Fazendo da celebração do Ano Novo o ritual de passagem do bastão para o que já está sendo chamado de Timbalada do Século XXI, o percussionista Carlinhos Brown traz à baila os novos cantores que passam a comandar o destino do grupo neste novo ciclo. Paula Sanffer, Buja Ferreira e Rafa Chagas foram apresentados ao público pelo Cacique do Candeal, que comandou o batuque timbaleiro na terceira noite do Festival Virada Salvador, na noite deste sábado (30).
A batida tribal de “Meia Lua Inteira”, sucesso de Caetano Veloso imposto por Brown, abriu a festa na Arena Daniela Mercury. Em formato econômico, com apenas cinco percussionistas no palco, a Timbalada trouxe à Orla da Boca do Rio um espetáculo regido pela harmonia, algo discrepante se comparado ao histórico percussivo da banda, embora condizente com a nova proposta harmônica incorporada paulatinamente no grupo.
“Já Sei Namorar”, sucesso dos Tribalistas – a face pop romântica de Brown -provocou uma febre de beijos na plateia. Com “Não Quero Dinheiro” (Tim Maia) e “Uma Brasileira” (Brown/Herbert Vianna), o Cacique levou ao palco da Arena Daniela Mercury seu lado intérprete, lembrando sua relação íntima com a MPB. Fizeram ainda parte do repertório “Tantinho”, cantando ao lado de Oscar Dominic, da República Dominicana, que participará do Carnaval com a Timbalada.
Profético, o funk “A Namorada” vem em seguida, levando o público ao êxtase, com sua ode à diversidade. Lançada em 1996, a canção marcou o início da exitosa carreira solo do artista. “Hoje eu me sinto feliz e realizado em perceber que não é mais escárnio alguém amar quem quiser. Hoje temos Pabllo Vittar, hoje o casamento homoafetivo é uma realidade. Você não precisa ser gay para ser contra a homofobia. Ajayo!”, disse Brown
Despedida
Depois de dedicar quatro décadas ao Carnaval da capital baiana, o cantor Carlinhos Brown afirmou neste sábado (30) que não participará mais da folia de rua na cidade a partir de 2019. A declaração aconteceu antes de o artista baiano subir no palco da Arena Daniela Mercury para o terceiro dia do Festival Virada Salvador.
“Acho que já colaborei bastante com o Carnaval de Salvador e preciso encontrar novas formas de fazê-lo. E a forma de fazer é se ausentar, porque quem não ‘larga o osso’ não encontra maneira de inovar”, disse o Cacique do Candeal. “O Carnaval tem muito a oferecer, a render e estou encontrando outras formas de fazê-lo. Realmente a rua já não passa mais pelo meu desejo. Posso fazer camarote”, acrescentou.
Brown, contudo, não descartou sair nos carnavais de rua em São Paulo, Recife, Rio de Janeiro ou no exterior. Para o futuro, o artista disse que planeja se dedicar mais à produção de canções e artistas. “Quero me colocar no lugar de produtor revolucionário. Todo mundo que sobe no palco da virada tem uma levada minha, um jeito. Criei instrumentos hoje que estão ajudando pessoas na comunidade, no funk, no pagode, no sertanejo” acrescentou.
Ao lado dos recém-chegados integrantes da Timbalada, Paula Sanffer, Rafa Chagas e Buja, e do dominicano Oscar Dominic, escolhido para assumir um dos projetos da nova fase da banda, Carlinhos Brown ainda falou sobre a importância da do grupo sempre ganhar novos ares. “A Timbalada precisa se renovar. Têm batidas, pessoas interessadas e grandes artistas colaboradores do movimento. Está na hora de fazer um grupo que venha com aquela noção de pegar compositores e grandes intérpretes, em vez de cantores que estão começando”.
Um dos meninos do grupo, o jovem Rafa Chagas comentou sobre sua primeira apresentação num grande evento da capital. “Participar do Festival Virada Salvador e ser um porta-voz da Timbalada no século 21 é uma honra para mim”, celebrou.
Foto: Evilânia Sena