa dos juros. Entre as operações que têm incidência de juros, o rotativo tem diminuído e o parcelado, aumentado.
É um cenário que, segundo a Abecs, impacta também no índice de inadimplência. “Hoje, segundo dados do Banco Central, a inadimplência do cartão de crédito está em 7,4%, menor patamar em dois anos. A nova regra certamente contribui para essa queda, uma vez que as pessoas estão substituindo a dívida do rotativo por um financiamento com parcelas fixas e juros mais baixos, o que garante maior previsibilidade e organização financeira”, afirmou Ricardo Vieira, diretor-executivo da Abecs.
R7